Friday, May 29, 2009

POEMAS BARRETO/XAVIER 73


Mostramos mais um poema de LÍVIO BARRETO o poeta dos “Dolentes”, seu único livro publicado postumamente.


INVERNO

A Lopes Filho

Chega o inverno ríspido;
O inverno chega, frio:
Já pelo ambiente gélido
A névoa fio a fio
Desce.

O rio, cavo,
Murmura, ameaça,
Cresce
Cresce, transborda e passa.

Aves com frio,
Ninhos molhados...
Do rio
As lavandeiras brados
Soltam com frio.

É o inverno: chega,
Das nuvens desce;
Ruge, estortega,
E o riso cresce,
E as aves choram...
De luto as pedras
Vestem-se, e oram.

As rolas fogem:
Quem sabe aonde
Elas irão?
Se a névoa esconde
Os horizontes
Prados e montes
Acharão?

Pelas campinas,
Pelos oiteiros,
Só nevoeiros,
Frio e neblinas.

Pela cidade
Tristeza só!
Vestem-se os muros
Pardos, escuros,
De limo e pó.

Do campanário
Na flecha esguia,
As andorinhas
À luz do dia
Não pousam mais.
E o grito terno
Delas no inverno
Não se ouve mais!

E eu? Olha, pensa
Ó meu amor!
Sem fé, sem crença,
Na noite imensa,
Fria, que horror!

Sei que não voltas
Ao coração...
Não voltas, não!
E as ondas frias
Do bravo mar
Da minha vida,
Com o teu olhar
Só tu podias
Fazer parar!

Noites, que noites!
Estas que passo
Chorando, a orar!
Sem um afago,
Pois na minh’ alma
É vago, vago
O teu lugar!

Dezembro – 93 -

No comments: