Saturday, November 28, 2009

CONTOS DA RIBEIRA 18


CASINHA DE BONECAS.

Hoje, quando se comemora o dia do índio e também do massacre dos judeus em Lisboa os bonequinhos foram tomados de surpresa, pois descobriram, ao chegar à frente da casinha que ela estava fechada; sua dona sabia que, por causa dos feriados, além daquele que se comemorava em sua própria casa, estaria tudo fechado. Mas ela não avisara aos bonequinhos e bonequinhas que todos os dias vinham brincar. (...)


A dona brincava com meninos e meninas, todos feitos de plástico dos mais diversos tipos e cores e origens, havia até uns que, de tão velhos, caiam aos pedaços, mas outros ainda levavam seus leitinhos para a merenda, pois a Judite não dava merenda, ao contrário, ela exigia tudo dos bonequinhos e bonequinhas: quem quisesse participar e continuar na brincadeira tinha de prestar vassalagem a ela sob a forma de merengues, sucos e outras finuras. O mais interessante é que ela, mesmo com todas as limitações conhecidas só tratava seus bonequinhos e bonequinhas a coices dados ao léu, e que quando os atingiam causavam muitos estragos.

Para se tentar entender o estranho comportamento de Judite é necessário que se esclareçam suas origens. Essas são registradas desde os tempos da Rainha Juliana I da Holanda. Essa era filha adotiva da Rainha Vitória da Inglaterra, neta de Julio César, primeiro Imperador romano e gostava de andar peada pelos campos da Andaluzia, fazendo par com Incitatus, a cavalgadura do primo Calígula. Foi em um desses passeios, acompanhada por seu escudeiro Aquilino, o fiel Bobo da Corte, que conheceu Roderico, O Godo, que logo lhe fez um filho a quem foi dado o nome de Josephus Josephi que foi, a seu tempo, um importante bufão da corte de Dom Sebastião, O Esperado. Esse Josephus Josephi é o antepassado mais conhecido de Judite.

A parte da brincadeira com os bonequinhos e bonequinhas da qual ela mais gostava era quando podia - quase sempre - usar os cordõezinhos de fio de alpaca que faziam os bonequinhos dançar e falar. Há de se notar que os machos dançavam bem melhor do que as mulheres, eles eram verdadeiros Nijinskis. Para compensar as meninas gostavam muito do rela bucho.

Outra qualidade das brincadeiras eram os pontapés, coices e marradas que Judite dava nos brincantes quando ela começava a enjoar deles, bem de acordo com sua ascendência e criação em diversos haras da Europa. Os mais rebeldes dos amiguinhos reclamavam, mas nada; um deles chegou mesmo a comprar um relho de couro cru e um par de peias de couro curtido, mas não deu em nada, pois antes que ele fizesse alguma coisa Judite mandou seu namorado novo jogá-lo no rio cheio. As brincadeiras continuaram por muito tempo, por muitos invernos até Judite viajar para a Cucuia, que ninguém sabe onde fica e de onde não mais voltou. Poucos meses antes de sua viagem Tiradentes montou consultório bem na Rua do Azevedo, especialmente para tratar da dentadura de Judite –de 36 dentes – e de seus brincantes.

Logo que as tais brincadeiras começaram a amiga preferida, pois existia uma, lhe disse: - Você aprende a dar esses coices direito senão aparece um menino rei desses e lhe dá uma chicotada e lhe põe uma cangaia e umas peias e lhe solta bem longe no pasto do seu padrinho. Judite nada disse, mas ficava imaginando como seria difícil isso, pois ela era “Judite, a verdadeira manga-larga”!


No comments: