Wednesday, September 30, 2009

HISTÓRIAS DE JORGE RAPOSO 24

“CABOCO SEM VERGOIM”


Muitas vezes Jorge admirava-se da capacidade que tinha de lembrar fatos acontecidos há decênios com ele ou com alguém na Cidade. Essas lembranças chegavam quando lhe acontecia algum fato que o remetia ao passado.

Certa vez quando de uma viagem de avião ele começou a se incomodar com os movimentos da senhora que estava sentada logo atrás dele. Toda vez que ela precisava levantar da cadeira ou mesmo mexer em alguma coisa na bolsa presa à dele, ela puxava o encosto com força. Ele se perturbava com isso e sentiu vontade de levantar e reclamar. Agora eram outros tempos e ele se conteve.

Isso lhe fez lembrar de seu tio Raimundinho, irmão de seu pai, que era um verdadeiro “caga-raiva”. Ele mesmo contava os seus feitos. Entre estes estava aquele do “caboco”, como dizia que roubava seu leite. Certo dia ele pôs um copo de leite quente para esfriar em cima do peitoril da janela que dava para a rua muito movimentada e muito suja. Quando, passado algum tempo, ele procurou o copo com leite que já devia estar frio, encontrou-o vazio; alguém tinha tomado o seu leite. No dia seguinte ele pôs novamente um copo com leite no mesmo lugar; aconteceu o mesmo e assim foi no próximo dia. Tio Raimundinho resolveu, sem dizer nada a ninguém, pregar uma peça no “caboco”. Foi na farmácia do Seu Horácio e comprou uma porção de sal-amargo que daria para purgar um cavalo. Voltando para casa dissolveu o purgativo no leite e pôs o copo no lugar de sempre. Não deu dez minutos e o leite desapareceu do copo. O “caboco” tomou o leite com o purgante. Daí a meia hora ele ouviu um zum-zum vindo da Praça do Mercado. Foi até lá e descobriu o bebedor de seu leite. O pobre “caboco” estava se desmanchando todo. Raimundinho deu um sorriso sarcástico e disse:

- Aguenta “caboco sem vergoim”!

Jorge gostava de recontar as histórias que seu pai havia lhe contado quando era jovem, fossem verdadeiras ou não, pois eram modelos do comportamento do povo da família de seu avô paterno. Eles tinham vindo de um lugar no pé da serra onde eram conhecidas suas tiradas irônicas, sarcásticas. Todos da família tinham essa mania da ironia. Possivelmente esse era um traço comum nas famílias locais que, na falta de como ocupar o tempo, divertiam-se “tirando sarro” de todos. Ele também gostava disso, mas algumas vezes tinha se arrependido dessas empreitadas.


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HISTORIETAS DO MEIO DA SEMANA 101

A MINHA COMADRE DEVE ESTAR MUITO TRISTE

Eles moravam na Vila da Serra, na saída para o Sítio São João, que todo mundo conhece. Como muitos na antiga povoação colonial eles liam jornais, revistas e ouviam rádio. Quando o Presidente foi eleito e sua fama, a de sua família e de sua linda esposa Jackeline, correu o mundo, eles ficaram vidrados, como todos. Eles eram membros de uma realeza. Dona Clotilde, a esposa, sabia tudo sobre a Família, muito mais do que o marido. Quando, no começo de 62, ela deu à luz a uma criança decidiram, após muito pouco debate, dar para padrinhos do garoto, o casal imperial. Não tiveram dificuldade em escrever-lhes, comunicando a escolha e, lógico, pedindo o comparecimento ao batizado, que seria realizado na Igreja Matriz, velha de alguns séculos. Esperaram algum tempo pela resposta e esta chegou. Chegou na forma de uma carta do Cônsul no Recife em que ele dizia que o presidente e sua esposa agradeciam a honra de serem padrinhos do menino, mas também expondo as dificuldades que o casal teria de comparecer ao batizado. Eles deveriam relevar o fato e, acrescentou o Cônsul, aceitar a sugestão de que o Presidente e sua mulher se consideravam padrinho e madrinha do garoto. Apesar da frustração inicial eles logo se acostumaram com a ideia de não ter o casal real na cerimônia. Após o batismo eles passaram a nomeá-los como compadres. Quando, no trágico 22 de novembro de 1962, uma vizinha veio dizer à mãe do garoto o que havia acontecido em Dallas – que o Presidente havia sido assassinado, ela lamentou e após ter chorado muito disse:
- Cuma num tará a cumade Raqueline!...


Veja os créditos da foto:

Associated Press Photo
President John F. Kennedy and his wife Jacqueline Kennedy were in Dallas on Nov. 22, 1963 during a tour of five Texas cities when the president was shot by gunman Lee Harvey Oswald. Mr. and Mrs. Kennedy are pictured after landing at Dallas Love Field.

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Monday, September 28, 2009

HISTÓRIAS DAS TERÇAS 72


BRIDE FROUXO

Ele gostava de falar em público, de fazer conferências e palestras sobre sua especialidade. Certa ocasião ele estava dando uma palestra no Centro das Indústrias sobre um importante tema. Após ser interrompido por diversas vezes, pois não estava se fazendo entender, ele esclareceu à platéia que certamente estava com a dicção prejudicada por que estava com seu bride frouxo.

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Sunday, September 27, 2009

HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 142


MOFO NOS DÓLARES


Ele era um jovem professor cujo pai, importante figura no comércio da cidade, passou aos filhos a idéia do trabalho árduo para vencer na vida. Foi o único dos filhos a ter um diploma universitário. Por conta disso ele passou uma boa temporada nos Estados Unidos e de lá trouxe uma pequena fortuna em dólares. Ele era muito apegado ao seu dinheiro. Guardava em casa seus muitos milhares de dólares, cédulas de US$ 100. De vez em quando ele se deliciava, aos sábados à tarde, tirando, com uma flanela apropriada, o mofo de suas verdes cédulas.

