Sunday, December 30, 2007

HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 57


Pombo Preto

Matias estava casado com uma mulher bem mais nova do que ele e muito cheia de fogos. Eles moravam na capital, lá ele tinha seu negócio. Candinha não trabalhava fora e a vizinhança falava mal dela com um barão. O certo é que de vez em quando um carrão a apanhava na esquina. Um desmancha-prazeres soprou ao marido e ele resolveu tirar o sofá da sala. O casal foi morar na Serra. Tudo ia bem na casinha branca na beira do riacho e com a bodega do Matias na vila, mais adiante. Quase toda tarde ele e seus novos amigos se sentavam para tomar uma cachacinha e contar histórias. Uma dessas foi sobre os pombos correio. Contou o Piririguá, um caboclo magrinho, que quando aparecia um corno nas redondezas logo um pombo voava em círculos sobre a casa do indigitado; quanto maior fosse a ave mais antigo era o caso. Após essa conversa Matias passou a observar o céu sobre sua casinha quando voltava do trabalho. Na tarde da véspera de ano novo, quando ele estava voltando para os festejos da passagem, já de longe, ele vê um pássaro preto voando em círculos bem em cima de sua casa. Ele não acha que seja um pombo, mas apressa o passo e, sucessivamente vai eliminando a identidade da ave: não é um urubu, nem um gavião, nem um anum. Ao chegar bem perto ele vê que a ave é um pombo preto arrulhando sobre sua casa. Matias entra no seu ninho e começa a procurar o tal barão. Nada encontra, mas sente o cheiro bem fresco de homem.

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Saturday, December 29, 2007

POEMAS BARRETO/XAVIER 6


LÍBIA BARRETO XAVIER, filha de Elisa Barreto Xavier e Ignácio Xavier, nasceu na Granja em 1904 e faleceu em Fortaleza em 1988. Bibi, como era conhecida, dedicou sua vida ao ensino, principalmente de crianças. Ela deixou alguns poemas inéditos muitos deles escritos sob o pseudônimo de Kézia. Mostramos aqui o poema “Retrato” resgatado de “Poemas esparsos”:

RETRATO

A fronte pálida e serena
Escondendo com firmeza
Torturas invioláveis...
Olhar cansado e dorido
Eternamente ferido...
Banhado de pranto ardente...
Pobres retinas fitando
Pavor em noite de treva...
O manso e o tímido sorriso
De profundo desencanto
Doçura de quem sorri
Aos tristes e miseráveis...
Os lábios fortes e castos,
O gesto, a expressão, o vago
Mover das mãos dadivosas,
Ofertando inutilmente,
Sangue... alma, ... coração...

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Thursday, December 27, 2007

VISTAS DA GRANJA 26 - CRIANÇAS






CRIANÇAS DA GRANJA

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Wednesday, December 26, 2007

O Povo da Malhadinha 33


O roçado

O Ririato quando vei aqui pá Maiadinha casou-se aí com a Catita. Ele era lá do Oi dágua do Retiro; aí tinha um roçado muito grande lá; aí ele foi olhá lá o legume, chegô lá, a formiga de roça tarra liquidando o legume dele. Aí ele deu um gemidão pra trás como maiadinha: Uuummmm! Aí routô. Chegô em casa mandô matá um bode, mandô a muié assá e guizá, botô quejo e rapadura, eu sei que os alforge ele encheu e tudo e aí ele arranjou um jogo de peia pá pear o animal uma burra dele e aí diche pá muié:

- Diabo eu rô uma riage acolá e num sei quando volto, não sei, é quatro dia ou cinco, uma semana.

