Saturday, September 04, 2010

CONTOS DA RIBEIRA 42


A QUESTÃO DA PONTE

A notícia correu a cidade num instante. Alguém tinha sabido, já na Jijoca, que um carro, desses enormes SUVs chineses e bem novinho, estava indo para a Ribeira. Na Praça do Mercado o Leléu gritava:

- Uzamericanu tão chegano! Ele repetiu isso nos quatro cantos do Mercado e do lado de dentro. (...)


Corria o ano de 2022 e a promessa feita quando das eleições de 2010 estava finalmente se realizando, parece. Ninguém ainda sabia de muita coisa, pois só tinham visto o logotipo desenhado na carroceria do carrão. O desenho era o de uma ponte de ferro bem parecida com a Ponte e mais as palavras CHINA-USA-BRAZIL. E todo mundo se lembrava que Ele e Ela haviam prometido restaurar a Ponte que ameaçava cair impedindo alguns negócios de Talzinho. Este havia instalado uma usina de exploração de granito no meio do Rio, na altura do Bairro São Francisco, mais conhecido como Barrocão. Depois da eleição foi constituída uma comissão de 30 membros para por avante os estudos e planos para a recuperação do importante monumento histórico/turístico/comercial.

Baseando-se em estudos feitos anteriormente assim, com muito amor e muita dedicação, a “Comissão dos 30”, como passou a ser conhecida, discutiu a questão física, juntamente com a questão do uso, e sem esquecer a questão da presença decidiu fazer um plano que possibilitasse com que a gente teríamos um verdadeiro Plano Global para o Desenvolvimento do Entorno da Edificação Férrea (PG-DEEF), como passou a ser chamado posteriormente o plano.

A firma americana, aliás, agora uma subsidiária da firma chinesa China Fireworks, foi contatada e se prontificou a dar assessoria a PG-DEEF, desde que fosse constituída uma companhia cujas ações seriam repartidas cabendo 51% ao grupo chino-americano e o resto aos nacionais. Era esta a companhia cujo logotipo estava estampado no tal SUV chinês visto na Jijoca.

A versão final do PG-DEEF, completada em 2014, ano da Copa do Mundo, previa entre outras ações a retirada das pedras do poço da Piriquara com a alegativa de que o volume desse complexo impede o bom deslocamento das águas do Rio e isso pode prejudicar os trabalhos de implantação do Plano Global. Além do mais, a comercialização das pedras pode ser uma fonte de recursos para o próprio tocamento do PG-DEEF, pois até a data de julho de 2014, vésperas da nova eleição geral, nem Ela nem Ele haviam dado nenhum sinal de que liberariam qualquer verba para a implantação do PG-DEEF. O empreiteiro encarregado de deslocar as pedras da Piriquara já havia sido escolhido na pessoa do grande construtor da cidade, amigo de longa data do eterno Talzinho, o Dr. Maguito.

Até o início do ano eleitoral de 2022 as obras do PG-DEEF ainda não haviam começado. Parece que houve alguma interferência estranha e poderosa – fala-se no Presidente Obama - pois finalmente como todos diziam: “Usamericanu chegaro”. Isto certamente era sinal de que as famosas obras, só comparadas às obras de abertura do Canal de Suez, iriam ter início, realmente. Dito e feito: o pessoal que tinham vindo no tal carro chinês alugou um quarto no Mercado e abriu inscrição para contratação de operários para a obra. A lista, afixada, na porta do quarto indicava que seriam contratados:

2 quebradores de pedras (teriam de apresentar seus instrumentos)
2 apanhadores de pedras com seus carrinhos de mão
1 ferreiro com seu equipamento para cortar ferro
1 soldador com seu equipamento de solda a oxigênio
1 pedreiro com colher, nível e todo o resto de seu equipamento.
2 ajudantes para todos acima
1 mestre (este foi indicado por Talzinho)
1 bicicleteiro com sua bicicleta (Este anunciaria o progresso das obras diariamente pelas ruas da cidade.).

Este anúncio dizia também que as obras seriam iniciadas em 15 dias e que o término das mesmas era indeterminado. Não se indicavam os custos.

Este anúncio correu a cidade na boca de todos que ficaram satisfeitos, pois finalmente a obra seria iniciada.


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