Friday, December 18, 2009

POEMAS BARRETO/XAVIER 94


ISA FRAGOSO

Mostro hoje poema de Maria Elisa Xavier Fragoso Gouveia que me foi apresentado por Agenor Beviáqua. Isa é mais um membro da tradição Barreto/Xavier de poetas granjenses. À guisa de apresentação passo a palavra a Agenor que escreveu em seu blog:

“Numa manhã ensolarada de abril de 1941, poucos dias depois de minha mudança para a Granja, aproximei-me de um grupo de jovens sentados à sombra de um tamarindeiro, em frente à casa de Dona Susete Fragoso. Na Ocasião falavam sobre o filme “E o vento levou”, produção colorida de 1939, chegada ao Cine Orion de nossa cidade ao mesmo tempo em que o livro de Margaret Mitchell, autora do livro de igual título, já conhecida de, pelo menos a jovem Isa (Maria Elisa Fragoso Gouveia). Pude vê-la, comprovando que conhecia o livro, dizer como era iniciado o primeiro capítulo: “Scarlet O’Hara não era bela” e etc.
Eu, então, não tinha visto o filme, que eu haveria de assistir repetidas vezes depois, no decorrer de muitos anos. Naquela ocasião, o drama de secessão nos Estados Unidos, tão bem enfocado em cenas inolvidáveis do filme não me motivava para ter participação naquela conversa. Em outras paragens andavam então os meus pensamentos. A eloqüência da jovem Isa era agradável, mas o que mais me agradava mesmo era seu porte de jovem, ela própria bem certa de que era uma belezinha que despontava prometendo uma majestade de mulher, talvez uma miss Granja.
No início de 1946, deixei a Granja. Estava ela então com 20 anos. Longos anos em São Paulo, distante da minha cidade e sempre sem informações do que lá ia acontecendo, eu só sabia que ela se casara com Antonio Gouveia Filho (Toin Gouveia), não tendo com o casal nenhum contato. Enviei a ela o meu “O mundo que eu vi”em 2008. Dela recebi carta de 15 de outubro desse ano acusando o recebimento do volume e dizendo que eu tinha uma memória privilegiada. Enviou-me duas poesias dela, produzidas em Fortaleza no ano de 1978. Numa apresentou, poeticamente, a beleza do nosso Rio Coreaú e na outra, o anoitecer na nossa velha e querida cidade, banhada pelo rio que em versos homenageou.”
(A gravura é "Anoitecer" de A. Mucha)


O ANOITECER

O sol declina no horizonte,
Os seus últimos raios
Ora dourados, ora esbraseados,
Em paisagem apoteótica
É um prenúncio da noite
Que se aproxima silenciosa.
Em tênue penumbra
Vai a terra se cobrindo,
As estrelas, aos poucos, vão surgindo
Pontilhando a abóbada infinita,
Com seus reflexos longinquos
Quase a se perderem no espaço.
A Via Láctea cintila,
Como véu brumoso estendido,
A se arrastar pelo infinito
Abrindo um caminho brilhante
De mil minúsculos brilhantes.


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