E foi; chegô lá tirou a sela da burra, peô e sentô-se na,na, perto da cerca na, na, onde a formiga passarra, o camin, com duas pedra. Aí toda formiga que vinha de passage ele matarra: pá, pá, pá. Eu sei qui com uma semana num apareceu mais nein uma e ele diche:

- Quero vê agora onde é qui seis vão cumê roça de home, mais!
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Tuesday, December 25, 2007

HISTORIETAS DO MEIO DA SEMANA 12


Ella 7

Como em Molching, onde Ella tinha de carregar as pessoas, seu trabalho aqui não era muito pesado. Aqui era diferente, pois o povo só precisava ser orientado e já seguia o seu destino. Foi assim com Marco. Quando ele estava na Serra, acordava bem cedo, ainda escuro e fazendo um friozinho bom, tomava um café leve e saia para sua caminhada diária. Logo em frente a casa, do lado direito, a estradinha de pedras soltas descia um pouco e à esquerda era uma subida. Essas subidas e descidas se repetiam por alguns quilômetros, interrompidas por curvas fortes. Para completar, o movimento de motos era grande.
Era sábado e ele saiu, demoraria uma hora, se muito. Na estrada ouviu subitamente o ronco de uma moto que descia a ladeira em curva. Marco logo percebeu que o motoqueiro não completaria a curva. Em seguida sentiu a grande dor de um enorme choque em suas pernas e logo se viu voando sobre o vale verde. E então ele a viu, loura e falando italiano:
- Uscita latto sinistro!
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Monday, December 24, 2007

HISTÓRIAS DAS TERÇAS 3


Abdução

Todos em Zyrkon tinham a convicção de que Maikon havia sido abduzido do vizinho planeta Esfagnópside. Diziam que a abdução tinha sido obra da equipe dos Demóboros que o entregou às mãos de Tal, o Demiurgo. Com sua chegada todos pensaram em transformações em seu mundo. Acreditavam que desapareceriam todos aqueles problemas – seriam problemas ou já eram as soluções? – que incomodavam viajantes de toda a Galáxia quando aportavam em Zyrkon. Passadas poucas semanas Maikon foi levado pela equipe, chefiada por Maludema, para fazer o juramento dos Planos Eternos de Consolidação do Desenvolvimento (PCED) para toda a Região do Biraireod, na Praça do Pelourinho. Após o juramento o povinho aplaudiu a celeste figura de Tal, o Demiurgo, de Maludema, a Eterna Acompanhante e de Maikon, o Prometido.
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Sunday, December 23, 2007

HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 56


O peru

Alexandre não tinha energia elétrica e nem tampouco água boa de beber na fazenda. A luz era de lamparina e a água era apanhada em uma cacimba no rio, bem longe. Ele e sua mulher junto com os filhos e uma neta moravam bem perto de onde passava a rede elétrica, mas nunca conseguiram um pistolão bom para puxar os fios. Sem luz, como diziam, não tinham uma geladeira, uma televisão ou outras utilidades nem percebidas. Quando precisavam de carne eles tinham que matar um bode, um peru, galinha, ou capote, isso poucas horas antes da refeição. Se demorasse a ser usada a carne estragava. Um bode pesava mais ou menos vinte quilos e, portanto a carne na certa iria estragar se os convidados para a ceia do Natal não aparecessem. No dia mesmo a família debatia esse assunto no alpendre e os animais até parece que sabiam do que se tratava, pois ciscavam nervosos no terreiro debaixo da tamarineira.

Quando eles desistiram do bode passaram a examinar a possibilidade de um dos perus brancos, de doze quilos ser o candidato para a ceia, o que já era tradicional. Mal Alexandre pronunciou a palavra peru o dito-cujo que estava mais próximo passou a ciscar mais nervosamente e ainda começou um gluglu estridente. Até parece que ele adivinhava o que estava para vir.

Eles decidiram mesmo pelo belo animal, pois assim poderiam convidar seu novo amigo, o Seu Chiquinho, que viria da cidade junto com a Silmara no carro do Martiniano.

Quando o José, o filho mais velho, desceu para o terreiro com sua faca amolada e um prato de ágate para aparar o sangue o peru virou-se para ele e, agitando as asas e movimentando violentamente o rabo, num grasnido que se fez compreendido por todos disse:

- Espera José, sinto que ainda não chegou minha hora! Será que você não pode me trocar por aquelas duas galinhas caipiras que estão ciscando ali perto do curral?
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Friday, December 21, 2007

POEMAS BARRETO/XAVIER 5


JOSÉ BARRETO XAVIER, o segundo filho homem de Elisa Barreto Xavier e Ignácio Xavier, nasceu na Granja em 1903 e faleceu em Fortaleza 1982. Como se diz na família “cometeu” suas poesias quando jovem. Ele deixou um caderno manuscrito que enfeixava sua produção poética e ao qual deu o título “Esmaltes e camafeus, 1920 – 1922" (um plágio de Théophile Gautier). Alguns desses poemas, como o aqui mostrado, foram publicados no Coreahu, jornalzinho da cidade.

