Sunday, May 27, 2012

CABEÇA CARUNCHADA – HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 275


Sentado à mesa de seu escritório, tendo uma folha de papel em branco à sua frente, ele procurava idéias para escrever alguma coisa. Uma simples historinha; ele não queria muito; não queria contos ou novelas ou romances ou sagas. Nada disso. Uma simples historieta que pudesse ser lida em sessenta segundos e deixasse no prezado leitor uma mensagem qualquer. Uma mensagem de alegria ou mesmo de tristeza, mas uma mensagem. Se ele chegasse a escrever certamente esta mensagem seria evidente. Acontece que ele não conseguia escrever uma simples frase, por mais banal que fosse como “Vamos sair”, “Fulano perdeu o ônibus” e por aí vai. Logo que ele sentava-se em seu trono, como antigamente  dizia, ela lhe chamava: - Bem, faz isso para mim... Ou - Vamos passear no shope? A partir daí nada mais mesmo lhe saia da cabeça carunchada. 
(SP 10/3/12)

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Tuesday, May 22, 2012

ATOLADO NO PREÁ - HISTORINHAS DAS QUARTAS


Lá pelas 11 horas da noite ele já tinha passado do Preá e estava chegando a Jeri. A lua cheia iluminava os caminhos sobre as dunas e ele achava que não se perderia. Logo alcançou uma mata de murici que procurou contornar. Foi então que seu jipão atolou, talvez porque ele não tivesse visto a areia frouxa perto da mata. Ricardo teve de descer do carro e examinar a situação. Quando estava olhando para a roda quase toda enterrada na areia fofa, ele viu. Ele viu o rosto de uma mulher jovem com os olhos tão brilhantes que aparentavam serem  lanternas; sua face era alva como a de uma máscara pintada e seus dentes enormes saiam como se fossem dentes de crocodilo. Era uma figura que poderia causar medo a alguém desprevenido, mas não a ele. Ricardo estava preparado para tudo na vida depois dos desastres por que passara. Ao fim de alguns minutos ele ouviu da figura algumas frases que imaginou lhe cobravam alguma coisa que ele não sabia o que era. Como não era religioso não pode invocar nenhum santo, não seria correto agora que parecia estar em situação difícil que ele iria se pegar com algum. Atacar a visagem também não podia, pois ela era imaterial, só estava em sua cabeça. Quando a lua entrou por trás das nuvens ele aproveitou para deixar o local e embrenhou-se pelas matas de murici deixando seu jipão atolado. 

(SP 12/3/12)

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Sunday, May 20, 2012

NA ZONA VERMELHA - HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 274


-Bem, eu queria que você respondesse essas perguntas que a professora passou como dever de casa.
- E sobre o que é a tarefa?
- É sobre a Contistuição.
- Mas eu não sei  nada sobre isso...
- E é para amanhã de manhã...
- Não, não tem jeito. Você responde.
- E se eu não souber?
- Sabe, pois você é inteligente!
- Tá certo. E você digita para mim?
Depois desse diálogo ele comprou uma passagem e  foi para Amsterdam onde exilou-se  passando  os dias e as noites no  Rossebuurt.
SP 15/3/12

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Tuesday, May 15, 2012

TRAPALHADAS DE JOÃO - HISTORINHAS DAS QUARTAS


João sempre se metia em trapalhadas. Dessa vez ele acreditou que ia se dar bem com uma senhora culta, bem falante, formada em línguas latinas. Qual o que! A senhora estava de olho em seus ricos dólares, euros e libras. Ela fez tudo para conseguir por as mãos em seu dinheiro. No fim ela levou quase tudo e João teve que arranjar emprego, aos 70 anos de idade. Ainda bem que as novas políticas econômicas facilitam a contratação de pessoal com idade de ser bisavô.
SP 16/3/12

