Wednesday, September 17, 2008

O Povo da Malhadinha/O Povo da Granja 66


Cachimbo fedorento

O Presidente convocou o polímata para fazer uma viagem de circunavegação da província. Ele teria de, ao final da expedição apresentar um Relatório substancioso sobre as riquezas, comércio, agricultura e indústria e os costumes e usos do povo da província. Além da publicação sob a forma de livro desse relatório ele receberia uma gorda soma que lhe daria para viver alguns anos sem preocupações demasiadas. Aceita a tarefa e após alguns meses de seu início ele desembarca naquela cidade do norte, famosa por seus poetas. Em certa parte do relatório ele diz sobre esse burgo “(...) está cheio de cachorros sardentos e porcos que fuçam a lama acumulada nas ruas.” Ele diz também não ter encontrado nenhum homem ou mulher que fumasse um cachimbo decente, de madeira, todos fumam um horrível cachimbo de barro, que deixa um fedorento odor quando está sendo usado. O cemitério da cidade, então, era uma lástima, pois os túmulos estavam todos caindo aos pedaços e os cachorros vagueiam por entre eles. Ele também soube que a aula de latim, de responsabilidade de seu amigo Agapeto, havia sido transferida para outra cidade, pois por três anos não apareciam alunos. Enfim, Arlindo Batista, o polímata, nada encontrou na cidade que o agradasse. Na verdade ele encontrou, pois viu alguma coisa que o deixou extasiado: à beira do rio, ele enfim viu “a ponte, esse colosso de ferro, talvez a mais bonita do nosso Império.” Se aparecesse hoje ele notaria que nem a ponte de ferro, orgulho do povo local, escaparia de suas observações ácidas.

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