Friday, June 06, 2008

POEMAS BARRETO/XAVIER 26


LÍBIA BARRETO XAVIER (1904 – 1988). O poema abaixo transcrito é uma obra resgatada de “Poemas esparsos” não publicados.


INFÂNCIA

Alvos e perfumosos jasmins de janeiro!...
Mal caídas as primeiras chuvas, desabrochavam
Numa eclosão fantástica de primavera precoce e rápida,
Amadurecida aos calores de dezembro.
Cobriam as sebes do jardim em ruínas
E vestiam de cortina alvinitente
Os velhos muros musgosos.
Cadeias de odorantes estrelas
Compunham os colares, rosários e coroas
Das noivas, das devotas e dos anjos;
E de macias pétalas cetinosas
Era o misterioso manjar das bonecas.
De puríssimos e frescos jasmins eram tecidos
Os leitos de noivados
E os berços dos recém-nascidos,
E buscava-se nos pistilos sugados gota a gota,
A deliciosa e mágica bebida das fadas.
Foram frios e níveos jasmins,
Com seu forte cheiro de vida e de morte,
Que cobriram as mãos gretadas e escuras
Daquela rendeira deitada em seu caixão.
E nas tardes de inverno, os barquinhos de papel,
Carregados pela enxurrada das sarjetas,
Esfacelavam-se nas poças lamacentas.

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