VI

Está o seu nome em perfeita harmonia com a sua pessôa.
Branca irmã dos lírios e das açucenas de extranha belleza e graça original, pequena, mignonne mesmo, é a dona de uma maravilhosa cabelleira, feita do ouro do sol no occaso, que lhe affaga e envolve o alvo rosto, rosado como se delle fosse a moldura maravilhosa.
Nas faces a brancura da neve colorida de rosas, illuminada pelos olhos sorrindo por entre as pálpebras o luminoso sorriso da intelligencia.
As vezes, quando um sorriso entreabre a curva breve dos lábios, esplendor vermelho da sua bocca pequena lembra um rubro lírio bipetalar onde se tivessem, collocado os dois fios de pérolas dos seus dentes.
Dansa adimiravelmente. A harmonia extranha o rithmo cadenciado em que ondeia o seu corpo a graça fina dos seus pés alados, atraindo para si a attenção de todos os olhares na revelação de um mundo de attitudes bellas, dizem os segredos de Terpsichore que ella possue intistivamente.
Na delicadeza das maneiras, gracilidade dos gestos, bondade carinhosa e clara intelligencia estão os segredos da maior attração que a sua pessoinha amável exerce sobre quantos a conhecem.
Não são estas frases, sem brilho o elogio merecido, porque justo das suas prendas numerosas. São mais a pallida homenagem desta secção que seria incompleta se a não illuminassem hoje as iniciais do seu nome.
(Publicado em dezembro, 1921)

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Thursday, December 20, 2007

VISTAS DA GRANJA 25








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O Povo da Malhadinha 32


Duelo com o Rio


O início do serviço de iluminação estava marcado para breve. A jovem malhadinha, que também as há, escreve ao irmão, "desterrado" no Rio de Janeiro:

“A luz elétrica vai ser inaugurada no começo do ano. Ainda bem. A Granja civiliza-se. O Papai diz que eu não preciso mais ir ao Rio. Que isto agora é uma cidade muito importante.”

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Tuesday, December 18, 2007

HISTORIETAS DO MEIO DA SEMANA 11



Labaredas

De longe ele a viu debruçada sobre um pequeno monte de cinzas a soprar metódica e extenuadamente. Ao chegar perto ele perguntou:
- O que você faz aí? Ela respondeu olhando para o moço com seu olhar de frete.
- Estou querendo acender o fogo. E ele:
- E você acha que consegue? Aí só tem cinzas... Ela disse definitivamente:
- Consigo, eu sou persistente, além do que há muito oxigênio no meu sopro.
Daí a pouco havia uma enorme labareda queimando o resto de gravetos que ela havia colocado por sobre o monte de cinzas.

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Monday, December 17, 2007

EDNA MENESCAL XAVIER - CENTENÁRIO DE NASCIMENTO


Edna Menescal Xavier, Nezinha, completaria em 18 de dezembro de 2007 cem anos de vida. O Instituto José Xavier, Granja, Ceará, presta homenagem à esposa de seu patrono com uma série de eventos dos quais o mais significativo é o lançamento do pequeno volume, "Dona Nezinha". Este livro reúne depoimentos de parentes, amigos, compadres, comadres, afilhados e afilhadas sobre seu relacionamento com ela. (Esta nota é uma colaboração da equipe do blog.)


