Sunday, May 02, 2010

A VIDA AVENTUROSA DE TROFIM VASEC EM DIVERSOS CAPÍTULOS – 5


Uma noiva para Trofim Vasec


Os dias passavam na maior tranquilidade, mas eram secos, quentes e poeirentos, até a viração tinha-se acabado. Já não chovia fazia meses e todos estavam com medo da seca que se anunciava nos sinais conhecidos: o peba ainda não tinha suado e os urubus estavam cantando e pondo ovos. Era de assombrar. (...)


No dia 19 de março o Padre Pinto havia lembrado do compromisso de São José com seu povo, mas mesmo isso não favoreceu a chuva. Os homens da Capital diziam que não ia chover, mas isso também não tinha importância, pois teríamos mais sol para favorecer o turismo na Beira-Mar e em Jeri. Aí ta bom.

Voltando a Trofim ele esqueceu da menina adoidada que o Zequinha havia-lhe apresentado como sendo casadoura, pois viu que ela era doida mesmo. O diabo é que ele passou a acreditar que tinha de casar, e com uma moça rica. Não precisava ser bonita, bastava ser rica, filha de algum coronel capitalista.

Ele lembrou do seu Narcizo, o dono do ponto que ele alugava no Mercado. Acontece que esse seu novo amigo era um positivo do Coronel Totonho, o homem mais rico da Ribeira e que tinha uma filha de seus dezessete anos, doida para casar. Por incrivel que pareça Aline, era este o nome dela, nunca tivera pretendentes na cidade e nem em qualquer lugar que tivesse andado. Ela era uma moça muito feia por fora e, dizem, também por dentro, se é que me entendem.

Certa tarde Narcizo convidou o amigo Troféu para passarem em frente à casa do Coronel, a Casa Grande, na Rua do Accioly na ora da viração. A Família estaria certamente lá, todos sentados em cadeiras confortáveis conversando e falando sobre a vida dos outros.

- Coronel Totonho este aqui é o meu amigo Trofim que todos conhecem por Troféu e que está com negócio onde o Capitão Zé Raimundo tinha a bodega dele, do outro lado do Mercado. Você sabe.

O Coronel estendeu a mão para o homem louro e começou a ter pensamentos. Dona Eulália já ouvia os gritinhos dos netinhos a correr no grande salão e Aline logo pôs seus olhos lânguidos e remelentos no jovem eslavo demonstrando um interesse grande. Desde essa tarde Trofim Vasec passou a procurar conversa com o Coronel Totonho e com as duas mulheres. Os filhos homens do casal estudavam em Fortaleza e, de qualquer modo não se interessavam por esses assuntos familiares, desde que não comprometessem muito sua futura herança. Trofim observava para o amigo Narcizo que a moça era delicada sabia conversar, fazer trabalhos de mão, mas era muito, muito feia. O amigo dizia:

- Se você visitasse a família de cada coronel desde a Estação até o Alto você encontraria muitas moças bonitas, jovens e casadouras, mas nunca encontraria uma tão rica como Aline. Case com ela, home, que você vai fazer seu futuro, constituir família, seus filhos serão ricos comerciantes, políticos, deputados e certamente chegarão a ser prefeitos da Ribeira. Daí sua família vai dominar todo o território, eu garanto, por São José.

Trofim concordou tendo em vista o que ele já tinha sabido no pouco tempo que estava na cidade.

Não demorou nada e o eslavo de olhos azuis estava namorando firme Aline, a herdeira do Coronel mais rico da Ribeira. Sem nos determos na apreciação dos amaciamentos decorrentes de sua condição de namorados chegamos aos degraus da Igreja. O casamento foi marcado e no dia certo o padre veio de Sobral, pois o da Ribeira havia sido expelido dado suas atividades extra-sacerdotais muito evidentes. A própria noivinha sentiu falta do amigo Padre Lisboa.

O casamento foi realizado no jardim da residência familiar, pois o noivo, ou melhor, sua fé, não era vista com bons olhos pelo Padre. Após a cerimônia houve uma ceia que foi servida no grande jardim preparado pelo Valdir, o decorador da cidade que entendia muito dessas coisas. A ceia foi fornecida pelos restaurantes da Lalinha e da Shelda. O Coronel mandou vir queijos e pães especiais da padaria do Emílio Sá, vinhos franceses da Casa Albano e muitas outras iguarias da Capital. Por toda a noite houve danças animadas pela banda do Chiquinho Marciano e, de vez em quando, amigas de Aline e sua mãe tocavam mazurcas no seu precioso Steinway.

A festa foi até quase de manhã quando o casal recolheu-se aos seus aposentos especialmete decorados também por Valdir.

É escusado dizer que Aline e Trofim passaram a morar na enorme casa dos pais dela.

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