Sunday, May 27, 2007

O Povo da Malhadinha 8



A respeito da Castanhola, atual Várzea, conta-se uma historinha da lavra de João dos Santos, nascido na Malhadinha. Ele ia da Granja para Fortaleza em um caminhão guiado pelo Cabecinha. Quando chegam na Várzea o velho João pergunta onde eles estavam e o Cabecinha responde:

- Coronel! Nós estamos na Castanhola, desça um pouquinho para tomar um cafezinho.

Ele recusa e, com a veemência dos malhadinha adianta:

- Não! Não quero! Já dizia o Luis Felipe que a Castanhola é terra de cavalos bons e matutos ignorantes!

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HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 28







Você tem dois anos

Ele deu um pulo da rede e, esfregando os olhos com as mãos falou alto:

- Esqueci de levar os meninos na escola!

Raimunda, que havia notado sua movimentação, lhe disse:

- Calma, homem, são três horas da tarde!

- Que dia é hoje? Ele perguntou estremunhado.

- Hoje é terça e são três horas da tarde. O Senhor não esqueceu as crianças não. Eles só vão para a escola agora amanhã; o Senhor levou eles de manhã.

Já fazia tempo que isso lhe acontecia. Já fora ao médico e o tal havia dito, baseado em um diagnóstico preliminar (...), que ele estava entre os 2% dos idosos com mais de 65 anos que desenvolveriam uma doença degenerativa grave, tipo de Alzheimer, ou Parkinson, ou Creutzfeldt-Jacob (doença da vaca louca; no seu caso seria do boi [?] louco). Ele estava perdendo matéria craniana do lobo frontal. Adiantou que seria bom que suas observações clínicas fossem corroboradas por um exame de Ressonância Magnética do Crânio.

- Doutor Araripe diga logo, qual é o tempo que tenho?

O doutor responde sem titubear:

-Você tem dois anos, Ricardo!

Ele deu uma gaitada.

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Monday, May 21, 2007

O Povo da Malhadinha 7

Uivos

Certa noite de lua cheia Jorge saiu para dar um bordo pela beira do rio. Quando chegou perto ouviu o que lhe parecia serem uivos. Aproximou-se mais e viu, acocoradas sobre as pedras do rio, lavando roupa, três mulheres. As damas continuaram a uivar – pois eram elas que uivavam - e ele voltou correndo para casa, mas só depois de dar uma rápida olhadela para os rostos para ver se as reconhecia. O que ele viu assustou-o, pois eram exemplares extremamente feios do universo feminino. Ao chegar contou sua história para a avó e ela então mangou:

- Meu filho se elas estavam uivando e eram feias são, com certeza, parentas suas da Malhadinha.

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Sunday, May 20, 2007

HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 27




Avião, Morte, Ressurreição.

Ele sentou-se na poltrona marcada 9D no corredor; amarrou o cinto e preparou-se para ler os jornais que trouxera. Jorge sempre levava dois ou três jornais e mais um ou dois livros para ler no avião; com certeza ele não daria conta de todo esse material, mas era precaução, aliás, meio boba, para o caso de ficar sem fazer coisa alguma. O vôo era curto, só três horas, mas cansativo. E quando a aeromoça - agora é comissária de bordo - passou no corredor com seu carrinho e falou, afastando-o de seus pensamentos: “O senhor aceita uma barrinha de cereais? E para beber? Temos suco de caju, suco de manga e guaraná diet”, ele respondeu:

- Aceito. E um suco de caju, por favor.

Mastigando a barra insípida e engolindo com ajuda do suco ele rememora seus pensamentos de há pouco. Já no “check-in” pensava no vôo e como seria, caso o avião caísse. Não que ele tivesse medo de morrer; isto já fazia parte do passado. Ele pensava em como ficariam “as coisas” com a sua morte: como ficariam seus filhos e netos, quem retomaria seu trabalho, a casa da praia seria vendida? aquelas paqueras será que chorariam? Ele agora tinha esses pensamentos intrusivos no dizer de uma amiga (Será que ela choraria?). Eram pensamentos que chegavam e tomavam o lugar daqueles outros, normais (?), do dia-a-dia, mas não chegavam a perturbá-lo em demasia.

