Saturday, September 19, 2009

POEMAS BARRETO/XAVIER 89


Lívio Barreto é o autor deste poema.

NÁUFRAFO!

(Naufrágio do vapor “Alcântara”)

(Poema de tons românticos, figurou em O Pão n. 1, de 10/7/1892, assinado com o nome de guerra de Lívio Barreto, Lucas Bizarro. Viajando para Granja, o vapor “Alcântara”. em que viajava o Poeta, naufragou na noite de 27/6/1892. perto de Periquara, salvando-se Lívio Barreto a nada. Conta-se, a propósito, que o Poeta fora recolhido por um barco, mas vendo um velho que se aproximava entre as ondas, buscando socorro, e percebendo que a embarcação não suportaria o peso de mais um, lançou-se à escuridão das águas, arriscando-se a perecer, não obstante ser exímio nadador. Este episódio foi relatado pelo poeta Gastão Justa, em seu discurso de posse na Academia Cearense de Letras, em 1952, e foi-nos confirmado por uma sobrinha de Lívio Barreto, Líbia Xavier, sendo fato conhecido entre seus parentes.) Nota de pé por Sânzio de Azevedo na 2ª. Edição de “Dolentes”, Secretaria de Cultura do Ceará, 1970.


Eis-me náufrago e só, na vastidão
Da praia desolada,
Aonde o mar – indômito leão –
Esmaga a onda fria e angustiada.

Eis-me náufrago e só! Áspero e frio
Corta-me o vento os ombros
E o firmamento triste, ermo e sombrio
Tem a mudez inerte dos assombros.

Eis-me náufrago e só! Como um lamento
Que sai da escuridão de subterrâneo,
Vem-me nas asas trêmulas do vento
O grito surdo, fúnebre, titâneo,
Que o mar solta do peito truculento
E a alma nos corta, agudo e subitâneo,
Como uma flecha o azul do firmamento!

Eis-me náufrago e só! A alma inda presa,
Tonta de luta, trêmula,
De angústia chora, se ajoelha e reza!
E a onda – alma do mar – da nossa êmula,
Vemo-la forte a rugitar e vemo-la
Morrer na praia onde o silêncio pesa.

Eis-me náufrago e só! Triste, cansado,
Meditativo, absorto!
Meu coração no peito angustiado
Precisa de carinho e de conforto.

Eis-me náufrago e só! A ave que passa
Riscando o azul puríssimo do céu
E sente as asas súbito quebradas
Pela bala certeira da desgraça
Talvez não sinta tanto como eu!

Eis-me náufrago e só! Oh! Minha irmã,
Meu derradeiro altar imaculado!
Choro por ti à luz desta manhã;
E o pranto quente, doloroso, brando,
É o amor que da alma me rebenta, quando
O coração estorce-se magoado!

Oh! Minha Mãe! Que sofrimento infindo,
Quanta angústia cruel, pesar e dó,
Sinto ao saber que tu me esperas rindo,
Sem pressentir que estive sucumbindo!...
...............................Eis-me náufrago e só!

- Praia da Periquara,29 de junho de 92.


O texto está completo.

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