Thursday, May 29, 2014

E O DINO VAI PRA ONDE? - HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 372



Todo o povo da cidade ficou abalado, constrangido até, com a notícia. A verba para instalação do Museu Municipal, já reservada, teria que ser devolvida. Para quem? Será que chegaria aos cofres da Nação, de onde havia saído para os cofres do Banco? Ninguém acreditava nisso. Mas o caso é que a ordem veio de cima. Todos sabiam que um fóssil de dinossauro  
- Tapuiasaurus granjoi - havia sido encontrado em uma pedreira próxima e o Museu Municipal seria o local apropriado para sua exposição, pois dentro dos caixões em que se encontravam agora os ossos não era possível que continuassem. Iriam se desfazer em pó dentro dos próximos anos. Houve interferência do padre, do bispo, do juiz, do prefeito, do presidente da Câmara e de toda a sociedade. Todos diziam que o fóssil seria um ótimo exemplo para o ensino nas escolas do município. As petições chegaram ao Ministério e todas foram negadas. Qual seria o motivo da negativa? O Ministro interferiu pessoalmente dizendo que o estudo desses esqueletos antigos não estava afeto ao seu Ministério, pois não era de interesse para o ensino. Talvez no Departamento de Ciência Forense fosse possível encontrar uma sala adequada para abrigar o Dino. E ponto final.




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A PÉS OU DE METRÔ



Seu Messias caminhava pela estrada quando encontrou um jumentinho ou jegue, como se diz nas altas rodas, pastando descuidadamente no acostamento.  O animal levantou a cabeçorra e, ao ver Seu Messias e encará-lo, não teve ideia alguma de qual fosse o destino do viajante, mas mesmo assim ofereceu-lhe o lombo liso. Ele o levaria até lá.  Seu Messias respondeu que não,  muito obrigado, não precisava, mas ele iria a pé mesmo. 
- O senhor tem certeza? Insistiu o jumentinho, pois era um jovem educado. 
- Sim, disse Seu Messias, pois se eu não for de metrô prefiro ir de pés.  E assim foi.

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Thursday, May 22, 2014

O BALEIA APARECEU



Nessa noite ele fora dormir no quarto dos fundos devido ao grande calor que fazia na casa. Acordou com um barulho na janela, aliás não era uma janela, mas a estante de livros em frente à sua cama. Alguém forçava a janela de vidro mostrando que queria entrar e dizer-lhe alguma coisa. Talvez  diretamente ou através de um telefone.  Ele viu ou imaginou que fosse sua mulher avisando-lhe sobre  algo a respeito da empregada de casa que havia saído. Quando acordou viu aquela figura de camisa branca e gravata borboleta e calça preta sorrindo para ele. Era o "Baleia" que tomava nota de um imaginário pedido feito por ele. Assustado jogou o lençol em cima da visagem que, felizmente, logo se desvaneceu.

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Monday, May 19, 2014

IDEIAS MORTAS - HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 371

Jorge sabia que um dia elas não viriam mais. Tinha certeza, pois ao longo dos anos vinham escasseando rapidamente. Elas faziam parte do que ele chamava "seu banco de ideias" e sabia que estavam diminuindo a cada dia. Além da queda quantitativa, a qualidade de suas ideias se deteriorava a olhos vistos.  Não mais as histórias da "Malhadinha", as do "Napoleãozinho", nem as bobagens batidas sobre gregos e romanos de antigamente lhe vinham à cabeça, nem mesmo as aventuras com "Ella". Atualmente, somente lhe interessam histórias violentas sobre os bárbaros, as cruzadas, a guerra dos cem anos, as guerras mundiais, a da Coreia, na qual ele foi atingido na cabeça por um estilhaço de granada que, ainda hoje lhe deixa tonto de vez em quando. Ultimamente, ele se interessa cada vez mais por política do Oriente Médio e da África. Como nunca lhe chamou atenção o processo de colonização de seu país sua atual situação caótica não lhe desperta qualquer interesse.   

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Thursday, May 15, 2014

ELA OU ELLA?