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CONTOS DA RIBEIRA 10


DRPMTV E VXQRS

Drpmtv estava pensando em como adorava vê-la galopar pelo pasto e, depois, como que ruminar à sombra do juazeiro, mastigando a graminha verde e saborosa que havia comido fazia pouco tempo. Ele também gostava de vê-la a dar coices, leves seja dito, em Vxq, sua mãe. Nesse dia ele chegou em frente da bodeguinha e falou:
- Boa tarde! A expressão lhe saiu animada, como sempre e como sempre ele esperou o troco escandido, sem sentido e grosseiro, quando não um coice:
- Eu já lhe disse que não entrasse mais aqui! Eu lhe proíbo!
- Mas porque Vxqrs?
- Eu não quero! Sua conversa me chateia e atrapalha meu serviço, você não vê?
- Não, não vejo. O que eu vejo é uma insistência boba de minha parte em falar com você e uma falta de compreensão de sua parte, nem que seja sua compreensão equina. Eu não quero lhe agarrar, ou bolinar – o que é a mesma coisa, e seria bom, não? -, o que quero é ser seu amigo. Mas, você põe uma enorme barreira nisso que até parece um circuito de hipismo. Eu acho que você deve me odiar, mas não tem coragem de colocar estricnina no meu mugunzá, aliás, não pode ser refrigerante, pois nem isso você aceita tomar comigo.
- Ô conversa boba, Drpmtv! Eu já lhe disse que te adoro, mas não precisa me dar nada para me agradar porque eu não quero aceitar e não quero ser agradada, eu quero ser tratada aos coices, como eu próprio faço; este é o jeito e a maneira de Vxqrs. Só aceito e olhe lá, chocolate doce ou amargo em latinhas bem bonitinhas...
- Vou morrer e não entendo você e sua confusão existencial que me contamina e para a qual eu, propriamente, não tenho remédio, mas...
- É! Minha tia Vxq2 diz a mesma coisa e eu não estou nem aí!
- Verdade?
- Pois é, vá embora, eu não quero mais conversa com você! Vá logo para outro pasto!
- Ganhou!

31mar09



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Thursday, September 24, 2009

Aforismos do velho Inaço


Namoro de velho é com a rede.

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TESOURO ANGLO-SAXÃO


ENCONTRADO O MAIOR TESOURO ANGLO-SAXÃO DA GRÃ-BRETANHA

Um inglês que caçava objetos antigos no campo usando um detector de metais encontrou a maior coleção de ouro anglo-saxão já descoberta na Grã-Bretanha. Veja no site do G1.

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O Povo da Malhadinha/O Povo da Granja 91


O MATADOR

(Uma historinha da Malhadinha, contada pelo Napoleãozinho)

O Ririato quando vei aqui prá Maiadinha casou-se ai com a Catita. Ele era lá do “Oi dágua do Retiro”; aí tinha um roçado muito grande lá; aí ele foi oiá lá o legume chegou lá, a formiga de roça tava liquidando o legume. Ele deu um gemidão pra trás como maiadinha: Uuummmm! Aí roltô. Chegô em casa mandou matá um bode, mandou assa e guiza, botô queijo e rapadura, eu sei qui os alforge ele encheu e tudo e aí ele arranjou um jogo de peia pá pear o animal uma burra dele e aí diche pá muié, diabo eu vô uma riage acolá e num sei quando volto não sei é quatro dia ou cinco, uma semana e foi; chegô lá tirou a sela da burra (ou burro), peô e sentô-se na,na, perto da cerca na, na, onde a formiga passava, o camin, com duas pedras. Aí toda formiga que vinha de passage ele matava: pá, pá, pá. Eu sei que com uma semana num apareceu mais nenhuma e ele diche: Quero vê agora onde é qui seis vão comê roça de home, mais!


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Tuesday, September 22, 2009

HISTORIETAS DO MEIO DA SEMANA 100

UÍSQUE DO BOM

Ele lutou bastante para fazer um pós-doque na Escócia. Demorou por lá uns poucos meses e, como é de praxe, voltou um especialista na bebida nacional dos escoceses. Afirmava conhecer todos os uísques fossem os “blended” fossem os “malt whisky” e contava suas experiências durante os inúmeros “whisky tours” de que tinha participado. Com toda esta história ele foi convidado para uma festinha em casa de um colega de repartição. Eram conhecidas estas festas, pois era boca livre com comida e bebida fartas e de ótima qualidade. Além disso, sempre compareciam muitas garotas e sempre havia danças e brincadeiras que terminavam pela manhã, quando muitas vezes, ainda serviam-se café e pão quentinho. Nessa festa em que nosso pós-doque compareceu o anfitrião, como tinha ganhado uma cachaça da Serra, de ótima qualidade, mas cachaça, assim mesmo, resolveu colocar uns dois litros dela em uma bela garrafa vazia de Dimple e deixá-la sobre a mesa junto com as outras bebidas quentes. Altas horas e após ter degustado longamente o líquido contido na bela garrafa, ele aproxima-se do anfitrião e sentenciou:


- Que uisque bom é mesmo este Dimple, hein?!


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Monday, September 21, 2009

HISTÓRIAS DAS TERÇAS 71


AMIGO DO HOMEM

Dr. Fritz era muito conhecido na sua área de especialização, pois havia publicado diversos trabalhos originais e muitas revisões. Trabalhava em uma instituição próxima a Colônia, cidade em que morava. Apesar de sua reputação ele nunca havia viajado além das fronteiras de seu país. Quando convidado a visitar o laboratório do colega brasileiro ele declinou imediatamente. Intrigado o colega quis saber a razão de uma recusa tão peremptória. Ficou assustado, pois poderia ser algum preconceito com o país ou com ele próprio, talvez sua ciência não agradasse ao germano. Dr. Fritz foi também rápido em esclarecer. Ele disse que não poderia viajar, pois sua esposa tinha medo de avião e, além do mais, o cão do casal não permitia que eles deixassem Colônia.


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Sunday, September 20, 2009

HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 141


APOSENTADORIA

O professor de Fisiologia já tinha, como dizem por ai, “uma certa” idade. Ele nunca tinha podido fazer doutorado e nem mesmo o mestrado esteve a seu alcance por muitos anos. Quando surgiu a oportunidade de participar de um programa de pós-graduação para docentes ele aproveitou. Passou três anos em um mestrado e logo depois iniciou um programa de doutorado. Nesse, ele passou cinco anos, o que não foi muito. Sua defesa de tese foi muito concorrida, pois ele era muito querido por todos os colegas. Após exatos dois meses foi-lhe concedida aposentadoria por tempo de serviço – com o incentivo de doutorado - que ele havia requerido um dia após a defesa.


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Peixe desconhecido foi capturado na Bahia


Na Bahia, pesquisadores capturaram peixe desconhecido. O animal tem 1,83 m e seu corpo não tem pele nem escamas. Ele estava a cerca de mil metros de profundidade quando foi capturado. Veja matéria publicada no G1 de 18/9/2009.

Veja no site do G1

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Saturday, September 19, 2009

CONTOS DA RIBEIRA 9


A BOTIJA DO CORONEL

A botija estava enterrada onde fora uma aldeia indígena bem abaixo do atual nível do terreno, no centro da cidade. Sabe-se que esta foi, inicialmente, edificada em uma baixada além das pequenas elevações que acompanham as curvas do rio em sua vizinhança. Muitos dos casarões da cidade, por terem sido construídos com materiais de péssima qualidade, eram demolidos muito antes de serem centenários e por cima de seus escombros construíam-se outros mais modernos, seguindo os modelos e as modas trazidos da França e da Inglaterra. O Casarão não era exceção, pois foi construído, no fim do século XVIII, sobre os restos da casa do Coronel Jonas Carvalho da Silva, cristão novo que, acredite-se, ficou pobre ao negociar com papéis do Império Russo (?) que perderam seu valor. (...)


