Saturday, July 19, 2008

POEMAS BARRETO/XAVIER 32


JOSÉ BARRETO XAVIER (1903-1982)

O segundo filho varão do casal Elisa e Ignácio Xavier deixou manuscritos enfeixados em um volume a que deu o nome de Esmaltes e Camafeus e que, em sua maioria, não foram publicados. O poema abaixo transcrito faz parte dessa série.

I

Morena e formosa, de formosura a que dão relevo o irresistível da graça e a fascinação da bondade.

Sem dúvida o maior de seus encantos de jeune fille, é, por certo, o desses olhos que agora teriam, se eu fosse poeta, a exaltação de uma elegia comovida.

Na luz que deles dimana, feita de luar e veludo há estranhos mistérios e vagos encantamentos e parece que se reflete como no cristal de um espelho a divina transparência de sua alma.

Ora tristes, magoados e sombrios como dois crepúsculos; ora risonhos, cheios de vida e de mocidade, por eles transparecem as emoções desencontradas e diversas, de alegria ou de tristeza, de esperança ou de saudade da sua psiché encantada, nada disso ensombra ou diminui a simpatia envolvente de sua pessoa em que a delicadeza do trato cativante se casa à doçura e à meiguice de uma alma compassiva e serena.

Apesar de viver para os lados de S. Antônio, não é das mais fervorosas do santo a cujo culto parece preferir a devoção desinteressada do Cristo e da Virgem.

Será isso também mais uma prova da filosofia de serena indiferença a que tem disciplinado seu coração por cuja posse quem sabe quantas almas não se têm dobrado fervorosamente diante de S. Antônio na ânsia de um milagre em que o taumaturgo lhe (...) ao sol do amor a frieza glacial em que anda imerso.

1924

No comments: