Monday, January 21, 2008

HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 60


A lagosta

Pedro havia passado quase um ano em Londres. Lá ele fizera um pós-doque na London School of Economics. Estava voltando para a terrinha com uma fome de comidinhas boas, fáceis de encontrar em Londres, mas muito difíceis de pagar. Ele tinha descido do avião da BA em Lisboa pela manhã e o seu, da TAP, só sairia para São Paulo, no começo da noite. Havia tempo suficiente para um pulo até o centro da cidade para dar umas pernadas em busca de alguma coisa próxima de um prato brasileiro. Tomou um táxi e foi até o Rossio e lá chegando apeou-se perto da estação de comboios e saiu caminhando em direção ao Bairro Alto. Ao passar em frente a uma taverna ele viu, na vitrina, exposta, uma enorme lagosta deitada em uma travessa e cercada por grandes camarões e todo tipo de ornamentos vegetais. Ele logo ficou com água na boca. Aproximou-se mais e, quando apareceu um garçom, ele perguntou se aquele prato poderia ser servido em tamanho menor, para uma só pessoa – é certo que faminta de lagosta, mas não com costumes pantagruélicos. O garçom foi lá dentro e voltou com a resposta negativa. Pedro ficou chateado, mas teve de se conformar. Continuou andando à procura de alguma coisa para comer e que lhe lembrasse o Brasil. Mas a lagosta da exposição não lhe saia da mente. Pernou por uma boa hora e resolveu voltar e encarar o prato. Logo ao chegar pediu ao dito garçom que lhe trouxesse a lagosta, pois ele estava caidinho por ela. Trouxesse logo, pois ele tinha de voltar ao aeroporto senão perderia seu vôo. Sentou-se a uma mesa, pediu uma cerveja bem gelada e em poucos minutos a enorme lagosta estava à sua frente. Ele ouviu risinhos simpáticos dos muitos turistas em volta, todos certamente admirados de sua fome e, talvez de suas posses. Pedro não deu bola e começou o ataque. Em pouco tempo ele estava saciado e a lagosta nem se movia, isto é, quanto mais ele comia mais aparecia carne do crustáceo escondida dentro da carcaça. Ele, no entanto, não queria dar o braço a torcer e não dava sinais de que iria parar de comer. O povo ao lado continuava a olhar para sua mesa para saber quem ganharia a parada ou ele ou ela, a lagosta. Subitamente veio sua salvação: uma enxurrada de água caiu da pequena varanda do primeiro piso sobre seu prato tornando a lagosta ou o que sobrara dela imprestável para consumo. Pedro deu um suspiro de satisfação, chamou o garçom, reclamou e pediu a conta. O gajo olhou para a meladeira e pediu que ele esperasse um momento. Foi lá dentro e voltou com a boa nova: ele não pagaria a cerveja, era um brinde da casa, uma compensação pelo estrago!

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