Wednesday, October 07, 2009

HISTÓRIAS DE JORGE RAPOSO 25


LENDO “SCIENCE”

Jorge conheceu Rivanda quando precisou de uma arquiteta para planejar a casa que queria construir na Prainha. Ele tinha comprado o terreno há muito tempo, quando ainda era casado. Ele queria muito ter uma casa onde fosse passar os fins de semana com filhos e netos que estavam começando a chegar. Eles tiveram diversas entrevistas com essa Rivanda e, por fim, chegaram a um acordo sobre o projeto, o orçamento e o detalhamento final. O plano de construção da casa teve de ser adiado por alguns anos, mas foi retomado e Rivanda permaneceu como a construtora, pois fazia parte de uma firma que também se encarregava disso. Ela frequentemente levava a ele no apartamento detalhamento de plantas, orçamentos e folhas de pagamento para ele dar sua aprovação. (...)


Nesse sábado quando ela chegou Jorge estava dormitando em sua cadeira de rodas na varanda com uma revista aberta sobre as pernas. Pé ante pé ela foi dar uma espiada nele. A revista estava aberta em um artigo sobre sinalização em plantas e Rivanda foi logo pensando:

- O velho está devagarzinho voltando a se interessar por Ciência. Será bom isso?

Alguma parte de seu pensamento respondeu:

- Como é que vou saber? Talvez ele não devesse se interessar muito...

Ele estava no laboratório quando uma de suas estudantes veio lhe entregar um envelope volumoso com a marca inconfundível do “Express Post”. Ele logo adivinhou o que iria ver. Quando abriu viu que era o manuscrito que havia enviado para publicação em “Plant Physiology” acompanhado de uma carta do editor da revista e mais algumas folhas soltas que deviam ser os pareceres dos revisores. Ele folheou o manuscrito enviado há duas semanas e notou logo, por sua experiência, que havia sido rejeitado, pois estava todo marcado com lápis vermelho, cheio de pontos de interrogação e de exclamação. Leu a carta do Editor e ficou pasmo com a frase escrita no final: “This manuscript can not be published in this journal in anyway!” Procurou nos pareceres recebidos e percebeu a arrogância e ignorância desses camaradas. É certo que o tema em que eles estavam trabalhando era novo, mas nem por isso deixavam de ser verdadeiras as experiências que eles fizeram. Em um dos pareceres o “referee” afirmava que certamente os autores haviam inventado os dados! Foi muito duro deglutir mais uma recusa; ele já estava acostumado a isso, mas sempre que acontecia ele se revoltava, algumas vezes sem razão, mas muitas, coberto delas. “Pode deixar”, ele falou em um de seus monólogos solitários, “Vamos enviar para outra revista, para outra, e outra mais até que essa droga seja publicada!”

- Leluli chama teu avô. Está na hora do almoço!

Quando o menino aproximou-se da cadeira viu que o avô estava com um sorriso maroto nos lábios.

- Vô você tava sonhando com alguma coisa boa?

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