Friday, January 15, 2010

POEMAS BARRETO/XAVIER 98


Este é um dos mais belos poemas de Lívio Barreto. Consta de quatro partes escritas em diferentes épocas e é oferecido ao amigo de sempre Waldemiro Cavalcanti. Mostramos hoje a QUARTA PARTE desse poema.

OS CRAVOS BRANCOS

A Waldemiro Cavalcânti


DEDICATÓRIA

Aquela a quem meu ser, ajoelhado, rende
O culto mais profundo, o amor mais ideal,
Essa estrela que na alma a inspiração me acende
Como o sol faz florir as violetas do val,
Estes versos dedico, este sonho ofereço,
Onde canta a esperança o seu canto risonho...
Em seus olhos de criança eu o pesar esqueço!
Foi Ela quem me deu o meu primeiro verso,
O meu primeiro amor, o meu primeiro sonho.

IV NUPCIAL

Ó cravos virginais! sereis um dia
Minha auréola de glória e o meu perdão,
Quando eu entrar na vida pela mão
Dessa que existe no meu coração,
Cheio de mágoa e de melancolia.

Quando o incenso deixando os incensários
Subir aos santos, aromatizando
Ao mesmo tempo os santos e os sacrários,
E a Igreja cheia e o padre abençoando
Entre o flébil rumor de cantos vários;

Quando ela casta, meiga e enrubescida
Pousar na minha a sua nívea mão:
A alma em sonhos de amor embevecida
Tendo, e tendo ansiosa e comovida
O amor nos olhos e no coração;

Há de o ramilhete ser que ela segure
Unido aos seios cândidos, trementes,
De cravos brancos, úmidos, florentes,
Flores nascidas ao luar, e albentes
Como uma vida onde a ilusão perdure.

E quando em nossa alcova o luar errante
Entrando for beijar o nosso leito,
Do seu bouquet o aroma inebriante,
E a brancura dos cravos palejante
Fá-lo-ão chorar de mágoa e de despeito.

As virações irão silenciosas,
Entristecidas, melancolizadas,
Em silêncio passando junto às rosas,
Pois levarão as asas preguiçosas,
De tanto serem aromatizadas:

E tu, anjo, e tu, pura, e tu, criança,
Ó meu amor! minha religião!
Sol longínquo da última esperança
Que me alumia quando a noite avança,
Que me encaminha pela escuridão!

Mulher que entre as mulheres procurei,
Com teus sorrisos cândidos e francos,
Com teu amor – oásis que aspirei –
Cobre minh'alma como eu juncarei
Essa alcova nupcial de cravos brancos!



continuação do texto/postagem

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