Wednesday, January 27, 2010

HISTÓRIAS DE JORGE RAPOSO 37


NATAL NO PACÍFICO

Ronaldo era um brasileiro, paraense, estudante de cinema na UCLA. Ele vivia e pagava os estudos com o salário de guarda da Universidade. Tinham-se passado meses desde que Jorge havia chegado a Los Angeles até conhecer o primeiro brasileiro. Só então ele pode falar português. (...)


Esse conhecimento novo talvez o tenha prejudicado em seu aprendizado de inglês. Ronaldo era um camarada legal, como se dizia; como gostasse de cinema, de vez em quando iam ver algum filme. Infelizmente ele não lembra de nenhum título. Foi ele quem identificou Jorge como brasileiro e iniciou a camaradagem. Essas aconteciam sempre por iniciativas de outros, pois ele era incapaz de se aproximar de alguém fosse homem ou mulher. Jorge, em seus pensamentos, relembrava a viagem que os dois fizeram, indo pelo interior até atingir São Francisco para as festas de Natal. No caminho visitaram parques nacionais como o de Yosemite, onde estava frio demais; viram também os parques nacionais das sequóias e o “Kings Canyon” com a floresta das sequóias imensas. Alguma coisa lhe chamou a atenção nessa viagem além das muitas belezas cênicas da Califórnia. Ele ainda recorda que nem antes nem depois desse dia ele vira um banheiro de posto de gasolina tão imundo como o que havia nas proximidades de São Francisco. Essa oportunidade de conhecer um pouco do interior do país trouxe-lhe a desconfiança de que o país que o recebera era uma porcaria tão grande como o seu; sem exagero havia de tudo nos Estados Unidos e ele via somente pequenos flashes. Após quase um ano que passou em LA ele só voltou aos Estados Unidos passados mais de trinta. Ele achava que tinha visto, mesmo pouco, mas não havia gostado do que vira. Após ter molhado os pés no Oceano Pacífico, como navegadores espanhóis de antigamente, os amigos voltam para Los Angeles no mesmo MG conversível, vermelho e potente como nenhum outro. Eles usaram a estrada litorânea (Route 1) que margeia toda a costa, unindo as duas maiores cidades do Estado. Jorge lembrava também que, depois de ter voltado ao Brasil, ele deixou de dar notícias para o Ronaldo, apesar de ter recebido dele uns dois cartões postais com o endereço no Pará. Alguns anos depois ele o encontrou, por puro acaso, em uma loja no Rio de Janeiro. Jorge o reconheceu e, quando tentou falar com o, talvez agora cineasta, ele virou o rosto. Ele nunca se perdoou de ter feito essa tremenda grosseria. Isso era uma maneira já utilizada por ele de como não fazer amigos e não influenciar pessoas ou, ser influenciado por elas. Jorge imaginava em seus devaneios atuais que essa inabilidade em conservar ou fazer amigos talvez fosse uma manifestação de seus traumas familiares.

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