Wednesday, January 06, 2010

HISTÓRIAS DE JORGE RAPOSO 36


ELLA E AS CABRAS

Jorge acordou muito cedo, pois pretendia viajar para a Várzea: negócios como ele sempre dizia. Ninguém sabia que tipo de negócios ele tinha por aquelas lonjuras. Ele ia levando o amigo Tomas um inglês que havia conhecido no Arquivo Público fazendo pesquisas sobre escravos. (...)
Após tomar café ele esperou pelo Brito que vinha apanhá-lo como sempre, pois ele guiava mais longas distâncias. Os dois passaram no hotel em que se hospedava o gringo e tocaram na direção oeste. Já fazia umas boas três horas e eles se aproximam da cidade a toda velocidade. O Brito estava, certamente, com pressa de chegar, na certa tinha marcado um encontro com a menininha sua paquera e não podia perdê-lo de jeito algum. Ao descer um pequeno morro com uma velocidade de uns 160 km por hora – o carro era novo e possante – Jorge viu ao longe uma visão pairando sobre o que lhe pareceu serem três cabras bem raquíticas; essa visão acenava fortemente em direção a eles, mas o Brito não via nada. Quando se aproximaram do grupo de cabras elas, cabras resolvem cruzar a estrada. Passa a primeira aos pinotes e o Brito vendo de longe tenta diminuir a marcha, mas continua talvez a uns 140 km por hora; em seguida passa a outra cabrinha, e o Brito não para; ele imagina que duas cabras são as únicas que pretendiam cruzar a estrada. Mas nada, bem em cima do carro cruza a terceira cabritinha – é sempre assim, sempre tem uma última cabrinha. A visão que Jorge havia visto no início reaparece e, com os braços cruzados e sorrindo espera pelo violento impacto. Tomas e Brito saem voando pelo vidro traseiro do carro enquanto ele, com o cinto preso, fica amarrado ao assento do carro. A visão, Ella, fica a lhe sorrir e diz nitidamente:

- Você fica me devendo esta...

Gravura de AllPosters.com

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