Wednesday, August 12, 2009

HISTÓRIAS DE JORGE RAPOSO 23


GEORGE FOX, MARINHEIRO INGLÊS.

(webrotor.com/pages/military/naval/naval.htm)

Chegou o sábado e bem cedo chegaram Vanessa e Leluli. Quando os dois entraram no apartamento - ela tinha a chave - Jorge estava em seu quarto cochilando na rede vermelha. Ele sempre usava a rede ao lado da cama e trocava de uma para outra toda madrugada. Vá lá saber por quê! Os dois saíram do quarto em silêncio e foram ver televisão na sala, com o som no mínimo, para não acordá-lo. (...)

Jorge continuou a dormir o sono leve em que tinha estado desde a madrugada. Ele sonhou com seu pai, o velho Raposo Filho. Em seu sonho ele, como muitas vezes fizera, perguntava a seu pai de onde tinha vindo sua família. O velho gostava de contar para o filho criança uma história aparentemente meio verdadeira e meio inventada.

Ele dizia que um de seus antepassados fora um marinheiro inglês de nome George Fox, grumete de um navio que aportou na Cidade, pelo fim do século XVIII. Ele fugiu e se embrenhou de sertão adentro e o navio partiu sem ele. Este primeiro Raposo, pois ele aportuguesou seu nome para melhor ser aceito pelos habitantes do local que não gostavam de ingleses, gente que enriquecia explorando os outros países casou com uma das filhas do vigário da vila, que vivia de portas a dentro com uma índia de nome Guaciara. O casal teve muitos filhos que até não se sabe o seu número exato. O que é certo é que alguns deles ganhavam a vida como tropeiros, transportando cargas no lombo de jumentos e burros de um lugar para outro. Alguns eram exclusivos de algumas poucas firmas comerciais da Cidade. Entre essas estava Pitombeira & Cia que tinha um negócio de exportação e importação na cidade. Essa firma exportava principalmente charque, cera de carnaúba e algodão em pluma e importava fazendas, louças, café e uma infinidade de outros produtos. Essas trocas eram feitas principalmente com comerciantes nos portos do Maranhão, Ceará e Pernambuco.

Um desses rapazes não seguiu a profissão dos irmãos, mas se empregou como caixeiro de Pitombeira & Cia. logo subindo os degraus que o levariam à sua participação na firma. Ele ficou rico, pois a firma progrediu muito inclusive com o comércio de escravos. Sua mulher pertencia à família Teixeira, tradicional, mas sem riquezas, pois seu pai havia esbanjado todos os bens que herdou com a morte do patriarca. Ela era letrada como se diz, sendo capaz, assim como seus irmãos, de ler e escrever, inclusive em francês (Isso para Jorge Neto era um mistério insondável, como tinham eles aprendido francês em um lugar tão perdido?). Havia um que ficou conhecido como um escritor importante. Este Teixeira se correspondia com José de Alencar, o famoso escritor de Iracema e muitos outros livros conhecidos nacionalmente.

O casal Raposo teve dez filhos entre os quais Jorge Raposo Filho, o segundo. Quando Jorge Filho estava com doze anos seu pai pediu a um amigo, capitalista na cidade, que o recebesse em seu negócio para que ele aprendesse o “ofício”. O velho Jorge Raposo fez uma recomendação ao Coronel João Pereira: - Coronel não precisa pagar nada ao menino, pois ele vai ficar na sua loja para aprender e não para ganhar dinheiro.

Após poucos anos Jorge Raposo Filho foi admitido como sócio na firma do Coronel Pereira que já tinha sociedade com outro capitalista local. A firma passou a ter a razão social de Pereira, Raposo & Cia.

Nesta altura da história o pai de Jorge Neto parava de contá-la e dizia para o filho: - Filho você já ta cansado com toda esta besteirada; o resto fica para outra vez.

Quando acordou ouviu o som da televisão e perguntou alto: - Que é que ta passando na Globo? Mudem para o Discovery que eu quero assistir a um programa que vai passar às dez horas. É sobre descoberta de fósseis de dinossauros na Argentina. Deve ser bom.

Raras vezes ele tentava impor suas preferências.

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