No seu aniversário de oitenta anos Rui recebeu
um pacote enviado da China! Ele mais que depressa desfez o embrulho: era uma caixa
de bambu, forrada com veludo vermelho e fechada com uma bela fechadura, talvez
de prata, ou banhada nesse metal. Logo que abriu a caixinha ele foi tomado de
surpresa: descansando entre mais veludo vermelho estava um lindo relógio de
marca desconhecida, mas certamente uma marca chinesa. A jóia, pois era mesmo
uma, tinha os ponteiros parados nas 12 horas. Ele pegou o objeto e procurou dar-lhe
corda. Ouviu o tique-taque claro e metálico. Ficou admirando o presente e
tentando imaginar quem havia lhe enviado. Até verificou por diversas vezes o
nome do destinatário: era sempre seu nome gravado em uma etiqueta bem delicada
que via. Coisa de chinês. Não havia o nome do remetente, ou melhor, se
havia ele não destrinchou, pois estava escrito em caracteres chineses. Intrigado
estava intrigado ficou até algumas horas mais tarde quando novamente olhou para
o relógio-jóia. Agora, com bastante cuidado ele observou que o relógio tinha os
números correspondentes às horas marcados ao contrário, isto é, contrário aos
dos nossos relógios e, mais, os ponteiros giravam da direita para a esquerda.
Rui tentou alterar os movimentos por todos os modos a seu alcance, mas nada. O
relógio marcava as horas certas, mas os ponteiros giravam na ordem inversa. Ele
guardou a jóia no estojo e pôs tudo no cofre. Procuraria alguém que lhe
explicasse o caso. Antes disso lembrou-se de um amigo que havia emigrado para a
China há muitos anos e com quem ele tinha perdido contato. Era o Zé aquele que
lhe pediu para fazer uma bomba para jogar nos milicos no tempo do golpe. Será
que foi ele? Rui resolveu que iria tirar essa história a limpo.
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