Wednesday, January 09, 2008

O Povo da Malhadinha 35



O Retrato

O Zé era um pouco “rúdio”. Era caixeiro no comércio e, como todo mundo, foi tirar um retrato no que era a grande coqueluche: a máquina fotográfica do Mestre Antônio. Na época o polímata local tinha trazido a primeira máquina profissional para a cidade. Essa era daquele tipo utilizado pelos lambe-lambes com um pano preto que evitava a incidência de luz sobre a placa fotográfica e, ao mesmo tempo, dava acesso ao mecanismo por meio de aberturas para a cabeça e os braços do fotógrafo. O processo requeria grandes cuidados e paciência, pois não se podia tirar uma foto em dia de muito sol ou dia escuro, chuvoso. O Zé vestiu sua roupa de casimira, pôs uma gravata e foi até a casa do mestre. A mando deste o malhadinha sentou-se na cadeira, de frente para a máquina, e passou a obedecer as ordens: vire mais para o lado direito, levante o queixo, vire mais pra não fazer sombra e por aí vai. Mestre Antônio tirou umas três ou quatro chapas e disse para o moço:

- Pronto Zé, cê tá livre. Daqui a três dias, na quinta-feira, você vem receber. O retratado então pergunta ansioso:
- E enquanto eu espero posso tomar banho?

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