Essa era uma lenda difundida por seus herdeiros, mas na qual pouca gente na cidade acreditava. A lenda na qual todos acreditavam era a que dizia ter o Coronel Carvalho da Silva enterrado um grande tesouro no principal quarto do Casarão, a sua própria alcova, numa escavação que atingira o nível da aldeia indígena antes habitada por índios Tabajaras. Pobres dos índios, pois nunca acreditariam que sua aldeia miserável e pobre fosse um dia a depositária de uma tamanha riqueza como, muito mais tarde, foi constatado.

Quando o Coronel Carvalho da Silva chegou à Ribeira há muito a aldeia havia desaparecido e os índios remanescentes tinham sido aculturados. Muitos de seus descendentes ainda vagavam pela região praticamente sem nenhuma ocupação fixa, mas emprestando seus braços e corpos aos colonizadores. As jovens índias eram as preferidas para esses misteres mesmo por que seus pais, irmãos, maridos e filhos estavam sendo sistematicamente exterminados por obra das políticas de povoamento. As mulheres passaram a servir aos senhores e seus vassalos como matrizes, uma vez que as patrícias raramente os acompanhavam na grande travessia.

O Coronel não quis formar uma primeira família com uma companheira “branca e de olhos azuis”, pois teria de mandar buscar uma esposa na terrinha e isto custava caro. Ele preferiu esperar enriquecer para fazer isso, mas antes passou a viver “portas adentro” com a filha de Dona Zózima, neta de puros Tabajaras. O pai de Dona Zózima era um francês, engenheiro de minas contratado pelo Governo Provincial para investigar o potencial aurífero da região. Ele não encontrou qualquer depósito comercialmente importante, mas ficou rico com a prata e o ouro encontrados e bem ocultos por ele por longos anos.

Quando o engenheiro desapareceu deixou para sua filha uma grande fortuna em dobrões, ouro em pó e prata; essa fortuna somou-se à que o Coronel vinha amealhando há muito tempo com seu comércio de tal sorte que em pouco tempo o casal e seus filhos não tinham como gastar nem uma pequena fração dela. O Coronel não fez nada diferente do que muitos dos seus colegas abastados: enterrou sua fortuna e em um local muito particular, sua alcova.

Após muitos anos seus descendentes haviam esquecido do que era fato, pois não havia como é natural, nenhum registro escrito. Seja por medo de assalto, dentro e fora da família, seja por medo do fisco que apreciaria taxar seu precioso ouro, o Coronel nunca havia contado a ninguém da existência de seu tesouro. A existência dessa imensa riqueza caiu em completo esquecimento e, pouco a pouco, transformou-se em lenda. Todo mundo dizia, muitos anos depois, ter sonhado com essa botija e ter vontade de desenterrá-la.

Ainda quando o Estado Novo dava as ordens e desordens, um dos descendentes diretos do Coronel achou que deveria tirar a limpo essa história da botija de seu antepassado. O Casarão ainda era o mesmo apesar de ter passado por muitas modificações, mas a planta baixa fora mantida ao longo dos muitos anos que decorreram desde a morte do Coronel, até sua utilização como Museu da Cidade. A administração deste estava a cargo de uma das descendentes do Coronel e filha do Prefeito, o atual interessado na botija. A menina, apesar de constrangida, deu a ordem para se fechar a sala que correspondia à antiga camarinha do Casarão e permitiu ao pai a escavação, mas sob certas condições: deveria ser feita à noite, a retirada dos materiais deveria ser feita exclusivamente nesse período e somente até bem antes da alvorada e mais, nenhum fundo público deveria ser utilizado para seu financiamento. O pai da moça concordou, apesar de relutar quanto a esse último item, e passou a contratar pessoal para fazer o serviço, sob juramento de silêncio. Ele procurou o Tutu em seu negócio no Bairro de São Francisco e, além do proprietário, amigo de longas datas, contratou os serviços do Seu Zé, do João de Ferro e do Neguim do Zé Borba. Os braços e pernas desses quatro seriam mais do que suficientes para o serviço.

O grupo entrava pelo quintal lá atrás, pelo portão da antiga vacaria, lá pelas 9 horas da noite e munidos de picaretas, pás, carrinhos e sacos para colocar o entulho retirado e uma garrafa de cachaça iniciavam a escavação. O Prefeito ficava em pé, fumando seu cachimbo cheiroso, tomando conta do serviço e avaliando o que faria se tudo desse certo.

Dar certo significando, lógico, a descoberta do ouro do Coronel. Após somente duas noites de escavação o Neguim do Zé Borba bate com sua picareta em alguma coisa de madeira e daí em diante foi só alvoroço. Ainda era de madrugada quando o Prefeito abriu com um golpe de picareta o fecho de uma velha arca feita de taboas grossas de aroeira. Quando este levanta a tampa da arca viu, sem muita surpresa, uma quantidade enorme de dobrões de ouro soltos ao lado de sacos de lona grossa contendo ouro em pó e pepitas além de uma considerável quantidade de dobrões de prata.

Todos ficaram excitados e os escavadores se agitavam na perspectiva de receberem um belo pagamento além daquele devido às noites empregadas no serviço. O Prefeito avisou que teria de fazer a contagem do butim e só então faria a distribuição do pagamento. Para isso ele combinou reunir-se com o grupo na bodega do Tutu no próximo sábado. Nesse dia ele apareceu com uma papelada que correspondia a ordens de saques em dinheiro para cada um dos companheiros e que só podia ser sacado se empregado na aquisição de casas próprias no Bairro do Alto construídas por seu genro. Além desse pagamento ele distribuiu 10 dobrões de ouro para cada um deles. Todos firmaram um compromisso de honra em que afirmavam não deixar o segredo da botija do Coronel Carvalho da Silva. O resto do tesouro, naturalmente, ficou com o Prefeito.

Após esses fatos, passados durante a festa de Santo Antônio, o Prefeito tirou licença da Prefeitura e viajou para a Itália onde passou mais de um mês com sua amiguinha gerente da loja de artigos femininos da cidade. Sua mulher não deu nenhuma importância, pois ela continuou a se divertir como sempre. Quando voltou de viagem o Prefeito se candidatou a deputado federal e foi eleito nas eleições realizadas logo depois da queda de Getúlio Vargas. Sua carreira política tem sido de sucesso desde então e ele ocupa atualmente uma Senatoria em Brasília.

Todo mundo na cidade desconfia que ele ficou rico com a botija do Coronel, mas ninguém pode provar. Também ninguém tem nada a ver com isso.



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POEMAS BARRETO/XAVIER 89


Lívio Barreto é o autor deste poema.

NÁUFRAFO!