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HISTÓRIAS DAS TERÇAS 2


Hilux preta

Ranulfo deliciava-se dirigindo sua Hilux 2008, preta (SW 4x4 3.0 8V TB Diesel). O ar estava ligado na posição máxima e ele sentia necessidade de um cachecol em torno do pescoço, como agora, pois tinha uma eterna faringite que se revelava até no frio da Serra. Imagine no frio de sua paixão! Os vidros com película de 90% não deixam o friozinho escapar (sic), nem a luz penetrar. Do lado de fora ninguém o vê e os pedestres abestados penam com o calor de rachar. No começo da Alberto Sá, por onde ele desliza mansa e vagarosamente, a temperatura está pelos 30 e uma luminosidade que não deve nada à do Saara ou da Praia do Futuro. Ele baba, enlevado, com o quase nenhum ruído e com o cheirinho de novo do carro. Ranulfo está nesse devaneio quando o celular toca e ele atende com prazer, pois vai poder falar de dentro do sonho de toda a sua vida - a Hilux preta, novinha em folha... Ele pega o celular com a mão direita e o leva ao ouvido e como o papo com sua noivinha é bom ele esquece que está guiando. A bela Hilux atinge o centro da avenida, com aquela faixa amarela marcada pelos tachões, e segue tranqüila na cola de um infeliz Focus cinza. A namorada, presume-se, diz algo picante ao celular e ele se altera um pouco ultrapassando o Focus e lhe arranca as portas. Como isso já aconteceu outras vezes com amigos seus, Ranulfo não se incomoda e continua o seu passeio, deliciado com as maravilhas que sua nova máquina lhe proporciona, bem melhores do que aquelas que a namoradinha pode lhe propiciar.

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Sunday, December 16, 2007

HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 55


Um escravinho

Seu Hemetério, o velho fazendeiro da Lagoa Grande, estava em situação difícil, pois tinha perdido todo o seu gado com a grande seca e as plantações foram um desastre. O legume que deu foi muito pouco, não dava nem para seu uso e dos filhos. Estes viviam esperando que o velho morresse para herdar cada um uma tripa de terra. Iam morrer de fome. Ele ainda tinha umas cabras e ovelhas e a bodega dava um pouco de modo que ia passando. O que mais lhe preocupava era a conta que tinha com seu compadre, o Coronel, e que fazia já tempo que ele não podia dar nada para abater. O Coronel já tinha mandado carta, mandado um positivo e ele mesmo foi um dia, a cavalo, até à fazenda, para ver se trazia alguma coisa. Foi nessa viagem que ele viu que o compadre Hemetério tinha uns quatro ou cindo negros de serviço, inclusive dois negrinhos bem fortes e bonitos. O Coronel voltou para a cidade e daí a dias escreveu uma carta ao compadre que terminava com essas palavras duras:

“Sei que lhe custará vender um escravinho, o criou e tem-lhe amizade, mas o que se há de fazer quando se tem precisão e que estamos vendo que se não entregamos a bem havemos de entregá-los por força? No entanto fará o que entender. Estimo-lhe saúde e sou seu criado etc., etc...


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Saturday, December 15, 2007

POEMAS BARRETO/XAVIER 4


LÍVIO BARRETO XAVIER, o primeiro filho homem do casal Elisa Barreto Xavier e Ignácio Xavier, nasceu na Granja em 1900 e faleceu em São Paulo em 1988. Ele próprio dizia que enumerar suas leituras de menino seria um nunca acabar. Influenciado por sua mãe, devoradora de livros, e pela tradição que, dizia-se, permeava a cidade natal dada a característica de ter sido o berço do primeiro Lívio (Barreto), ele não fugiu à regra. A fome de leitura, o fato de ser visivelmente muito inteligente e ter a cabeça avantajada, o levava a ser conhecido como o “pequeno Rui”. Muito cedo lia autores como Eça de Queiroz, Alexandre Herculano, Julio Diniz, Camilo Castelo Branco, entre os portugueses e, entre autores brasileiros, José de Alencar, Manoel Maria de Macedo, Olavo Bilac, Coelho Neto, João do Rio, Júlia Lopes de Almeida, Rocha Pombo, enfim, tudo o que lhe caia nas mãos. Foi poeta bissexto, estando alguns de seus poemas publicados no livro “Poesias”. Aqui vai uma amostra de sua arte:

Odisséia

Basta de sofrer
Basta de te ver
Limo verde acumulado
Nos cabelos das sereias
Nos dentes dos cavalos
Aferrados às garupas
Das sereias intocáveis
Não quero mais viver
Não quero mais sentir-vos
Olhos, cabelos e dentes
Pobre Ulisses
Cego Ulisses
Surdo Ulisses