Seu Josias saiu da sessão de cinema preocupado. Passou pela livraria e comprou um dos últimos exemplares de um livro que lhe impressionara bastante, lido há pouco tempo, mas dado a uma amiga que sempre dizia gostar de ler. Ao reler a história constatou que a imagem de "Ella" continuava a ser muito forte para ele. No entanto, o filme que acabara de ver tinha abalado muito esse sentimento. A constatação de que "Ela", o sistema operacional OS da máquina por quem (?) Theodore se apaixona, tem a voz de Scarlett Johansson, provocou em Seu Josias um sério dilema: continuar cultivando a morbidez patrocinada por "Ella" ou deliciar-se em decifrar os sons emitidos pelo  OS/Scarlett Johansson?

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Monday, May 12, 2014

NÃO TEM NADA, A FAZER É SÓ REZAR! - HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 370

Era uma dor de garganta danada e uma tosse cruel que o estavam, tipo assim, deixando incomodado. Ele chegou mesmo a ter febre durante a noite tendo decidido ir a Emergência do Hospital dos Simões. Lá esperou um pouco e foi chamado pelo painel eletrônico para ser atendido pelo Dr. Usnavi Laziz. 
-Bom dia...
-De que o señor se queixa?
Daí ele contou sobre sua noite em claro, sua tosse e febre. O doutor olhou pra ele e falou, enquanto escrevia:
-Você vai fazer essa tomografia e depois vuelve aqui. Logo, pois está chegando o fim do meu turno.
Ele conseguiu tirar a tempo a tal tomografia e voltou correndo ao consultório. Ao examiná-la o Dr. Laziz disse:
-Vou tirar sua pression e se ela não estiver boa eu vou lhe internar.
-Mas porque doutor? E quanto deu agora?
- Você não precisa a saber, para não se assustar, mas és o seguiente: se der qualquer cosa acima de 14 e abaixo de 6, você está lascado. E vai ficar na UTI até eu voltar amanhã para o meu plantão. Não tem nada a fazer é só orar, má!

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Thursday, May 08, 2014

JAPI E O VELHO



Não lembrava nada do passado. No presente nada lhe lembrava o que ocorrera fora de casa. A respeito do eterno futuro ele esperava por sua brevidade e que chegasse logo. Não lembrar, não saber, eram seu alimento. Esses pensamentos obtusos mantinham o velho vivo. Assuero gostava de, ao levantar cedo, tomar sua dose de vitamina na calçada, seja sob a forma de raios, seja sob a forma de um copo de bananada. Como já não conseguisse ler - isso só ele sabia - passava as manhãs brincando com o Japi até os dois cansarem. Ia dormir primeiro quem não pudesse mais latir, nem soltar mais ventos como estavam acostumados.
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Sunday, May 04, 2014

ELA FICOU EM CASA, POIS ESTÁ MUITO PESADA - HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 369

O moço aparentava ter uns trinta anos. Rosto limpo, bem vestido, camisa branca e calça escura impecáveis; portava um crachá que certamente dizia ser ele membro de alguma comunidade importante. Ele estava na fila do supermercado mastigando os últimos pedaços de alguma guloseima apanhada no balcão da padaria e sorvendo os últimos goles de um refrigerante "zero cal". Iria, certamente, pagar a despesa já feita com seu cartão corporativo. Sucede que a fila escolhida por ele era aquela reservada aos velhinhos e destituídos e senhoras em estado interessante. Mas ele não titubeou e ficou a espera de sua vez. O caixa falou que o atendimento era reservado a velhinhos, etc. e tal. O moço não se perturbou e informou ao caixa que sua senhora estava em estado interessante tendo permanecido em sua residência, e ele poderia muito bem utilizar suas prerrogativas sociais.  

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Friday, May 02, 2014

DITO PELO NÃO DITO


Todos os amigos de Adroaldo fossem eles do escritório, ou do colégio ou da universidade e mesmo parentes, conheciam bem o rapaz, seu comportamento, sua personalidade. E por isso sabiam que o moço passou a adotar modos, de certo tempo para cá, nunca vistos em seu meio. Adotar posturas de "punk" ficou comum para ele. Sempre aparecia com uma novidade, seja o cabelo colorido, roupas espalhafatosas e por aí vai. Agora todo mundo sabia que, na verdade, no íntimo, ele era um perfeito "nerd". Adroaldo sempre fora a favor do "Isso", mas quando a situação se agravou ele passou a apoiar o "Aquilo e o Aquilo Outro". Ao fim desse processo ele se encontrou perdido a procura de um muro onde subir do meio do matagal dos seus desejos não atendidos. Talvez logo ali em Utopia encontrasse alguma coisa.

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