(Naufrágio do vapor “Alcântara”)

(Poema de tons românticos, figurou em O Pão n. 1, de 10/7/1892, assinado com o nome de guerra de Lívio Barreto, Lucas Bizarro. Viajando para Granja, o vapor “Alcântara”. em que viajava o Poeta, naufragou na noite de 27/6/1892. perto de Periquara, salvando-se Lívio Barreto a nada. Conta-se, a propósito, que o Poeta fora recolhido por um barco, mas vendo um velho que se aproximava entre as ondas, buscando socorro, e percebendo que a embarcação não suportaria o peso de mais um, lançou-se à escuridão das águas, arriscando-se a perecer, não obstante ser exímio nadador. Este episódio foi relatado pelo poeta Gastão Justa, em seu discurso de posse na Academia Cearense de Letras, em 1952, e foi-nos confirmado por uma sobrinha de Lívio Barreto, Líbia Xavier, sendo fato conhecido entre seus parentes.) Nota de pé por Sânzio de Azevedo na 2ª. Edição de “Dolentes”, Secretaria de Cultura do Ceará, 1970.


Eis-me náufrago e só, na vastidão
Da praia desolada,
Aonde o mar – indômito leão –
Esmaga a onda fria e angustiada.

Eis-me náufrago e só! Áspero e frio
Corta-me o vento os ombros
E o firmamento triste, ermo e sombrio
Tem a mudez inerte dos assombros.

Eis-me náufrago e só! Como um lamento
Que sai da escuridão de subterrâneo,
Vem-me nas asas trêmulas do vento
O grito surdo, fúnebre, titâneo,
Que o mar solta do peito truculento
E a alma nos corta, agudo e subitâneo,
Como uma flecha o azul do firmamento!

Eis-me náufrago e só! A alma inda presa,
Tonta de luta, trêmula,
De angústia chora, se ajoelha e reza!
E a onda – alma do mar – da nossa êmula,
Vemo-la forte a rugitar e vemo-la
Morrer na praia onde o silêncio pesa.

Eis-me náufrago e só! Triste, cansado,
Meditativo, absorto!
Meu coração no peito angustiado
Precisa de carinho e de conforto.

Eis-me náufrago e só! A ave que passa
Riscando o azul puríssimo do céu
E sente as asas súbito quebradas
Pela bala certeira da desgraça
Talvez não sinta tanto como eu!

Eis-me náufrago e só! Oh! Minha irmã,
Meu derradeiro altar imaculado!
Choro por ti à luz desta manhã;
E o pranto quente, doloroso, brando,
É o amor que da alma me rebenta, quando
O coração estorce-se magoado!

Oh! Minha Mãe! Que sofrimento infindo,
Quanta angústia cruel, pesar e dó,
Sinto ao saber que tu me esperas rindo,
Sem pressentir que estive sucumbindo!...
...............................Eis-me náufrago e só!

- Praia da Periquara,29 de junho de 92.


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Friday, September 18, 2009

VISTAS DA GRANJA 110


AQUITEVEAQUIFOIAQUIERA

O progresso chegou à Granja por esse prédio em 1929. Você sabe o que funcionava aí nessa época?


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Thursday, September 17, 2009

O Povo da Malhadinha/O Povo da Granja 90


O COQUEIRO DO ANTONIO JORGE

O compadre Antônio Jorge tinha o maior ciúme dos seus coqueiros.
Muitos dos moleques da vizinhança não respeitavam esse ciúme de tal sorte que subiam nos coqueiros para tirar seus cocos e ele não gostava, ficava zangado por demais. Certa ocasião ele contou o plano que tinha para quando o moleque Ricardo ou outro qualquer tivesse subindo no coqueiro: “-Eu pego meu machado Collin e vou cortando o pé do coqueiro e quando ele começar a vergar e a cair eu digo, acumpanha marvado...”


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Tuesday, September 15, 2009

HISTORIETAS DO MEIO DA SEMANA 100

MUITO DINHEIRO

Senhor,

Esta será, certamente, surpresa para o Senhor. Aceite minhas desculpas antecipadas, pois compreenderá o alcance da mesma. Sou Taofeesi Sicombi, filho do líder maldiano Jones Sicombi, morto em 2008. Ele deixou uma fortuna em muitos lugares na Europa. Após sua morte a família foi proibida de viajar ao exterior e agora o Governo quer confiscar todos esses valores. Alegam que o dinheiro de meu pai - fortuna avaliada em US$ 1 bilhão - é resultado do contrabando de armas. Eu, muito ligado a ele, tenho em meu poder documentos e informações a respeito. Há cerca de cinqüenta milhões de dólares em dinheiro e materiais preciosos. Minha querida mãe é a única pessoa que sabe dessa informação. Antes de ter acesso a esses valores eu tenho de lhe fornecer documentos necessários: a senha para o cofre e autorização do advogado para abri-lo. Eu peço que o Senhor viaje a Amsterdã para receber este dinheiro e transferir pequenas parcelas para sua conta antes que o governo tenha idéia de onde eles estão. Meu pai era um rebelde e a razão pela qual estou fazendo isso é porque se tornará difícil para o governo maldiano associar o dinheiro de meu pai a uma conta de alguém que não é nosso parente. Pretendo comunicar-me com o Senhor via Internet e telefone, mas meu acesso a essas facilidades é muito restrito, atualmente. Além do mais, o clima político no país neste momento, é instável. Após ter recebido a senha e a informação sobre a autorização ao advogado, e quando o Senhor estiver pronto, eu lhe darei as informações necessárias para ter acesso aos 2 kg de ouro AU, 85 g de diamantes e dinheiro vivo (US$ 50 milhões de dólares americanos). O Senhor procederá então para ir à Europa coletar essa fortuna.

Por favor, guarde segredo sobre esta transação.
Aguardo sua resposta.
Sinceramente
Taofeesi Sicombi


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COBRA COM PERNA


Chinesa leva susto ao encontrar cobra com uma perna dentro de seu quarto

Veja esta notícia dada hoje pelo site chinês SCOL.com.cn e reproduzida por muitos outros ao redor do mundo, inclusive o G1: Duan Qiongxiu de 66 anos da cidade chinesa de Suining encontrou em seu quarto uma cobra com uma perna. Ela entregou o animal ao Departamento de Ciências Biológicas da Universidade de Nanchong para estudo.


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Monday, September 14, 2009

HISTÓRIAS DAS TERÇAS 70


PARENTE REITOR

Aproximava-se a época da escolha de um novo Reitor. Como sempre as alianças entre diretores e promessas de cargos dominavam as démarches entre os diversos grupos. Um dos diretores tinha, aparentemente, grande chance. Sua esposa dizia, entretanto, que dificilmente seu marido, parente próximo do Governador, seria Reitor, pois seria demais que as duas maiores autoridades do Estado fossem parentes!

continuação do texto/postagem O texto está completo.


