Tuesday, April 13, 2010

HISTORIETAS DO MEIO DA SEMANA 125

UM CAPUCCINO EM BOLONHA


Há dois dias ele havia chegado a Bolonha para apresentar um trabalho no III Congresso de Biologia Experimental. Tomava um capuccino na noite fria enquanto esperava a volta de sua namorada que fora fazer compras já pensando na volta para o Brasil. (...)


Ricardo era um cientista desses metidos a sebo que vivia em congressos pelo mundo afora tentando acrescentar uma linha ao seu currículo. Isso seria difícil se ele não cuidasse de fazer os trabalhos a que se propunha, no laboratório em Querência, no Mato Grosso. Sua namorada atual, esta que estava a fazer compras de mimos na lojinha da enorme praça, era uma das dezenas (!) de garotas pelas quais ele se interessava. Como seus irmãos e outros parentes que gostavam de colecionar selos, cartões postais, jornais velhos e o escambáu, ele gostava de colecionar namoradas. Ele as chamava borboletas e guardava suas fotos presas com alfinetes entomológicos em painéis em seu escritório no apartamento de solteiro. Essa “menina” tinha 25 anos e era jornalista free lancer, outras borboletas mais recentes tinham sido uma ex-aluna, filha de suecos, uma veterinária que só falava em gatos e cachorros, mas nunca em bois ou vacas e uma cunhazinha que ele encontrou lá perto de São Félix. Ele estava entretido com seu enorme capuccino quando se aproximou uma senhora jovem muito bem vestida – era inverno e isso ajudava – e cumprimentou-lhe. Ele retribuiu o cumprimento e imediatamente reconheceu a senhora. Preparando-se para o diálogo, talvez áspero e nervoso, ele ofereceu-lhe uma cadeira. Inquieto, passou a olhar na direção da lojinha onde se encontrava sua namorada para se precaver de uma surpresa com a chegada inopinada da menina. A senhora bem vestida, em quem ele reconheceu a figura d´Ella perguntou-lhe se ele ainda iria demorar muito tempo na Europa. Ricardo respondeu que ainda ficaria por uma semana e só voltaria depois de ter apresentado o trabalho no Congresso daí a poucos dias. A senhora disse-lhe então que ele teria um encontrado marcado com Ella na viagem de volta e que não tentasse, como das outras vezes, ludibriá-lo. Adiantou-lhe que tinha passado algumas noites vendo filmes sobre desastres de avião e estava afiada neste assunto. Ricardo ficou apreensivo, mas nada lhe respondeu, pois tinha certeza que conseguiria, mais uma vez enganá-la. Não seria agora, aos 76 anos que ele iria partir com Ella.

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