Saturday, June 26, 2010

A VIDA AVENTUROSA DE TROFIM VASEC EM DIVERSOS CAPÍTULOS – 9


A ESCOLA DA RUA DO AZEVEDO CHAMA-SE ESCOLA PRIMÁRIA ‘TAL-E-QUAL’ (EPTEQ)


As eleições provinciais se aproximavam e o Coronel Totonho mais uma vez pleiteava junto ao Chefe sua reeleição. Ele estava olhando para o futuro, pois sabia que o comando da oligarquia pelo Comendador Alcebíades estava chegando ao fim. Ele bem que poderia se candidatar à herança do velho oligarca, pelo menos em toda a Zona Norte. Além disso, os negócios poderiam melhorar bastante, pois se o velho se afastasse do governo as benesses iriam se acabar para ele. Para que seus planos fossem coroados de êxito Coronel Totonho tinha de engajar seus amigos da Ribeira no grande projeto. (...)



Certamente ele teria de repartir o poder com gente do tipo de Trofim Vasec, seu genro e seu neto Juca Vasec que já se haviam tornado verdadeiros chefetes na cidade e distritos do Pé da Serra. Havia também a dupla Dr. Tal (temos de dizer aqui que este notório advogado tinha o nome de Amâncio do qual ele tinha verdadeiro ódio, por motivos óbvios) e seu filho Talzinho, o par advogado e médico que tinha ganhado uma enorme força entre a população mais necessitada da cidade e da região praiana da Ribeira. Eles agiam em consonância, pois enquanto um extorque valores enormes ao defender causas banais o filho “limpava” todos por meio de truques nas corridas de cavalos, nos jogos de baralho proibidos, mas praticados na surdina, nos bares da cidade. A medicina para Talzinho não mais existia, ele não a praticava desde que chegara do Rio de Janeiro e dizia-se que mesmo lá ele nunca utilizara nem sequer um estetoscópio ou mesmo um jaleco.

O Coronel deu ordens a seu neto Juca que se encarregasse de preparar as reuniões onde se discutiriam as normas para as eleições. O partido situacionista tinha registrado 250 votos e a oposição ia com 30 votos. Esses eram controlados pelo Coronel Gentileza, chefe da oposição e briguento que só ele. Juca e Talzinho decidem que no dia da eleição eles deverão dar um ensino aos eleitores do Coronel para que o brilho do conclave fosse completo para o partido do Comendador Alcebíades e do Coronel Totonho. O Juiz Moreira Capaz que dirigiria o pleito, como de costume, já tinha assegurada sua viagem para o sul onde ficaria em Caxambu fazendo estação de águas no Hotel do Sucesso. Quando chega o dia das eleições a mesa receptora se instala na Igreja Matriz e os seis soldados da Polícia Provincial, comandados pelo Sargento Emiliano, enviados pelo Chefe de Polícia, ficam a postos nas portas do templo, armados de espingardas. Quando os eleitores começaram a afluir, aqueles ligados ao Coronel Gentileza foram gentilmente dissuadidos a não votar pelos mais diferentes motivos: ora se dizia que faltavam canetas, ora era a cédula para escrever o voto. Dessa maneira, quando o Juiz Moreira Capaz deu por encerrada a votação lá pelas quatro horas da tarde, tinha-se certeza que o partido da situação havia levado todos os 250 votos registrados por ele e a oposição só tinha tido 3 votos que logo foram identificados como sendo os do Coronel Gentileza, de seu filho Adamastor e do caixeiro Rubens do armazém dos Gentileza. A proclamação dos vencedores demorou um pouco, mas nada que fosse impedir o reconhecimento do Coronel Totonho pela Assembléia quando esta se reunisse para tanto daí a dois meses.

Com a ajuda do Comendador Alcebíades que ainda teria alguns meses no governo da Província e com a interferência do Coronel Totonho foi feita uma verdadeira mudança democrática na administração da Ribeira: desde o Presidente da Câmara, Juiz de Paz, Juiz de Órfãos, Delegado de Polícia, Tabelião, Vigário todos esses e mais alguns que o escriba não lembra no momento, mas promete referir na próxima oportunidade, foram demitidos. Para seus lugares foram nomeados correligionários bem destacados do Partido, além obviamente, dos parentes dos Coronéis e amigos envolvidos na renhida luta eleitoral.

Parentes do Coronel Totonho, isto é, seus filhos que moravam na Capital, mas eram registrados eleitores na Ribeira, apareceram, digamos assim, sem serem chamados e contrariando desde seu pai até Trofim e o Dr. Tal e os “meninos” Talzinho e Juca. Eles queriam se adiantar e reservar um naco do poder já à disposição de seu pai e dos correligionários. O velho Coronel sugeriu aos dois rebentos que aguardassem na Capital a divisão do bolo e que após isso ele prometia que os meninos seriam recompensados pelas canseiras dos estudos que realizavam no Lyceu e no Colégio Albano.

O Dr. Amâncio de Tal, ilustre advogado militante no foro, foi nomeado Juiz de Paz; seu filho Dr. Talzinho, médico formado pela Faculdade do Rio de Janeiro, mesmo sabendo-se que não sabia nada de Medicina, foi nomeado Secretário das Doenças (era este o nome da futura secretaria que iria tratar de saúde); Trofim Vasec, o famoso eslavo, genro do Coronel Totonho e pai de Juca Vasec, foi nomeado para a Secretaria do Tesouro enquanto seu filho foi indicado para a Advocacia Geral da Ribeira; Aline, a filha do Coronel Totonho, esposa de Trofim e mãe de Juca, esta ficou encarregada – nomeada – para cuidar da alimentação das crianças carentes. Era ela quem recebia todos os carregamentos de alimentos enviados pelo Programa da Fome, estabelecido pelo Governo da República, e os repassava para quem não precisava deles e um pouco para alguns que precisavam, como os moradores do bairro de São Francisco. A Secretaria de Educação ficou a cargo de Narcizo, que tinha o curso primário feito em Sobral.

Juca Vasec, Talzinho, Narcizo, Dr. Tal, o Coronel Totonho foram todos escolhidos vereadores – da situação. O único vereador da oposição indicado foi o Coronel Gentileza. Talzinho foi eleito Presidente da Câmara que, como é sabido, naquele tempo exercia funções que correspondiam às de Alcaide. A primeira reunião da Câmara, já no prédio novo mandado construir pelo Coronel Totonho e por seu pai, tratou de dar nome a algumas Escolas que, devido a essa enorme falta, não estavam funcionando. A Escola Primária da Rua do Azevedo foi dada o nome de Escola Primária “Tal-E-Qual”; a da Rua da Estação foi nomeada Escola Primária “Tal-O-Quê”; à escola do Bairro São Francisco foi dado o nome de Escola Primária “Que Tal” e à da Beira do Rio foi atribuído o nome de “Etcetera e Tal”. Ficava assim cumprida uma exigência da Secretaria de Educação. Com isso tinha-se certeza que o Governo Central destinaria verbas substanciais para o ensino na Ribeira.

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