Durante a aterrissagem, e nos instantes em que o avião taxiava e aproximava-se da cegonha ele ficou tranqüilo. Então a aeromoça, notando seu largo sorriso zombeteiro perguntou-lhe:

-Precisa de ajuda Senhor?

Jorge pensou antes de responder: “Saio do caixão em que me encontrava e tudo volta ao normal: minha vida besta, a família, a coleção de borboletas e outras coisas, enfim tudo. Tudo normal como era antes da viagem. A única mudança é o novo cenário a descobrir ou redescobrir: pessoas, ruas, monumentos, museus, restaurantes, cinemas, livrarias, o escambau. Tudo o que faz parte da minha vida e da vida de todo mundo.”

-Não, obrigado, acabo de descer das minhas nuvens.

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Monday, May 14, 2007

O Povo da Malhadinha 6


O Povo da Malhadinha 6

Ainda outra história originada do povo dessa fértil terra é sobre a visita que fazia à Velha Senhora o casal amigo que estava na cidade para um batizado. Os três já estavam conversando há tempo e ela se preocupava, pois não havia coisa alguma em casa para oferecer-lhes. Subitamente, entra o netinho preferido e apresenta ao casal dois palitinhos de madeira com dois carocinhos de feijão espetados. Oferece ao casal aquele regalo:

-Tome Senhor! Tome Senhora! Após terem aceitado e degustado a iguaria o casal se despede e vai embora. A vovó pergunta então ao netinho:

- Meu filho aonde você pegou aqueles carocinhos de feijão, pois nós não temos nada! O netinho responde, todo satisfeito:

- No piniquim da Vovó!

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Sunday, May 13, 2007

HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 26


O frembante

Esperando ser atendidos os dois ficaram horas sentados nos bancos desconfortáveis e sujos observando os outros pacientes submetidos ao mesmo suplício. Logo, o vizinho do lado fala que seus parentes nunca o haviam procurado: pais, avós e tios, bem como os primos, ninguém. Só um primo de Minas o tinha convidado para passar uns dias com ele. Assim que chegou à fazenda os dois foram tirar mel no mato:

- Foi a maior aventura! Quando abrimos um dos favos eu vi uma abelha olhando para mim quase me obrigando a retornar aquele olhar meigo... Não havia nada mais lindo!

Então ele cutucou sua vizinha de banco e disse:

- A gente conhece a pessoa pelo frembante!

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Tuesday, May 08, 2007

O Povo da Malhadinha 5


O Coronel e seu amigo

Certa tarde o Coronel foi dar um bordo pela cidade; ele queria ver as obras de limpeza da casa de um amigo, ex-colega de trabalho. Este havia mandado toda sua família para o interior, para uma de suas fazendas, pois isso facilitaria a execução das obras. Mal chegando à casa foi entrando sem bater palmas ou pedir autorização, na suposição de que estivesse vazia. Subitamente, ao sair de um corredor, ele vê seu amigo dando uns amassos em uma de suas (dele amigo) cunhadas. Mais que depressa, pé ante pé, ele retorna, volta para sua casa e conta para um de seus funcionários:

- Estou morrendo de vergonha. O que é que eu queria olhando a casa de ninguém, meu Deus! O outro lhe responde:

- Quem devia ter vergonha era ele!

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Sunday, May 06, 2007

HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 25


Céu-da-boca

Ele era um famoso Biologista Molecular, com grande experiência em clonagem de genes de plantas. Certa ocasião fazia uma conferência para uma assistência de mais de duzentos colegas. Já quase ao final da demorada palestra ele a interrompe para tomar um pouco de água. Ao levar o copo à boca afirma:

- Vou tomar um copo d’água antes que minha língua pregue no céu-da-boca”.

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