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Thursday, December 13, 2007

O Povo da Malhadinha 31


Castiga na aumeixa

Os amigos estavam bebericando sua cachacinha no boteco do Seu Vicente quando chegou o Chico, conhecido malhadinha expatriado na Granja, que reunindo-se a eles logo pediu um trago e tira-gosto. Ele estava tão bêbado que os outros pediram ao Seu Vicente que botasse no prato do tira gosto umas três ou quatro baratas mortas só para sacanear com o bebum. Seu Vicente, atendeu ao pedido e os amigos se despediram do Chico. Quando o tira gosto acabou ele virou-se para Seu Vicente:

- “Uuuummm”! Ô Ricente me dá mais um trago e castiga na aumeixa!

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VISTAS DA GRANJA 24 - VÍDEO PARTE 1 DA "SALA AZUL" - RESIDÊNCIA DA FAMÍLIA XAVIER

Dizia-se que os filhos do casal Elisa Barreto e Ignácio Xavier, saíam em disparada para esconder-se em uma das camarinhas da grande Casa, cada qual levando um livro aberto, sempre que seus pais recebiam visitas.

Essa fixação pelos livros vem, acredita-se, de seus avós e tios sobressaindo o avô José Soares Barreto, “O Águia do Trapiá” e o tio Lívio Barreto, o ”Lucas Bizarro”, da Padaria Espiritual.


O vídeo (Parte 1) mostra a "Sala Azul" da residência da Família Xavier na Rua Pessoa Anta, no centro da cidade de Granja. Nessa sala encontra-se a maior parte dos livros referidos acima.



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Wednesday, December 12, 2007

HISTORIETAS DO MEIO DA SEMANA 10


Os Sugarana

Quando os dois burros carregados, e mais o alazão montado por um desconhecido, junto com o baio, apontaram lá embaixo na várzea eles viram logo que era o Velho Futrica que chegava para vender seus trastes. Mas quem era o companheiro do Velho e que se apeou do alazão? Ninguém sabia, mas quando as malas foram retiradas e os burros levados pro pasto, Seu Raimundo Passos e os filhos logo cercaram os cavaleiros na varanda para ver os artigos que o Velho tinha trazido. Conversa vai conversa vem, eles descobrem que o outro é visitador da Igreja de Sobral, de nome bonito: Padre Francisco Sugarana. Ele ia passando para visitar Quatigaba, logo ali adiante. Depois que o Pai comprou algumas poucas coisas, os adultos foram tomar um café gordo que Dona Alzira havia preparado e continuam a conversa iniciada na varanda. Seu Raimundo diz então ao visitador:
- Padre, eu acho seu nome muito lindo. Posso botar ele no meu filho que nasceu na semana que passou?
Padre Francisco coçou a cabeça e disse:
- Seu Raimundo o senhor pode botar o nome de Francisco em seu filho, não tem problema nenhum, pois é nome de santo.
- Não, Padre, eu achei bonito foi o nome Sugarana! E eu quero sua licença para botar no menino invés de Passos, que eu acho feio. Se o Padre concordar o nome dele vai ser Miguel Sugarana!
O Padre Francisco olhou para o Velho Futrica e deu uma piscadela e, virando-se para Seu Raimundo disse:

- Pode botar o nome e o bruguelo já tem minha benção!

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Tuesday, December 11, 2007

HISTÓRIAS DAS TERÇAS


(Ella consegue novamente perturbar a administração deste blog, pois forçou o aparecimento das “Histórias das terças”. Veremos se Ella tem sucesso.)





