Wednesday, June 24, 2009

HISTÓRIAS DE JORGE RAPOSO 17


Ricardinho toca gaita de boca

O neto costumava passar os sábados com ele. Eram muito apegados e, quando Jorge ficou com dificuldades para andar, tendo de usar uma bengala, ele gostava de ficar junto ao avô conversando, lembrando de quando ele era pequenininho e mimado por todos. Cresceu, mas os dois continuaram a se gostar. Ricardinho estava bem adiantado no colégio, “culégio” como teria dito seu pai sem que ninguém soubesse de onde ele havia tirado essa pronúncia para uma palavra tão banal. Talvez fosse devido ao tal “verniz cultural” do qual Jorge sempre tinha ouvido falar, mas não sabia o que fosse desde criança e que mais tarde, bem mais tarde, ele aprendeu que não era um simples verniz, mas uma tinta escura e bastante espessa. O menino fazia o primeiro ano do segundo grau em um colégio público, pois os particulares estavam cada vez mais caros. Ele gostava de música, qualquer tipo de música e fazia suas tarefas ouvindo alguma peça clássica ou alguma coisa de bossa nova, ou jaz, ou mesmo esses ritmos bem moderninhos de que o avô não apreciava. Em outros tempos diriam que o interesse do menino por música mostrava que o espírito musical dos Raposo – eles também tinham um espírito musical - havia encarnando nele. Tocava gaita de boca e estava tendo aulas de violão, se bem que suas tias esperassem que ele tocasse piano. Ricardinho também fazia natação e quando o avô caminhava, ele o acompanhava, de vez em quando, nos poucos quilômetros que costumeiramente o velho fazia na Beira-mar.

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