Wednesday, March 05, 2008

O Povo da Malhadinha/O Povo da Granja 43

Titio – My Uncle

Antônio Frota Angelim

Toda noite, assim pelas oito horas, ele chegava para visitar o amigo. Tinha de ser depois da janta, pois antes era impossível a conversa devido à confusão do momento. Ele sentava-se em uma cadeira de palhinha, dura, certamente, para os seus quase setenta anos e continuava a fumar os seus inseparáveis cigarros fedorentos, de fumo negro, “Peito-de-vaca”; ele nunca ficava sem um deles aceso entre os dedos, pois sempre que chegavam ao toco e ameaçavam extinguir-se, ele acendia outro na brasa escarlate do anterior. Titio mantinha essa brasa acesa à custa de muito sopro e essa operação lhe dava um encanto particular, embora de trágico prenúncio. Não sei por que, mas nessas ocasiões ele me lembrava as procissões da Semana Santa, quando as acompanhava usando sua opa vermelha de irmão do Santíssimo. Ele imprimia às suas feições toda a solenidade do ato religioso que talvez nem o padre que o dirigia mostrasse. Essa mesma solenidade ele impunha em quase todas suas aparições públicas, como cavalgar seu cavalo branco, todo garboso lembrando mais ainda um cavaleiro medieval, indo a caminho das Imburanas.

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