Ella na Piazza Signoria

Alguém lhe falou que Regina o traia com um jovem médico. Ele só acreditou quando os viu na pousada do francês, na Prainha, no maior agarrado. Como eles já estavam de viagem marcada ele nada falou. Resolveria o caso na volta. Viajou com ela para Roma, com uma breve escala em Lisboa. Chegaram no sábado a noite e ficaram até terça pela manhã quando tomaram um trem expresso para Florença. Hospedaram-se em um hotel fora do centro, mas saíram logo de táxi até a Piazza Signoria. Lá desceram e foram caminhando em direção à Ponte Vecchio. Até aí eles quase não haviam falado. Pedro então disse para Regina:
- Você vai até a ponte e espera por mim na loja dos Fratelli Piccini. Pode escolher uma jóia bem bonita e pague com o cartão que lhe dei.
Ela deu um sorriso mostrando seus pequenos dentes salientes e se afastou. Ele caminhou mais um pouco pelo Lungarno delle Grazie olhando para a ponte e parou em frente a uma barraca aparentemente especializada em produtos de couro. Pedro falou:
- Você tem cinto de couro? Legítimo? Barato?
O mulato respondeu:
- Sim! Tenho! Este aqui...
Ele então mostrou um cinto a Pedro que logo o colocou em substituição ao seu – ainda novo - que havia retirado.
- Está bom. Vou levar este, quanto custa? Mário, o barraqueiro, diz:
- Custa só trinta euros e é legítimo couro do Brasil.
Após pagar ele sai apressado a procura da amiga mais adiante na Ponte. Eles tomam um táxi para o hotel, ela com um belo colar de coral vermelho e ele com um cinto de couro brasileiro. Logo que chegam ao apartamento ele puxou o cinto e, com facilidade, encontrou a pequena alavanca na fivela, pressionou-a permitindo a saída de um papelucho. Ao examiná-lo sob luz forte ele leu:

"Mande sua amiga me procurar no café Rivoire, na Piazza Signoria. Trajo um vestido branco de seda e um grande chapéu negro. Estarei tomando um espresso. - Ella."

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Sunday, December 09, 2007

HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 54

Manga verde

O moço comia uma manguita verde na beira do rio quando aparece o “Gago réi” e fica de longe só olhando, olhando. Depressa ele fala pro gago:
- Não vai dizer pra ninguém que você me viu, não conta nada, não!
Logo depois ele completa:
-“Gago rei” vai lá em casa e pede à mulher uma toalha e um sabonete que eu quero tomar banho.
O gago foi e quando chegou à casa do moço deu o recado à mulher. Esta foi logo perguntando pro coitado:
- Como é? Onde ele está? Ele saiu de casa banhado e cheiroso e agora diz que vai tomar banho no rio; o que ele está fazendo lá, “Gago rei”?
- Eu num vi nada, não! Eu num sei nada, não...

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Saturday, December 08, 2007

POEMAS BARRETO/XAVIER 3



INÁCIO XAVIER FILHO, o mais novo filho de Elisa Barreto Xavier e Ignácio Xavier, nasceu em 1921 na Granja e faleceu em 1999 em Fortaleza. Inácio não fez cursos superiores; em São Paulo freqüentou cursos de Letras Clássicas. Escreveu muita poesia e lia grego e latim, com certa facilidade. Sua poesia está publicada na revista “Literatura Brasileira” (Shogun Editora E Arte Ltda.) como participante de concursos ou por sua própria iniciativa. Além disso ele deixou, sob a guarda de seu sobrinho Inácio Xavier Gouveia, dezenas de manuscritos não publicados que hoje fazem parte do acervo do Instituto José Xavier, Granja.


SONHOS...

Sonhei um sonho impossível,
Com certa loura intocável!...
A alcoviteira morena,
Não me cedeu nova Helena...

O inconsciente, molosso,
Deu um toque de colosso...
Fiquei duro, cataléptico,
Como em transe apocalíptico!...

Hoje penso, conturbado,
Que não há sonho dourado:
Rebuscado, quando seja,
Sempre da gente moteja!...

(Publicado na revista “Literatura Brasileira” de 1986)

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Friday, December 07, 2007

Thursday, December 06, 2007

O Povo da Malhadinha 30

Aprendendo a guiar

Compadre Altino aceitou o pedido para ensiná-lo a guiar. O automóvel era novinho e ele o tinha posto na praça para fazer um pouco de dinheiro e, se aprendesse a guiar economizaria o salário do chofer. No dia marcado para a primeira aula chega o compadre e vai logo passando as informações julgadas necessárias: mostra a alavanca na direção, os pedais da embreagem e do freio, a ignição que tem de ser feita com a manivela, e diz para que serve cada um dos mistérios e quando ele deve acioná-los. Logo depois saem e com o malhadinha já ao volante. Logo se aproximam perigosamente de uma pilha de pedras em frente à casa do Zé Gifoni e os compadres tocam a gritar: Altino mandando seu compadre frear e este, aos berros, dizendo não saber onde era o freio!
O carro novinho em folha parou trepado na pilha de pedras. Compadre Altino vira-se para o amigo e diz:
- Compadre você tem muita inteligência, mas ela não está nos seus pés...
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Wednesday, December 05, 2007

