Saturday, July 03, 2010

CONTOS DA RIBEIRA 37


BRIGA DE PEDRA: OS DE CIMA CONTRA OS DE BAIXO.


A Vila estava em plena festa dedicada à padroeira. Milhares de pessoas chegavam de todos os cantos para prestar homenagem e pagar promessas à Santa. Já estava quase chegando o dia da derradeira novena. Os bares das ruas próximas à Igreja ferviam de gente bebendo – cerveja e muita cachaça. A música supostamente sacra com a voz dos padres Marcelo e Fábio e que saía dos alto falantes trepados nos postes próximos à Igreja não podia competir com a profana que saia dos inúmeros paredões estacionados perto, em frente aos bares.


O Velho deitado na rede vermelha, no alpendre, cochilava à espera de alguém que lhe viesse acordar para o almoço. Eles comeriam um cabritinho mamando que tinha sido mandado pelo Compadre; o almoço seria regado a uma boa cachacinha do primo Anjo que também tinha vindo lá do Pé da Serra para a festa. Subitamente, o Velho é acordado por uma zoada grande e pula da rede. Ele sai à rua pra ver o que estava acontecendo, pois a zoadeira era de deixar todo mundo mouco e muito maior que a que faziam os alto falantes e os paredões. Alguém lhe responde do meio da rua que havia uma briga no bar do Zé Augusto. A briga envolvia o Rodolfo, de todos conhecido, e que parece ter passado a mão no traseiro da mulher do Chico do Açude. A notícia dizia que ela até que gostou, mas o marido revidou com um tapa no pé do ouvido do caboco.

Por causa disso começou uma briga feroz, pois os dois contendores pertenciam à gente diferente, mas valente: o Rodolfo era “De cima” e o Chico do Açude era de “Baixo” e todos os dois tinham muitos parentes e aderentes e amigos bebendo nos bares das proximidades. Estes saíram correndo para se abrigar detrás de um monte de pedras que o Prefeito tinha mandado despejar para começar o calçamento lá de baixo. De lá eles começaram a jogar pedras nos “De cima” que logo se abrigaram ao lado da Igreja. Estes, por sua vez, também utilizaram pedras, mas agora retiradas do próprio calçamento recentemente terminado.

O que se sabe é que a luta de pedras durou, pelo menos duas horas sofrendo, de vez em quando, a intervenção do médico Dr. Juarez que, era acompanhado do enfermeiro Leotácio, ambos pertencentes aos quadros da Prefeitura. Este empunhava uma bandeira branca para conseguir a interrupção momentânea da luta e permitir a retirada dos feridos que eram puxados e amontoados na calçada do bar do Zé Augusto.

A briga só terminou, ao fim das duas horas já ditas, com a chegada de quem podia mesmo resolver a parada: o Seu Fernando, o Secretário da Desavença da Prefeitura. Este era um homem bem informado, pois sabia de tudo e de todos; o Prefeito o tratava com muito respeito, pois ele bem que podia contar todos seus podres para seu sobrinho e este poderia bem passar-lhe a perna. Seu Fernando chamou para uma conversa no bar onde tudo tinha começado o Rodolfo e o Chico do Açude. Depois de uma conversinha regada a uma boa cachaça e uns tira-gostos especiais eles selam a paz. Eram bem simples as condições dessa paz, na realidade nunca na história do Para uma paz desse tipo havia sido obtida. Eles concordaram em que o Rodolfo não mais passaria a mão no traseiro de Dona Dina e nem o Chico do Açude pegaria nos peitos da mulher de Rodolfo, coisa que o Seu Fernando sabia há muito tempo que o Chico.

Quando o Velho soube do desfecho da violenta briga disse para o seu filho:

- Eita gente de merda!



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