Sunday, June 13, 2010

A VIDA AVENTUROSA DE TROFIM VASEC EM DIVERSOS CAPÍTULOS – 8


HERDEIROS DO CORONEL SILVIANO MEDEIROS


Quando o Coronel Silviano Medeiros imperava na Ribeira ninguém se aproximava dele sem lhe pagar algum tributo. Ora era uma posse de terra em troca de um favor feito na Capital, ora eram pagamentos que áulicos e apaniguados lhe faziam, geralmente em dobrões de ouro, para manterem a associação sempre lucrativa para todos. O Coronel, já homem de idade, não tinha filhos e, portanto, sua descendência era difusa, entre parentes de segundo grau e outros. Quando ele adoeceu de uma doença incurável e de desfecho rápido, logo o boato se espalhou que sua morte seria iminente.


A morte do Coronel Silviano foi tranqüila, pois se sabe que os grandes capitalistas, homens de dinheiro e de importância, nunca têm sofrimento em seu passamento dessa para outra. Eles sempre morrem tranquila e sossegadamente. O enterro, feito ao som de música executada pela banda de Mestre Zezinho, foi uma cerimônia que deixaria marcas na cidade, pois foi muito bonita. O cemitério estava superlotado e os coveiros tiveram dificuldade em fazer o seu serviço. Mas, enterro feito, todos trataram de outro assunto, tão ou mais importante.

O que é fato é que quando o velho morreu e, mesmo antes de seu concorrido enterro, acorreu à cidade um enorme número de pessoas interessadas em saber se haviam sido beneficiadas com uma parcela de seus bens quando proximamente seu testamento fosse aberto no cartório do tabelião Rocha Francio. Todas as pensões da cidade e mesmo das cidades vizinhas foram ocupadas por pretendentes ao butim, em um número verdadeiramente grande. Isso era também uma indicação da enorme riqueza do Coronel Silviano. Advogados vindos da Capital como o Dr. Waldonis Miranda, o Dr. Antonino Augusto, vieram representando diversos candidatos, parentes ou não que não podiam vir até a Ribeira ou acharam logo conveniente contratar causídicos para defenderam pretensões de antemão sabidamente duvidosas.

Candidatos a um naco da herança do Coronel Silviano na própria Ribeira eram muitos. Eles iam desde colegas de coronelato, amigos, compadres, afilhados até parentes longínquos de sua esposa. Todo esse povo iria necessitar de algum advogado experiente para defender sua causa: uma parte na herança do velho coronel.

Para muito pretendentes foi muita sorte contar com o escritório de Juca Vasec que, por essa época, era um dedicado associado do Dr. Tal. Essa associação era de muito valor, pois o próprio pai do jovem advogado, o eslavo Trofim Vasec, era um forte pretendente a uma parte da herança. Os fundamentos dessa pretensão nunca ficaram bem claros para ninguém, talvez nem para Juca nem para o Dr. Tal. Por coincidência o próprio Dr. Tal pretendia, também, herdar alguma coisa do Coronel Silviano, qualquer coisa, diga-se de passagem. Qualquer coisa servia desde que fosse traduzida em contos de réis.

Dr. Tal e Juca agiram com rapidez: cada um fez uma petição ao testamenteiro que era, nada mais nada menos, que o Coronel Totonho, mais um compadre do ilustre morto. A petição feita pelo Dr. Tal dizia que o eslavo Trofim Vasec, muito amigo do Coronel Silviano se julgava herdeiro do ricaço e pretendia ficar de posse da Fazenda da Braquitiara. Essa fazenda compreendia uma enorme porção de terra produtiva no distrito do Para. As razões alegadas pelo Dr. Tal e que justificavam as pretensões de Trofim Vasec eram documentos antigos de quando o eslavo chegara à Ribeira e que tratavam nebulosamente de negócios feitos pelos dois. O Dr. Tal assegurou ao amigo Trofim que a causa era justa e que ele(s) seriam indicados herdeiros.

Juca peticiona a seu próprio avô na condição de advogado do amigo Dr. Tal no sentido de indicá-lo como herdeiro em uma grande soma (em dobrões de ouro) como retribuição a serviços advocatícios feitos para o velho Coronel ao longo de muitos anos, conforme recibos, diga-se sem qualquer valor.

Talzinho não pode se candidatar a qualquer parte da herança do Coronel Silviano, pois o velho o tinha por inimigo desde que o jovem médico o tinha depenado em diversas sessões de pôquer que ele promovia no seu Castelo.


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