Wednesday, February 24, 2010

HISTÓRIAS DE JORGE RAPOSO 40

FESTA DO PARAZINHO

Vanessa chegou com o menino, era uma manhã de sábado e estava chovendo muito. Os dois entraram no apartamento inteiramente molhados. Apanharam toalhas para se enxugar, pois temiam esta tal de “virose” que estava pegando todo mundo. Só depois é que foram ter com Jorge que estava em sua cadeira, agora na sala.

- Oi Jorge! Saudou a moça.

- Oi Vô! Falou Jorginho.

- Ops! Vocês estão bem?

-Tudo em ordem. Você quer alguma coisa ou espera pelo almoço? Perguntou Vanessa.

-Vou continuar aqui na cadeira. Vocês interromperam uma cadeia de pensamentos que eu estava tendo e eu quero retomá-los. Está certo?

- OK! Disse Vanessa. Quando sua comidinha estiver pronta voltamos a lhe acordar...

Jorge fechou os olhos e mergulhou em seus pensamentos na esperança de retomar a tal cadeia de que falara. (...)



Eles iam para o Parazinho, para as festas de Nossa Senhora do Livramento. A devoção à Santa deve-se, segunda a lenda, a marinheiros que naufragaram perto da costa e, ao salvaram-se, decidiram construir uma capela na vila mais próximo do local. Houve doações de terras à Santa de tal sorte que ela tornou-se uma rica proprietária de carnaubais.

Era junho e não chovia mais. A família ia sempre, bem antes da festa que começava no dia 22. O caminhão do pai de Jorge estacionava em frente à casa e começava a operação mudança. Levavam tudo uma vez que na casa do Parazinho faltavam muitas coisas, como pratos, talheres, redes, roupas de cama e mesa e banho e, principalmente os mantimentos. O Mestre era o chofer e levava a carga de meninos e gente grande juntamente com toda a tralha necessária. A viagem não era longa, pois a vila dista somente uns vinte quilômetros.

Após a instalação toda a criançada estava livre para brincar com os vizinhos que não eram vizinhos na Cidade. Saiam à caça de calangos e camaleões com varas compridas com um laço na extremidade. Pegavam os bichinhos e não sabiam o que fazer às vezes os soltavam, mas muitas outras matavam os pequenos animais, sem remorso. Iam ao açude tomar banho e só voltavam tarde apesar da mãe recomendar que voltassem antes do almoço. O açude tornava-se perigoso na medida em que não sabiam nadar. Jorge e seus irmãos, além do cuidado ao nadar, tinham de estar alertas para a hora do almoço, senão passariam por baixo da mesa. Todas as crianças esperavam ansiosamente pela instalação dos barquinhos, do carrossel e das barracas. Estas, em todos os anos, eram montadas na rua principal da vila onde também ficava a casa de Jorge Filho e que tinha sido de Jorge Raposo. A meninada esperava também pelas fogueiras e pela oportunidade de soltar fogos nas noites de São João e São Pedro e no dia da festa, o último dia, o dia da derradeira, 2 de julho. As fogueiras eram feitas com madeira apanhada nas matas ralas, próximas às casas e montadas em frente, nas ruas de areia. Logo depois da novena, assim pelas sete horas as fogueiras eram acesas e todos ficavam brincando em torno. Havia apadrinhamentos sempre acompanhados de cantorias:

“Santo Antonio disse, São João confirmou que você vai ser meu afilhado, que Jesus Cristo mandou. Viva Senhor Santo Antonio, Viva Senhor São João, viva nós meu afilhado!”.

Afilhado e padrinho davam-se as mãos selando para toda a vida o apadrinhamento. Comiam-se broas e bolo manuê e tomava-se café. As crianças ficavam acordadas até tarde, pois eram dias de folga absoluta.

A mais antiga memória de Jorge sobre a festa do Parazinho, certamente não era sua memória, mas fato ocorrido com ele e que sua mãe e irmãos mais velhos contavam.

Um de seus primos adultos, o Chico, gostava de colocá-lo sobre a cabeça e sair passeando pela rua. Nessa ocasião estavam no Parazinho e o primo o pegou e o pôs sobre a cabeça. Ao fim de poucos minutos Jorge fez cocô sobre a cabeça do Chico. Ele imaginava, depois de muitos anos, a presepada que fizera com o primo. Sobre a reação deste não há registros...

Jorge sempre lamentava nunca mais ter voltado ao Parazinho durante as festas de Nossa Senhora do Livramento. O que se há de fazer?

Ouviu um chamado:

- Jorge vem comer alguma coisa, já está passando da hora, são quase doze e meia!

- É, você atrasou meia hora.

1 comment:

Parazinet said...

hahaha! Belo texto prof. Lembro de alguém de que ocorreu uma história parecida com essa... seria a mesma pessoa?

Abs,
FagnerCV