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Sunday, May 13, 2012

VOANDO PELA JANELA - HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 273

Raul acorda às 2 horas da manhã; inquieto como nos últimos tempos; toma um pouco dágua da garrafinha que deixava a seu lado na cama. Dorme  novamente, mas acorda às 5 completamente transtornado. Não sabe o que aconteceu. Também não adianta saber, pois nem tudo passou e o resto nunca passará, nunca será esquecido. Dizia frases desconexas e aparentemente sem sentido como: - Perdi  minha vida! - Vou embora! – Você me faz mal; - Não agüento mais. Dizia tudo isso sem acompanhar qualquer palavrão, mas andando sem rumo, sem direção, por toda a casa  e depois para o quarto. Ela, de olhos bem abertos, nada dizia, pois nada entendia. Foi nesse dia que Raul decidiu dar um novo rumo à sua vida e em um momento decisivo saiu voando pela janela.
(SP 12/3/12)

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Thursday, May 10, 2012

VISITA ESTRANHA


Nelson decidiu mandar consertar sua cadeira de rodas. Não é que ela tivesse algum defeito, mas ele tinha visto em um anúncio na Internet cadeiras bem melhores e fáceis de manejar; talvez ele não precisasse da ajuda de alguém para levá-lo até a varanda. Ele tinha de fazer força para movimentar essa cadeira, já velha de dez anos; um modelo novo, movida a bateria seria bem melhor. Mas, enquanto não comprava – será que seu dinheiro daria para esse luxo? – ele teria de se fiar na Clara Luz (era esse seu nome) sua empregada. Seus oitenta anos lhe pesavam e ele tinha que ser cuidado o tempo todo. Nesse fim de tarde ele pede a Clara Luz para levá-lo até a varanda de seu novo apartamento, um mini-apartamento lá pelos lados do Cocó. Ele havia comprado o imóvel com parte do dinheiro apurado na venda de seu sítio e ainda sobrara um pouquinho para ir comprando seus remédios, sempre muito caros. A Clara Luz chegou e empurrou a cadeira com delicadeza e a posicionou na varanda que dava para a Lagoa. Essa era imunda,  pois ninguém a limpava, mas permitia uma vista de qualquer modo agradável.  Nelson ficou absorto em seus pensamentos e, daí  a alguns minutos estava cochilando.
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Ele lembrava muito bem daquela viagem que fizera a Botija para visitar a namorada. Nelson esperava pela oportunidade de conhecer sua família e medir forças, isto é, saber se o namoro progrediria ou não. Conhecer a família era essencial para essa parte, pensava ele. Foi com o carro novo, um Passat vermelho estalando de novo. Dada sua idade provecta ele contratou o Paulo motorista acostumado a fazer suas viagens para o Riacho. Esteve o tempo todo animado durante a viagem, falando sobre o que sabia da família que iria conhecer daí a algumas horas. Não foi difícil encontrar a casa, pois sua namorada estava esperando na direção de uma SUV Mitsubishi preta de último modelo, conforme combinado, na grande praça onde paravam os ônibus que chegavam até a cidade. A jovem seguiu na frente e o Paulo acompanhou  no  Passat . Logo chegaram à casa de morada, pintada de um amarelo berrante, uma verdadeira mansão, de dois pavimentos, entre dezenas de casebres, com uma enorme piscina e deque apropriado onde se fazia churrasco, o vicio do dono da casa. A mansão tinha mais de dez aposentos, reservados aos filhos e às visitas de amigos que muitas vezes chegavam de surpresa para um churrasco. Além desse costume, digamos assim, o Senhor tinha outros usos, como o  de tomar uísque da melhor qualidade; ele gostava demais de tomar Fraig´s, um uísque escocês comprado de um contrabandista especializado da capital. Ele tinha outro costume que era o de gostar de garotas bonitas, mas esse quase todo homem tem.
Logo ao chegar ao portão ele se depara com um jardim onde os pequenos anões coloridos proliferam. Ao entrar na casa, guiado pela namorada, Nelson encontra um dos irmãos da moça que ia saindo e não lhe estende a mão ou sequer  lança um olhar. O visitante já fica apreensivo, pois negar um cumprimento era para ele algo imperdoável. Mas, costumes são costumes e Nelson tentou esquecer o incidente. Ao chegar à enorme sala ele ficou abismado com a decoração por demais kitsch, mas isso não lhe importava muito, pois estava acostumado com as residências de seus parentes novos ricos na Capital. Não havia vivalma na sala, mas um enorme espelho mostrava a imagem de quem chegava. A Nelson chamou a atenção, nesse espelho, a figura de uma bela mulher que olhou para ele com olhos zombeteiros. Ele não deu importância e os dois seguiram diretamente para a cozinha onde, agora sim, estavam as outras mulheres da família e o pretendente ao trono, aquele que em breve herdaria a fortuna do Senhor. Nelson deu bom dia dirigindo-se a todos que mexiam em algum prato sendo preparado ou mesmo, como era o caso do pretendente lambiam alguma panela recém esvaziada. Pois bem, ninguém respondeu à saudação do visitante que teve vontade de enterrar-se no chão.  Após a recepção silenciosa demais o casal volta para a sala e novamente Nelson olha para o espelho. Lá está refletida a imagem da mesma mulher que balbucia:- Eu não te avisei?
Clara Luz aproximou-se do velhinho e o chamou delicadamente para tomar seu lanche.  Nelson acordou e, lembrando-se do sonho, começou a rir e logo pensou na salada de frutas que a moça estava a oferecer-lhe.
FZA 3/5/12

