Saturday, August 01, 2009

CONTOS DA RIBEIRA (2)

Sob esse título postarei, semanalmente, um pequeno conto ou historia baseados em fatos e acontecimentos supostamente passados, em diferentes épocas, na região da Ribeira. Alguma semelhança com fatos reais é simples coincidência.



MIMOS

Ela vem vindo devagar e sorrindo e já de longe percebe que ele também se encaminha ao seu encontro para, talvez abordá-la, falar, conversar. Vamos ver. Quando ele chega a uma distância apropriada para um diálogo ela sorri ainda mais. Ela o trata com extrema cortesia e o envolve em um véu diáfano de promessas e esperanças que o fazem admitir estar enlevado e que ela é aquele ser que o transporta para o maravilhoso mundo do amor (...).

continuação do texto/postagem

Ele vem desesperadamente procurando isso – o amor – por muito tempo e não acha. Agora ele tem certeza que essa menina, pois não tem mais de vinte anos, será a responsável por sua entrada nesse paraíso sempre procurado. Quando o sorriso de aproximação se transforma em eflúvios de palavras bem escolhidas pelos dois ele tem certeza que Edite, - é este o nome que ela se dá -, será a chave de sua felicidade. Após uma troca de conhecimentos ele convida a menina para um encontro; sorrindo um sorriso bem estudado ela lhe nega. Ele não se perturba e resolve voltar ao mesmo lugar amanhã, trazendo-lhe um mimo. No outro dia ao dar-lhe uma pequena barra de chocolate ela recusa sem justificativa maior do que um não quero. Ele insiste e ela, mostrando sua face teatral, põe a barrinha na bolsa. Conversam um pouco e ela diz que muitos outros moços, talvez pretendentes têm-lhe dado barrinhas de chocolate que ela recusa, pois não gosta de aceitar nada de ninguém. Ele não se perturba e promete voltar no dia seguinte o que faz trazendo, dessa vez, um livro, pois acredita que ela possa gostar de recebê-los; ele lhe dá um pequeno volume, bem fininho, com as primeiras histórias de Trancoso.

Ele viajou e a menina não lhe apareceu para dizer sequer uma palavra, nem um olhar distante, mas ele tinha-se encantado por Edite. Logo que chegou em casa recebeu uma ligação de número desconhecido e, ao atender, soube que era ela. Reclamava dele por não ter-se despedido e lhe dizia que se ele quisesse alguma coisa teria que ligar para ela todos os dias. E assim foi. Por longos dois meses os dois se falaram todo o santo dia. Até que ele voltou e lá encontrou a sua – já era sua! – ninfeta. Novamente ele levou um mimo para a menina, mas desta vez foi alguma coisa de valor bem maior: um colar de ouro! Edite esperneou e escoiceou dizendo que não queria que aquilo fosse parecer que ele estava querendo comprá-la e ela, como ele poderia ver, não estava à venda. Ele ficou arrasado, mas meia hora após essa explosão a menina colocou o colar no belo colo e, como ele planejara, a medalhinha de Nossa Senhora, caia tranquilamente entre os seus lindos seios (assim ele imaginou...). Ele ficou fascinado.

Nessa segunda viagem notou que muitos rapazes faziam a corte da menina e, ela, coquete, dava atenção a todos. Foi então que ele descobriu ser mais um no circo de admiradores de Edite. Até hoje ele não sabe por que imaginou perguntar a ela o que significavam seus olhares e atenção especial que ela lhe dirigiu nos primeiros dias de seu relacionamento. Sem nenhuma hesitação ela retrucou com um par de grosserias que lhe pareceram logo um par de coices e adiantando que era assim mesmo, se ele quisesse alguma coisa com ela tinha de ser do jeito que ela achava que tinha de ser; até os seus pais tinham esse tratamento equino que só ela sabia dar às pessoas. Aliás, só havia uma pessoa que merecia ser tratado de maneira diferente e esse era o Aderaldo. Ele recebia patadas, mas já estava acostumado e ficava tudo o feito pelo não feito ou o dito pelo não dito.

Ele baixou a cabeça e entrou no carro sem problemas – os chifres ainda não tinham aparecido – e foi embora.


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