Saturday, March 06, 2010

CONTOS DA RIBEIRA 28


SOB O MANTO VERDE DA CARNAÚBA.

Sentado na poltrona do lado da janela no ônibus que o trazia da capital ele notou surpreso, logo que o veículo entrou nas primeiras ruas, o grande número de casas de morada, prédios escolares e outros prédios públicos, inclusive o do hospital, pintados de verde. (...)


Era mesmo um verde berrante. Ele virou-se e perguntou para a moça que vinha ao seu lado:

- Você está vendo isso? Tudo pintado de verde? O que será? Será que a tinta verde está mais barata do que as outras? A jovem olhou para fora e, confirmando sua observação disse:
- É verdade, Dr. Aristeu, eu já sabia disso faz alguns dias.

Agora tudo é verde. Antes a luz reinava, apesar de ser uma luz fraca e fria de vela. Mas como eram centenas, talvez até milhares, para muitos parecia que alguma claridade existia na Ribeira. Qual o que! O Povo vivia sob uma penumbra enorme, se é que se pode quantificar a penumbra. Agora tudo é diferente, tudo mudou, pois a pobre cidade está mergulhada sob um denso manto verde, verde clorofila.


Ao descer na “Rodoviária do Bravura” ele continuava a ver que tudo estava mesmo verde. Conversando com o Senhor Bravura ele soube que havia sido baixada, nos últimos dias, uma determinação sobre a pintura dos prédios administrativos. Todos eles seriam, a partir de agora, pintados de verde-carnaúba; e foi dado um prazo de dois meses para que a obra ficasse completa. Alguém que ouvia a conversa entre os dois, aproximou-se e, com muito cuidado e com a voz bem baixa disse:

- Eu soube que também foi emitido um decreto estabelecendo que 75% das residências da cidade tenham suas fachadas pintadas com a essa cor que agora é símbolo do burgo. Se isso não for atendido haverá um aumento de 80% no valor da décima.

Em casa de seu tio ele descobriu, pela conversa de Seu Ricardo, que algumas residências e prédios de famílias nos diversos bairros da cidade, já se anteciparam e mandaram também pintar suas instalações interiores com um verde berrante.
Após o jantar quando todos puseram cadeiras nas calçadas e foram aproveitar a viração eles ouviram a Fransquinha, professora no Grupo, lhes contar que a Diretora havia mostrado as novas camisetas que seriam distribuídas aos alunos de toda a rede pública. A cor era verde-carnaúba, com o nome da escola em branco. Ele perguntou:

- E Fransquinha porque verde-carnaúba?
- É porque essa cor é agora a cor símbolo do município quando antes era laranja. - Tudo bem Fransquinha, mas porque usar essa cor símbolo agora?
- Bem Dr. Aristeu eu não sei lhe explicar bem. Parece que é por causa das carnaúbas que os homens grandes daqui descobriram que é uma coisa importante e eles parece que estão querendo fazer alguma coisa antes que uzamericano acabem com elas como andaram dizendo.


Março 2010

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