Jorge Raposo não era afeito a experiências extra sensoriais, extracorpóreas e também não acreditava nessa história de "ver alma". Nesse último exemplo ele abre exceção para o caso que se passou há alguns anos: ele sempre dizia que vira por uns bons dois minutos a alma da tia de sua mulher, já morta há anos. Jorge tinha era a experiência de ter tomado a balsa de Caronte e descido ao Hades por diversas vezes. Milagrosamente ele sempre conseguia escapar ao iludir Cérbero o guarda canino de três cabeças. O fato é que ele, por quatro vezes, havia escapado do Inferno. Agora a experiência (?) foi diferente, pois ele tem plena certeza de ter ido e se desvencilhado, não das garras de Cérbero, mas do próprio abraço d´Ella sua perseguidora contumaz.
O cenário estava preparado para a
encenação da peça - colocar "stents" nas artérias coronarianas - para
livrá-lo do perigo de enfarte em sua recente viagem a Portugal. A intervenção
talvez tenha demorado cerca de duas horas. A certa altura, perto do final, com
quatro "stents" colocados, surge um problema: dizem que JR teve um
enfarte. Foi nesse momento de grande dor que sentiu estar indo em direção,
certamente não aos Campos Elíseos, mas direto para o Hades. A viagem foi curta,
tendo sido interrompida e ele resgatado pelo Dr. Matias. Embora curta deu para
compreender como é fácil fazê-la e difícil revertê-la. Durante essa viagem JR
teve a sensação que estava sendo projetado à sua frente e rapidamente um filme
em cores de alguns momentos de sua vidinha; isso logo acabou ficando somente
uma sensação de incômodo por demais desagradável. Só isso? Após alguns dias e
com mais complicações ficou com JR a certeza que sua vidinha encurtou
consideravelmente, restando-lhe aproveitar o pouco dela e fazer o que quiser e
o de que gosta: ler, escrever, estudar, namorar, curtir os filhos e
netos, tomar vinho, passear na Beira-Mar, cuidar do Instituto, não
necessariamente nessa ordem, mas certamente com todas as despesas pagas. Será
muito?
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