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Wednesday, May 09, 2012

OITENTA ANOS – HISTORINHAS DAS QUARTAS


Uma parenta próxima,  trinta anos, achava-se tão velha que sempre respondia, quando alguém lhe perguntava a idade, ter quase oitenta. Com ele era diferente, pois, aos setenta, achava que tinha quarenta ou, no máximo cinqüenta. Certa ocasião tomou o metrô para ir até a Estação Consolação; ele iria a Livraria à cata de um livro para ler refestelado em uma das poltronas a disposição de todos. Logo ao entrar no metrô ele tomou um desses assentos azuis reservados aos velhinhos e desvalidos. Aquietado ele olha em torno e vê uma linda jovem de seus vinte anos que, talvez acidentalmente, olha para ele. Os dois sorriem e assim continuam olhando-se e sorrindo até chegar à estação. Ela levanta-se e ele também. Até aí nada de mais, pois ele desceria mesmo nessa estação. Quando os dois põem o pé na escada rolante ela, na frente, fala com um sorriso lindo: - Toma respeito velho babaca!  Foi então que ele admitiu ser um oitentão que  sua parenta dizia ser ela própria, mas não era verdade.
SP (22/3/12)

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Sunday, May 06, 2012

SURPRESA DESAGRADÁVEL – HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 272


Subir ao telhado da velha casa não era coisa difícil para um rapazinho esperto como Jorge. Pois ele subiu e sentou-se sobre as telhas com perigo de quebrar algumas e criar goteiras. Ele nem lembrou isso. O que ele queria era observar a saída da menina e descobrir para onde ela se dirigia. Não foi preciso muito tempo até que ela apontou lá embaixo e subiu em uma moto parada na calçada em frente e guiada por uma camarada usando capacete preto. Jorge ainda conseguiu ver o sorriso da menina agarrada à cintura de seu cavaleiro rodante. 
(SP 10/3/12)

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Wednesday, May 02, 2012

A FALCUDADE DE ROBERTINHO – HISTORINHAS DAS QUARTAS


Era seu sonho entrar numa Falcudade. Roberto queria se formar em qualquer coisa, pois ouvia dizer que, formado conseguiria emprego logo. Um bom emprego sem dúvida. Mas, para que emprego se seu pai era milionário; era, mas não dava coisa alguma para os filhos, principalmente para ele. De qualquer modo o rapaz procurou uma dessas faculdades/empresas e foi admitido após seu pai ter pago o exame, a matrícula e a primeira prestação. O que mesmo ele iria cursar? Robertinho, era assim que seus amiguinhos o chamavam, não sabia ao certo. Só depois de algumas aulas ele se deu conta que estava cursando Pedagogia. Ele não tinha a mínima idéia do que seria isso, Pedagogia? Seria alguma coisa ligada aos pés da gente? Foram-se passando os meses e Robertinho acumulando notas que o aprovaram ao fim do semestre deixando-o pronto para enfrentar o segundo dos muitos que vinham pela frente até sua formatura, evento esperado com ansiedade por toda a família.
(SP 10/3/12)

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