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Sunday, September 13, 2009

HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 141


ESQUECIMENTO

Metade dos colegas dizia que eles tinham um caso e a outra metade tinha certeza. Certa vez Ricardo teve de agir com energia para estancar um boato mais picante. O fato é que nunca chegaram a trocar sequer um beijo. Após meses de assédio, tendo ele se submetido a todos os caprichos dela, surgiu o esperado momento. Combinam que ela iria visitá-lo em seu apartamento. Ele marcou para as três horas da tarde. Quando, às dez da noite ela não apareceu, ele procurou-a entre os amigos:

- É, esqueci.


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Saturday, September 12, 2009

CONTOS DA RIBEIRA 8


A CASINHA

Comprar peixe na Prainha era algo que ele fazia com prazer, gostava muito e nessa manhã tomou seu carro e saiu para lá. Era por atitudes como essa que se dizia ser ele rico, imaginem viajar cinqüenta quilômetros só para comprar peixe... Mas ele tinha outras razões, pois além de comprar peixe ele queria ver a praia, sentar em um daqueles bancos da Beira Mar, só para espairecer, pois estava com a cabeça em burburinho – será que era a falta do remédio? Ele havia esquecido o frasco de Tropital em casa, na capital e, pior, não tinha receita para comprar um novo vidro na Prainha, mesmo se o encontrasse em alguma farmácia. (...)


