Saturday, August 21, 2010

CONTOS DA RIBEIRA 41


O CORONEL E SEU SÓCIO

Os dois eram amigos de infância desde quando os pais tinham chegado de suas fazendas nos matos, fugindo das secas. Tinham 13 anos, liam e contavam um pouco, mas mesmo assim foram para a escola da Dona Rita praticar leitura e escrita; tirar contas eles aperfeiçoariam mesmo em casa, com seus pais. (...)


O pai de Toinho tinha um grande armazém no Mercado e o de Zequinha tinha uma bodega muito sortida no começo da Rua do Imperador. Os dois cresceram juntos e a amizade se fortaleceu ao longo dos anos. Quando chegaram aos 18 anos cada um deles recebeu dos pais um quartinho no Mercado mesmo, onde abriram negócios de compra e venda de gêneros, de cera e de peles. Eram concorrentes em um mercado limitado. Logo, logo eles viram que teriam de modificar seu comercio se quisessem sobreviver e progredir como era o sonho de ambos. Toinho, mais expedito, propôs sociedade ao amigo. A princípio Zequinha recusou, pois achava que seu negócio, ou melhor, os negócios de ambos iriam melhorar e eles sobreviveriam como comerciantes. Com algumas modificações acordadas entre eles, como a especialização do armazém de Toinho em artigos importados da Europa e com os quais Zequinha deixou de trabalhar, fizeram com que eles levassem os negócios ainda por muito tempo. No entanto, como mercado da Ribeira fosse formado por gente muita endinheirada do interior e desejosa de ter bens de primeira classe fornecidos por Toinho, ele teve maior sucesso que o amigo. Este como que patinava nos seus negócios, logo depois da seca, que havia sido uma boa fonte de renda para o amigo Toinho. O que é certo é que este cresceu muito conseguindo chegar a Tenente-Coronel, título comprado por 10 contos de réis, uma dinheirama. Enquanto isso Zequinha perdia o pé nos negócios e chegou à beira da falência. Em conversa com ele Toinho, agora (Tenente) Coronel da Guarda Nacional, propõe que fechasse seu negócio e os dois montassem uma sociedade. Após relutar bastante Zequinha finalmente concorda com a proposta do amigo e decidem firmar um contrato, pois que tudo passado no papel era bem melhor, mesmo se os futuros sócios fossem os melhores amigos. O que resultou dessa conversa foi o seguinte contrato firmado pelos dois e registrado no cartório do tio de Toinho, o Capitão Manoel Franco:


“(...) decidem formar uma Sociedade Comercial em compra e venda de mercadorias nesta Cidade sob a firma Antonio Coelho Miranda & Cia. cuja loja na Praça do Mercado será denominada ´Aguia de ouro´ e a qual durará por espaço de quatro anos, convindo a ambos, e no lucro anual, depois de deduzido um conto de reis para as despesas de comedorias feitas pelo sócio Antonio Coelho Miranda, se fará uma divisão em partes iguais sendo uma para este e outra para o sócio José de Brito de Souza. Não só o sócio Antonio Coelho Miranda, bem como o outro não poderão retirar o lucro da Sociedade para especulações particulares, sem que esta seja dissolvida e qualquer especulação que se faça com o dinheiro da Sociedade será em proveito desta. Para este fim entrou nesta data com a quantia de quatro contos quinhentos noventa e três mil duzentos e vinte reis o sócio capitalista Antonio Coelho Miranda que o sócio José de Brito de Souza (de indústria) recebeu e de acordo passaram a assinar o presente contrato. Ribeira, 1 de janeiro de 1879”.

A sociedade entre os dois amigos durou até Toinho descobrir que Zezinho estava desviando fundos da sociedade para a construção de sua casa.


Figura em: http://www.artcountrycanada.com/batemang.htm


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