Wednesday, March 25, 2009

HISTÓRIAS DE JORGE RAPOSO 7



MARIANA DO ESPÍRITO SANTO

Novamente era um domingo de muita chuva e ele estava só em casa. Resolveu ver um DVD de caubói que havia ganhado de um amigo. Era um dos velhos clássicos espaguetes: “O dólar furado”, com Giuliano Gemma. Jorge já o tinha visto, mas era sempre uma atração para ele.

Após ver o filme na sala permaneceu na cadeira enquanto Suzana, que não gostava de caubóis terminava de aprontar o almoço. Ia comer sozinho, o que não achava nada bom. Enfim, era a sina dele. Esperando ele reclinou-se mais na cadeira e caiu num torpor gostoso e começou a sonhar.

Sonhou que havia encontrado na Cidade, muitos anos depois de ter saído para estudar e trabalhar, uma moça muito jovem e, a seus olhos, muito bonita. Quando ele a viu pela primeira vez e com o intuito de conversar sobre assuntos profissionais e ela aproximou-se dele, com uma jinga no andar, e começou a falar ele ficou quase mudo: -Bom dia, Doutor Raposo. -Bom dia. Como é seu nome? -Ih? Tenho um nome complicado. Mariana do Espírito Santo. -Não se incomode, pois estou acostumado a encontrar pessoas com os mais diferentes e estranhos nomes. Cheguei a colecioná-los de diversos tipos e formatos. Imagine que tive uma estudante com o nome de Clara Luz da Aurora Boreal! -Eu não acredito... -Pois é! E de onde você é? -Da Cidade mesmo. Enquanto ela falava, ele se interessava mais e mais. Ela se expressava com correção e delicadeza. Aos olhos de Jorge ela era uma estrela brilhante no meio de um matagal espinhento e hostil, como era a Cidade. Após alguns minutos de conversa sobre muitos assuntos, livros principalmente, ele achou que tinha encontrado a pessoa adequada para o que queria. E talvez para outros fins, quem sabe? O fato é que ele se apaixonou por ela. Somente após muito tempo é que ele descobriu que o relacionamento com a moça era um caso de “não-amor”. Ele chegou a escrever poemas tendo produzido um com o título de “Morro abaixo, morro acima” (sic), sem métrica alguma, pois não entendia de poesia. Jorge gastava a maior parte de seu tempo com pensamentos solitários em torno dela. Ele enveredou por um caminho perigoso, pois acreditou que Mariana estivesse correspondendo às suas estrepitosas investidas. Até que se convencesse de que isto não acontecia levou muitos meses. Ele se interessava por tudo que lhe dizia respeito, até pelos papagaios de sua casa... Como ela dizia ser viciada em livros ele os fornecia às pencas; tudo que era literatura. Imaginava que poderia ser uma espécie de Pigmaleão para ela e, em troco, ela sua Galatéia. O interessante é que a menina o entusiasmava freqüentemente e, freqüentemente o desiludia. Este jogo demorou bastante tempo até que ele desistiu. Não foi, evidentemente, de moto próprio, mas provocado por um outro “não-amor”, este também cruel. Jorge se achava repetindo os mesmos movimentos (ou não movimentos) já conhecidos desde muito tempo: olhava para uma mulher bonita e, devido a algo que acreditava perceber, se enredava totalmente na tolice de achar que estaria sendo correspondido. Na maior parte dos casos isto não acontecia ou ele não investigava. O resultado é que seu estado de frustração a respeito de mulheres era sempre realimentado por esses erros infantis de alguém sem qualquer experiência. Ele a via claramente agora estendendo sua pequena mão para ele e fazendo sinais para ele se aproximar. Quando ele chegou bem perto acordou e sentiu a presença de Suzana chamando-o para o almoço.

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