continuação do texto/postagem


Ele tinha alguns motivos para querer sair da Várzea. Ele queria esquecer do caso daquela senhora que o incomodava na Capital e que lhe telefonava quase todos os dias. Ainda agora, ontem mesmo, ela havia ligado para contar que o marido, um engenheiro de certo renome, havia jogado o carro com todos, inclusive ela, num barranco da estrada quando iam para Beberibe. Ela pedia socorro a ele, pois achava que o Otávio pretendia deixá-la e ela não queria que isso acontecesse. Ele se perguntava o que ele tinha a ver com essa história. Havia outro motivo também: ele estava cansado de esperar pela Dama e decidiu, então que precisava pensar mais nesse caso. Foi para a Prainha e nem comprou peixe, mas almoçou uma peixada, regada a cerveja no restaurante do João da Mata e depois ficou rodando sozinho na cidade sem destino. Ele não tirava o pensamento da menina – quantos anos ela tinha mesmo? Tão criança e já trabalhava; tinha sido assim com ele no começo de sua vida. Aliás, tinha de ser assim com quem queria ser alguém na vida. Só que no seu caso ele havia trabalhado em um Armazém de gêneros de seu Tio desde os quinze anos. O velho explorava crianças carentes. Ele não podia ser classificado como tal, mas que precisava do emprego era certo. O armazém não era exatamente de seu Tio, ele era somente o gerente. Como era costume, antigamente, as pessoas precisavam ter um parente com certa influência para conseguir uma colocação, um emprego. Esse seu parente por sua vez, quando mais jovem, tinha sido colocado por um parente distante, mas bondoso, quase dono do Armazém. O que é certo é que ele começou a ganhar algum dinheirinho sendo sua função atender a freguesia no balcão e por isso os colegas do colégio o apelidaram de “O Bodegueiro”. O negócio era pequeno, uma bodega para os invejosos como os colegas e sua madrinha, a que ficou na Várzea, mas tinha muitos clientes e de toda versidade. Tinha um capitalista, só podia ser um, pois trajava branco, – linho S120 brilhoso -, fumava charutos cubanos caros, de antes da era Castro, e usava um chapéu Panamá quando ninguém mais os usava. O Sr. Santino chegou a dono de banco, e foi então que eles se entenderam melhor. Apesar de sua fama de mulherengo, ele não era do tipo que a maioria das pessoas chama de “velho enxerido”, mas não saia da “Oitenta” e tinha um cheiro de velho que mal disfarçava com porções fartas de “Leite de Colônia do Dr. Studart”... Certo dia o Sr. Santino o chamou para trabalhar com ele no seu Banco, instalado em um prédio acanhado na Praça dos Leões, ao lado da Igreja do Rosário. “O Bancário” só não chegou a ser gerente porque pediu as contas ao fim de cinco anos de trabalho, pois resolveu estudar seriamente, queria ser alguém na vida, talvez um cientista, se tudo desse certo. Como o seu dinheiro era curto para isso, ele teve de pedir ajuda ao pai que passava por rico, mas não era só alguns da família sabiam e ele não era desses; o velho fazia tudo o que seu único filho queria. Ele guardava boa parte do salário do Banco como economia para o futuro, mas estas mal deram para sapatos decentes, quando precisou. Conseguiu convencer o velho e no final seu Pai o enviou para São Paulo onde estudou por muitos anos, formou-se, fez concurso para a USP – ele era Físico. Ninguém na Várzea sabia o que era isso, ou melhor, o que ele fazia, melhor ainda se ele existia. O casamento do “Físico” – há muito tempo que não o chamavam de “Bodegueiro” ou “Bancário”- com uma jovem paulistana resultou de sua amizade com seu professor e orientador Dr. Manuel Vargas, um verdadeiro polígrafo, reconhecido internacionalmente. Ele casou com a filha do Dr. Vargas e o casal teve dois filhos criados pela esposa, neta de suíços, por parte da mãe. No âmbito familiar ele só cumpria suas obrigações matrimoniais e olhem lá! Ele só se preocupava em cuidar de sua profissão: pesquisa e aula, aula e pesquisa. Era sócio de muitas sociedades de Física e foi eleito para diversas academias e recebeu láureas importantes... Passaram-se os anos, ele aposentou-se e não quis mais trabalhar na Universidade ou mesmo em Física, a princípio muito querida; exercer sua profissão começou a entediar-lhe como um prenúncio de coisa pior. Daí encasquetou de abandonar tudo, família, profissão e voltar para sua terra, mas para fazer o que? O resultado de muito pensar e de causar muito desgosto em casa e no trabalho, foi sua associação com um amigo de infância em uma iniciativa para cuidar de crianças abandonadas da Várzea, ora ele que nunca cuidou de seus próprios filhos! “O varzeano de amanhã”, era esse o nome da instituição que não tinha registro, nem CPF, nem CNPJ, e funcionava em uma sala acanhada na antiga casa dos pais desse seu amigo e da qual ele era o chefe. A instituição, pois era uma verdadeira na cidade, tornou-se popular e era conhecida como OVA. De qualquer modo os dois amigos, no começo da nova atividade, tinham muito dinheiro para tocar a OVA; muito desse dinheiro era de doações de seus dois filhos que moravam nos Estados Unidos, professores de universidades importantes, acho que de Yale ou do MIT. Agora, entretanto, estava tudo despencando, pois ele vez por outra adoecia de uma doença que era como que uma praga na sua família. Seu pai, seu avô, seu bisavô e até o padre judeu novo que deu início à família, todos foram afetados por ela. Todos esses aí morreram da tal doença, dela não, mas de fome, pois não comiam. Era por isso que ele gostava e se obrigava a comer. Todos diziam que não tinha nada a ver uma coisa com a outra, mas o resultado é que ele sempre tinha sobrepeso, era gordinho. Fazia regime, mas não adiantava muito. Ele adorava comidas que engordavam, mas havia duas coisas que ele sabia que não engordavam muito e ele gostava demais era peixe do mar, e só do mar, e chocolate amargo. Andava com os bolsos cheios de chocolate amargo, mas caro e viajar cinquenta quilômetros só para comer peixe... Após almoçar no restaurante do João da Mata, um caboclo ex-pescador que, junto com sua velha índia tinham aberto este restaurante na beira da praia, muito frequentado pelo povo de dinheiro da Prainha e das outras cidades da redondeza, como a Várzea. Dona Mundica fazia um peixe com molho de camarão que era um manjar dos deuses; tinha umas entradas de caranguejo que eram de arrepiar os nervos (Será que os nervos arrepiam?). A refeição tinha que ser regada a cerveja, pois eles não tinham vinho branco, - um costume de São Paulo - que ele preferia. Depois do almoço e de ter tomado um licorzinho de genipapo, gentileza de Dona Mundica, tomou o carro e saiu rodando sozinho pela cidade, sem destino. Seus pensamentos voavam, mas sempre a Dama era uma protagonista das tragédias e comédias que passavam em seu cérebro amalucado, talvez nessa altura já cheio de cavidades germânicas. Após ter rodado por um bom tempo subitamente deu-lhe a idéia de comprar uma casa na Prainha. Ele pensou em uma casinha de pescador, bem simples, de preferência à beira mar. “O Chefe” mesmo quando era “O Físico” sempre pensou em ter uma espécie de refúgio onde pudesse se isolar. Viver na Várzea era muito difícil, mesmo nos fins de semana quando a sede da OVA não abria, pois muitas pessoas os procuravam pedindo favores que nunca se negava a atender. Morando na Prainha ele esperava que tivesse um pouco mais de tranqüilidade. Quando passou perto de um enorme cajueiro em uma pracinha ele viu um grupo de pessoas conversando e resolve perguntar se sabem de alguém que tivesse, por acaso, uma casinha para vender. Logo um dos três rapazes que estão conversando diz que sabe sim quem tem uma casinha na Rua da Praia e pode vender. É sua mãe, o rapaz diz e pergunta se ele quer conhecer a casa ou casinha que ele não quer iludir o forasteiro. “O Chefe” diz que sim que quer conhecer e abre a porta do carro para o rapaz. Seguem até a Rua da Praia e o rapaz indica onde ele deve parar. Estaciona em frente a uma casinha branca com uma porta e duas janelas pintadas de azul, bem simpática, à sua vista. O rapaz desce e logo abre a porta da casinha e permite a entrada dele. A tal casinha está quase caindo aos pedaços por dentro e ele avalia que vai ser preciso um grande serviço até pô-la em condições de alguém morar. A família que morara ali até há poucas semanas havia deixado alguns móveis como uma cama e o estrado de palha, mesa e quatro cadeiras e um armário; havia também um pote de barro ainda com água que ele provou para ver se estava fria com um caneco de flandres deixado ao lado sobre o banco dos potes. Perguntou quanto os vendedores, se não era ele mesmo, queriam pela casa. O rapaz disse logo: - Nós estamos pedindo vinte e cinco mil. Ele fez uma proposta mais baixa e, após uma negociação bem rápida chegaram ao valor de dezenove mil reais. Ele puxou do talão de cheques e, com sua caligrafia vacilante, preencheu um com o valor acertado e passou ao moço dizendo que viesse no outro dia para irem juntos ao cartório finalizar a transação. Decidiu que dormiria essa primeira noite na casinha para experimentar seu novo domicílio. O rapaz olhou meio desconfiado, mas saiu correndo para o Banco para depositar o cheque antes de qualquer surpresa vinda desse sujeito muito estranho. Como já era tarde ele resolveu se estirar sobre o colchão imundo que cobria a cama de molas à sua espera ali, encostada à parede do quarto. Antes de deitar-se encheu o copo com água e o colocou ao lado, pois tinha necessidade de se resguardar de algum incêndio que pudesse ocorrer enquanto estivesse dormindo ou mesmo matar a sede durante a noite. Esses talvez não fossem problemas, mas a presença de baratas e ratos foi-lhe assegurada logo que a porta que dava para o quintal e a da frente foram fechadas. O ruim mesmo é que não havia energia e por consequência luz elétrica, mas ele acendeu uma vela das grandes para queimar a noite toda, pois não queria ficar no escuro. “O Chefe” demorou muito a conciliar o sono, o que era quase normal nos últimos anos. No meio da noite acordou inquieto e viu a casa invadida por uma luminosidade que ofuscava a luz da vela ao lado da cama. Ele esfregou os olhos e viu então, de cócoras ao lado, um homem idoso ou que parecia ser. Ele tinha o cabelo grisalho, bem comprido, amarrado atrás em um rabo-de-cavalo, estava vestido em uma roupa larga de chita listrada, mas desbotada pelo uso e fumando um pequeno cachimbo que exalava um cheiro suave e embriagador de ervas orientais. A sombra de sua figura na parede era bem maior do que seu corpo e tudo isso aumentava no “Chefe” a sensação de insegurança, pois era como se existissem duas pessoas a mais no quarto. O velho mirava o chão no espaço onde ficava a vela, não permitindo que se distinguissem bem suas feições. Só quando fazia um movimento pendular, balançando a cabeça durante a conversa, talvez para enfatizar algum ponto, ele conseguia ver suas feições. Ele relutantemente aceitou aquelas visões e foi estimulado por sua forte presença. E daí passou a encarar a figura. Esta lhe disse, então, que ele deveria conhecê-lo, pelo menos de fotografias antigas guardadas na casa de seus parentes da Várzea. E que ele estava ali para ajudá-lo na situação em que se achava. “O Chefe” quis saber que situação era essa à qual ele se referia e como ele havia tomado conhecimento e como poderia ajudá-lo se acaso houvesse tal situação. O velho começou então a desfiar uma porção de “histórias” fantásticas, e outras com algum fundo de verdade. Seu discurso, sem muita solenidade e de retórica simples, era de um modo geral convincente: - Todo mundo acredita que você e os seus parentes têm a mania de ficar doente de uma doença antiga que vem matando vocês desde os tempos antigos. Vocês dizem que ela tem por causa uma sensibilidade muito grande e que pode também resultar de amores não correspondidos. Nós – e não queira saber quem sejamos “Nós” – acreditamos que a segunda parte seja correta, pois sabemos que você se sente atraído por mocinhas jovens e isso parece aumentar seus problemas, inclusive os sinais dessa doença. Temos certeza que esse comportamento vem desde os tempos em que você era um jovem professor de Física, lá em São Paulo. Não é verdade? - Você parece saber tudo, então porque está perguntando? Ele falou meio espantado com aquela intimidade. - Bom isso é só para nós nos familiarizarmos... É verdade mesmo que eu, “Nós” aliás, sabemos tudo sobre você. No meu caso eu acho até que você pode me chamar de seu anjo da guarda... - Essa é boa! - Mas voltemos: segundo sabemos, desde muito tempo, você aproxima-se de jovens, mas só quando tem certeza que elas são receptivas, lançam para você aqueles olhares venenosos... Você não gosta de levar um não, não é verdade? Aparentemente você cria na sua mente essas condições... Veja bem essa situação de agora: você acredita que essa tal Dama, como você a chama, poderia ter um caso com você! Santa ingenuidade! - É eu acho que você está certo. E porque isso? - Talvez pelo fato de que você só se aproxima quando tem certeza ou quase que a jovem é capaz de torná-lo alegre, feliz. Mesmo que seja só na sua cabeça. Você gosta de ver e ouvir refletido na pessoa tudo que diz como se ela lhe compreendesse desde os primeiros momentos da relação. Não é verdade? - É sim. Parece mesmo que você me conhece e eu até diria que você tem treinamento psicológico, será? - Não! Coisa nenhuma... Minha experiência vem de outros campos... - Você diz que eu dou preferência nos meus relacionamentos a jovens e sobre as pessoas mais velhas, de minha idade o que acontece? Você, com seu conhecimento do meu eu, deve saber isso. É alguma coisa que me perturba. Ele já entrou na conversa de seu anjo da guarda... - Veja bem, talvez você tenha descoberto bem cedo que as jovens se entusiasmam com seu discurso, sua experiência, seu charme sempre juvenil e a princípio lhe dão atenção. Você gosta, pois parece ser alguma coisa que alimenta sua mente jovem – todos dizem... E acrescente a isso a enorme dose de fantasia que vai por sua mente... Depois, quando elas descobrem que você só tem isso para lhes dar – fantasias - desistem. Veja bem, isso é um sinal da falta de experiência e ao mesmo tempo, não contraditoriamente, é um sinal de bom senso, pois elas não vêm perspectivas em associar-se com você. - Está certo. E eu também nunca vejo. Talvez seja nessa fase que eu comece a me achar um velho enxerido e que tenho o famoso cheiro de velho que afugenta as jovens. - Não sei. Isso é alguma coisa que você decide: como as jovens lhe acham e a partir daí, se quiser, tomar alguma medida. - Tudo bem e com as senhoras de minha idade, o que acontece? - Nesses casos a reação comum parece ser resultado da grande experiência dessas pessoas com objetivos diferentes dos seus: elas querem estabilidade, querem casar... Alguma coisa que você não tem ou não quer dar. - E você acha que eu aceno para situações estáveis no caso das jovens? - Não! Também não. Já falamos a respeito. Nesse aspecto está uma grande variante de seu comportamento com relação a essas pessoas. - Se eu fosse tomar tudo isso ao pé da letra seria algo muito complicado. Mas acredito que haja alguma verdade no que você me diz. - Eu vou voltar para continuarmos essa conversa. - Acho que faltou alguma coisa em suas lições. - Eu sei a que você se refere. As, digamos assim, jovens que têm idade entre esses dois extremos sobre que falamos. - É verdade, você não disse nada sobre elas. - Entre mulheres deste segmento é onde você deveria procurar sua alma gêmea, por razões óbvias. Voltaremos a falar sobre isso. - Está certo, mas tem um pequeno problema. Eu vou deixar esta casa e vou para a Várzea. Vou lhe deixar meu endereço lá... - Ah! Como você é bobinho... Ao ouvir essas palavras “O Chefe” notou que a luminosidade que acompanhava o “seu anjo da guarda” desaparecia e com ela ele próprio. 11/2/09