HISTORIETAS DO MEIO DA SEMANA 9

Fome

Fazia uns dois dias que ele não comia coisa alguma. O estômago roncava e ele se sentia muito mal. Mesmo assim saiu do Otávio Bonfim e foi ao centro, a pé. Na Praça dos Leões ficou de longe espiando um bacana sentado a uma mesinha na calçada do Bar Brasil mastigando, sem muito entusiasmo, um sanduíche e tomando uma coca. Quando o cara levanta para ir embora ele se aproxima e pergunta se pode pegar o resto do sanduíche que ele havia deixado. O camarada olha prá ele de cima a baixo e diz:
- Vai embora vagabundo, vai trabalhar. O garçon completa:
- Some daqui malandro!
Ele sai de cabeça baixa e vai até o Mercado São Sebastião e logo vê um feirante jogando bananas podres, ou quase, no mato. Ele chega perto:
- Seu moço me dá uma banana dessas... O feirante diz que ele pode pegar quantas quiser. Ele começa a separar bananas podres de bananas menos podres. Come logo uma das menos podres, mas descobre que não pode engolir a fruta toda: “provoca” e mesmo assim começa a sentir terríveis cólicas. Vai embora pro cafofo em que estava arranchado e dorme a noite toda. Quando acorda come o que sobrou das bananas e vai procurar alguém que lhe empreste algum dinheiro para voltar, antes do dia de São José, pro sertão esturricado do sol.
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Sunday, December 02, 2007

EXTRA! EXTRA!


NOTÍCIA EXTRA!

Acaba de ser publicado em São Paulo o livro "VÁRIOS CONTOS DE FADAS PARA VOCÊ SE DIVERTIR" de autoria da Senhorinha Luísa Viana Xavier. Os desenhos que ilustram seu livro foram também feitos por Luísa. A direita a novel escritora prepara-se para a tarde de autógrafos de seu livro.

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HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 53

Angelika

Após o almoço, regado a um bom vinho do Reno, e dado seu cansaço, o Coronel Peter Wolf cai no sono ao qual resistira até há pouco por causa da bela comissária morena de olhos verdes que passava rebolando o traseiro brasileiro e sorrindo para todos os homens. Logo depois quando olhou pela janela viu a suástica pintada na asa do pequeno avião que o transportava para Paris onde iria assumir seu novo posto no escritório do Reichswirtschaftsministerium na França ocupada. Subitamente, ele nota uma pequena mancha se aproximando do Norte. Daí a instantes ele vê que é um avião. Mais um pouco e ele consegue distinguir as insígnias da RAF pintadas na carenagem. O caça, parecia um Mustang, começa um furioso ataque solitário que faz enorme estrago no pequeno avião.

Peter Wolf acorda e ergue o rosto e se depara com o sorriso de Angelika que lhe oferece uma weißbier bem geladinha.

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Saturday, December 01, 2007

POEMAS BARRETO/XAVIER 2



MÁRIO BARRETO XAVIER, filho de Elisa Barreto Xavier e Ignácio Xavier, nasceu em 26 de abril de 1906 na Granja e faleceu em quatro de dezembro de 1969 em São Paulo. Aparentemente não teve nenhum de seus poemas publicado.

IDEAL

Quero ir para Chavantes.
Lá viverei contente.
Comprarei um cavalo.
Me amigarei com uma cunhã qualquer da terra, - simples,
Ignorante, e fácil.
Farei filhos nela, muitos filhos, muitos.
Passearei no meu cavalo, comprado com o meu dinheiro.
Ficarei mais queimado, ganharei sangue.
Às vêses (não muitas vêses) me embebedarei com
Energia e baterei na cunhã.
Não amarei as moças da sociedade.
Amarei somente a cunhã, com grande superioridade.
Dominarei. Farei economias.



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