Saturday, November 22, 2008

POEMAS BARRETO/XAVIER 49

Publicamos hoje mais um poema de MÁRIO BARRETO XAVIER (1906 – 1969) sobrinho – neto de Lívio Barreto.

NOTURNO HUMILDE

I

O automovel passou na rua, aflito
Os sinos não bateram, ouvi
Os olhos da noite me olham com desgosto
Eu estou só no meio da humanidade
Varias novelas me rodeiam, que assassinaram minha mãe e eu mesmo
Os alcooes se instalaram na vida e comandam a posição de sentido
O zum-zum dos meus ouvidos veio das certezas de fora, das realidades
de fora, dos plágios dos outros,
das invenções dos outros

Os trens fugitivos apitam
E me dão a vontade descontrolada de voltar para o interior
Sinto-me humilhado
Nunca serei um poeta glorioso
Nunca saberei si sou um poeta
Nunca saberei o que sou

II

Guarda noturno da cara de fome encabulada
Apita avisando os ladrões
Apita chamando o apito dos trens
Apita trez vezes antes que o galo cante duas

Já é outro dia
Isto não tem fim
Mas também não tem importância

Bôa noite, flôr da noite, teus cabelos são negros
Teus abraços são quentes
E eu te pagarei razoavelmente.

jul. 936.

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