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Friday, September 11, 2009

POEMAS BARRETO/XAVIER 88


Lívio Barreto é o autor deste poema.


MAGOADA

Corpo de anjo, coração de hiena!
PAULA NEI



Vais desdenhosa e pálida passando
No vitorioso azul da adolescência.
Como uma flor ao sol se estiolando,
Perdendo as cores e perdendo a essência.

Freme teu riso arregaçando a rosa
Do lábio ungido de ironia e dor!
E és sempre a mesma, cândida orgulhosa, -
Olhar de hiena, coração de flor!

E hás de viver assim eternamente
Altiva e fria, irônica, impassível,
Alma d´anjo mimosa e rescendente
Cedo crestada ao sopro do impossível!

Subiste ao céu no teu amor primeiro
D´onde caíste inopinadamente!
E viste frio, ó coração ardente!
Morrer teu sonho branco e feiticeiro!

Tem o triste gemer das casuarinas
O teu sereno olhar, deusa sombri -,
E a luz crepuscular da nostalgia,
E a majestade de um palácio em ruínas!

Granja – 1882


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Thursday, September 10, 2009

VISTAS DA GRANJA 109


AQUITEVEAQUIFOIAQUIERA

Na esquina em que Pessoa Anta e João Pessoa ainda hoje conversam encontramos essa casa que substituiu um belo prédio derrubado a bem do progresso (?) Você sabe como ele era conhecido?

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Wednesday, September 09, 2009

O Povo da Malhadinha/O Povo da Granja 89


RAIVA

Certa vez Raimundo Maçambique viajava com sua mulher na garupa. Subitamente o alazão estaca quando uma cabra cruza, aos pinotes, a estrada. O Maçambique cai da sela de mau jeito e sente que quebrou a perna direita. Ele consegue se por de pé e resmunga:

- Já que eu quebrei uma vou quebrar a outra! Com isso pegou uma pedra grande e jogou sobre a perna esquerda até quebrá-la.

(Ver figura em: http://marlondesign.arteblog.com.br/5/)

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Tuesday, September 08, 2009

HISTORIETAS DO MEIO DA SEMANA 99


CUNHÃ, DE ONDE VOCÊS VÊM?

À noitinha as duas amiguinhas caminhavam pelas calçadas desviando-se das cadeiras de balanço ocupadas pelas madames em animadas conversas. Quando chegam em frente à casa da Velha Senhora estacam a um sinal desta:
- Cunhã, de onde vocês vêm? Quem é teu pai, quem é tua mãe?
- Nóis somo fia do Zé Rodrigues...
- Qui é qui tu sabe faze? Perguntou a Velha Senhora a mais bonitinha.
- Eu...
- Tu num sabe de nada, só que sabe é de namorar, de procurar home, caboca! Tu devia te da respeito e ir guia um fogão ou lava ropa no ri!
- Sim Senhora dona. Ta certo...
Enquanto isso o Poeta e o Coronel conversavam na esquina, sem se darem conta do que acontecia a dois passos de onde estavam.


