Saturday, February 20, 2010

CONTOS DA RIBEIRA 27


A VIDA AVENTUROSA DE TROFIM VASEC EM DIVERSOS CAPÍTULOS

A chegada – versão 2

A vida de Trofim Vasec era mesmo aventurosa e por isso contam-se diversas versões de sua chegada à Ribeira. Uma dessas já foi contada neste blog (Historietas de segunda-feira 150). Aqui contamos uma outra. Há mais.

Ele veio de longe, do Império Russo, fugindo das masmorras azuis, brancas e vermelhas do Czar e tendo a premonição de que teria de enfrentar, se ficasse no país, outras menos coloridas, mas mais sofisticadas do novo império. (...)


A princípio ele perambulou pelo Cazaquistão, Uzbequistão e Afeganistão, mas perseguido e cansado de guerras e lutas resolveu deixar de vez as terras históricas e aventurar-se nas novas terras da América. Embarcou em um cargueiro em Atenas que, depois de muitas semanas chegou ao Brasil vindo dar nas costas do Ceará no tempo do Comendador.

Ele vagou pela cidade fazendo bicos até cair nas graças de um bodegueiro que lhe apresentou a um sargento da Força que trabalhava em Palácio. Com algum jogo de cintura este conseguiu para o eslavo, que se chamava Trofim Vasec, recomendações para dois coronéis, um de Sobral e outro da Ribeira.

O Coronel Francisco Pimenta de Sobral certamente lhe daria emprego, pois que era da Guarda Nacional e gostava muito de artistas de circo e certamente empregaria o nosso Trofim em algum teatro da cidade, com a certeza de que ele era um artista. Já o Coronel Antônio ele soube que gostava de poesia e talvez ao lhe mostrar alguma habilidade poética ele logo teria um emprego na Câmara.

Trofim havia feito amizade com uma prostituta na capital que, ao saber que ele iria abandoná-la para procurar melhorar de vida, deu-lhe uma cachorrinha que passou a acompanhá-lo por todo canto. O eslavo vendeu uns ouros velhos que tinha e comprou uma burra alazã e botou suas poucas tralhas em cima e caiu na estrada no rumo de Sobral.

Gastou alguns dias até chegar à Princesa do Norte conhecida por esse nome desde muito tempo. Logo procurou a morada do Coronel Francisco Pimenta na Rua do Sol. O sobrado era enorme e só quem tivesse recomendação podia ser recebido pelo Coronel. Antes mesmo de chegar ao sobrado ele foi parado na rua por um espoleta do Intendente que, sem muita conversa, o levou a presença da autoridade. Este era sobrinho do Coronel e se encarregava de despachar os inoportunos que procuravam o tio. Após ouvir a história contada por Trofim ele decidiu que nem ele, nem o Coronel e muito menos o Bispo aceitariam que o estrangeiro ficasse na cidade. Por ser súdito do Czar e, certamente, professando a religião ortodoxa ele não seria aceito de modo algum na sociedade sobralense. Ele foi declarado persona non grata na cidade e despachado imediatamente para o destino que quisesse. Ainda bem que ele não experimentou da Cadeia de Luzia.

Trofim Vasec montou em sua burrinha alazã e tomou o rumo da Ribeira puxando sua cachorrinha.

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