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Sunday, September 06, 2009

HISTÓRIAS DAS TERÇAS 69


DESCOBRINDO A MAZELA

- Madrinha, você sabe que meus créditos estão acabando e eu, eu não, nós não resolvemos este assunto.
- Mas que assunto rapaz?
- Veja, eu vivo me consultando com os mais diferentes médicos, das mais diferentes especialidades. Tudo isso por quê? Será que eu estou mesmo muito doente ou é porque eu quero descobrir alguma mazela que me fará ser levado por Ella?
- Lá se vem a besteira, rapaz...
- Verdade. Eu acho que essa busca por um mal que me leve tem uma explicação...
- E qual é?
- Eu acho que eu queria levar você comigo...
- Não entendo.
- Veja: pode ser que a busca dessa tal mazela definitiva demore tempo suficiente para você se resolver...
- Eu? Ta loco, menino?



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HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 140


PERAMBULAÇÃO

Quando ele a viu, acompanhada de uma amiga, em plena Praça do Mercado às dez horas da noite pensou logo em Melanchta. Ele tinha certeza que Juliete não tinha a menor idéia de quem fosse essa pessoa. Entretanto ela estava agindo exatamente como a bela mulata que passeava pelas páginas alvas da novela. Ela estava perambulando e, certamente, teria sucesso em sua perambulação nessa noite enluarada.

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Saturday, September 05, 2009

CONTOS DA RIBEIRA 7


SEUS 36 DENTES

Sua pele está sempre lustrosa e ela está sempre toda penteadinha, pois o Adroaldo, seu tratador, cuida mesmo muito bem dela; de vez em quando ele, furtivamente, dá-lhe um beijinho na boca, treinando para quando encontrar uma namorada que lhe permita beijá-la, pois ele nunca fez esse carinho com fêmea nenhuma. (...)

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Nessas ocasiões ela mostra os grossos beiços e quase todos os 36 dentes, bem alvos, mas já um pouco desgastados. Adroaldo também se ocupa, nesses momentos, em retirar restos de folhinhas verdes do capim gordura que ela, há pouco mastigara. Quando seu treinador, o Bené, aparece no haras ela começa a relinchar, mas ninguém sabe o que isso significa, mas o fato é que ela, quase sempre, junta suas perninhas finas e tortas e dá-lhe violentos coices. O Bené adora essas demonstrações de amor e ódio, pois sabe que seus coices são exteriorizações de seu amor equino. Ela nunca se deixa montar, se bem que está sendo preparada para ser uma campeã dos prados. Provavelmente, quando aparecer um Cavaleiro Andante, ela permita exteriorizações de carinho mais próximo.

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Friday, September 04, 2009

POEMAS BARRETO/XAVIER 87


Lívio Barreto é o autor deste poema.

PERDÃO

Perdão! Alma de flor mimosa e pura,
Dilacerada pelo sofrimento!
Perdão, meiga e radiosa criatura,
Por tua mágoa, pelo meu tormento.

Perdão! E a minha voz endolorida
Suba como uma prece a ti, perdão!
Num lamento de alcíone perdida
De longes mares pela solidão!

Meiga senhora pálida e mimosa,
Meu verso chora dolorosamente,
Como a queixa sentida de uma rosa
Ao sol que a queima rúbido e fremente.

Meu amor que soluça ajoelha e eleva
Para ti esta súplica: Perdão!
Trenó que passa e vai de treva em treva
Rolar de coração em coração.

- 95 –


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Thursday, September 03, 2009

VISTAS DA GRANJA 108


AQUITEVEAQUIFOIAQUIERA

Esta estrutura, já quase no chão, é fácil de ver. Mas, você a reconhece?

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AQUECIMENTO GLOBAL


O aquecimento global ganhou, nesta semana, um inimigo. Notícia dada na Folha de São Paulo de hoje remete a um Relatório publicado ontem (2set09) pela Royal Society no qual ela pede ao Governo Britânico para financiar um estudo/programa anual a fim de resolver dúvidas sobre o uso de técnicas de geoengenharia. “O termo se refere à manipulação da atmosfera e da superfície da Terra para contrabalançar as emissões de gases do efeito estufa.” Veja a matéria completa na FLSP de hoje.


Este texto está completo. Veja mais na FLSP de hoje.

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Wednesday, September 02, 2009

FIM DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL


O FIM DA SEGUNDA GUERRA – ASSINATURA DO ARMISTÍCIO COM O JAPÃO

Após seis anos do início na Europa Central (em 1 de setembro de 1939) chega ao fim – oficialmente - a Segunda Guerra Mundial. No dia 2 de setembro de 1945, há 64 anos, o Japão assinou o tratado de rendição incondicional em uma cerimônia a bordo do navio USS Missouri, na Baia de Tókio.

Fonte: Wikipédia a Enciclopédia livre (
veja e leia)


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O Povo da Malhadinha/O Povo da Granja 88


A PONTE

Maçambique foi casar na Granja com "A moça Bela", filha do "home” Joaquim da Cruz. O casamento foi marcado para as sete horas e bem antes disso os noivos seguiram para a cidade com um acompanhamento de mais de cento e cinquenta cavaleiros. Após a cerimônia foram todos até o rio para dar água e lavar os animais e pegar a estrada de volta. Ao chegar ao rio o Maçambique viu A Ponte e não olhou mais pra ninguém, nem pra a noiva: só tinha olhos para a ponte; todos procuravam falar com ele e nada, pois não respondia a ninguém, nem à noiva. Após ter apeado do cavalo o deixou de lado, sempre de olho na ponte. Quando todos terminaram de lavar os cavalos e os selar chamaram o Maçambique para ir embora, pois o banquete iria começar. Nem selar seu animal ele selou, alguém o fez por ele, e ele não quis levar a noiva na garupa, ela foi com outro. Quando chegaram a casa o banquete "tava o maior do mundo", era convidado pra todo lado, música a toda altura - uma festança só. Foi aí que o Maçambique, o noivo, falou bem alto: - Agora todo mundo fique aí que eu vou voltar, só venho quando eu medir aquela ponte pra saber quantos palmos ela tem de largura!

(Adaptação de um relato feito por Napoleão Saldanha)


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Tuesday, September 01, 2009

HISTORIETAS DO MEIO DA SEMANA 98


AUGÚRIO

Enormes pássaros. Alguns eram pretos, outros, de cores vivas. Evoluíam sinuosamente no céu claro em grupos de 10 ou 15 e passavam em frente a ele, da direita para a esquerda. Um dos grupos voltou (da esquerda para a direita) e aquele que parecia ser o chefe ou guia ficou parado, bem à sua frente, batendo a ponta da asa, como que acenando para os outros que passavam, despedindo-se. Quando voltou à sua casa soube, pela mulher, que o jogo da Loto que ela havia feito e posto em seu nome, havia sido premiado.


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