Thursday, January 10, 2013

TALZINHO – O RETORNO

 



Talzinho era o político mais popular de toda a região. Suas origens remontam há muitos e muitos anos, às montanhas geladas da Venezuela onde seus antepassados montaram negócios fabulosos. Seu pai tinha sido ajudante de ordens de um dos Governadores Provinciais e, ao se aposentar aos 90 anos deixou sua herança para o filho mais velho. (...) 


Talzinho o filho mais novo nada herdou do pai, pois era um estróina, mas seu avô materno deixou-lhe bons legados do outro lado da fronteira. Ele emigrou em busca dessa fortuna e chegou até a Ribeira onde pode montar seu império que lembrava aquele de seus avós. Ele formou-se em Ciências Odontológicas e logo depois se tornou um grande empresário após ter empregado muito de seu tempo e dinheiro no transporte de tratores americanos de último modelo desembarcados no porto natural de Gradim através da caatinga. A venda desses implementos agrícolas embasou todo seu futuro sucesso. Descobriu-se, bem mais tarde, que os tanques de combustível dos tratores chegavam recheados de canetas esferográficas, na época um sonho de consumo de todo mundo. Em pouco tempo ele entrou para a atividade política, apanágio de grandes capitalistas. Essa especialização continua nos dias de hoje como podemos ver pelas páginas policiais e políticas dos jornais. Nosso Talzinho logo se candidatou a Deputado Estadual tendo chegado à presidência da Assembléia. Mas, o seu forte estava mesmo era na administração da Prefeitura da cidade que o acolheu. Após ter sido eleito ele próprio ou eleger consecutivamente algum de seus apaniguados pelo longo período de 40 anos Talzinho tornou-se uma legenda na região. Ele tornou-se o verdadeiro pai dos pobres, pois além de distribuir dinheiro vivo – oncinhas e peixinhos - na época das eleições dava emprego para uma infinidade de amigos e parentes de amigos. É bem verdade que o que esses sortudos recebiam dos cofres municipais era metade das quantias que eles tinham de afirmar, através das folhas de pagamento, receberem mensalmente. Esses valores nunca chegavam a um salário mínimo. Ninguém se importava com isso, pois eram como que empregos fixos numa comunidade onde não existia nenhuma atividade industrial ou qualquer iniciativa que promovesse o emprego. Até mesmo tentativas feitas por industriais de fora da cidade de instalar fabricas na Ribeira fracassaram, pois Talzinho recusava fornecer as devidas licenças. O resultado dessas iniciativas ou não-iniciativas foi que a cidade atingiu os índices mais baixos de desenvolvimento e alfabetização e os mais altos de mortalidade infantil e de doenças infecto-contagiosas. Água tratada não existia e muito menos esgoto, faltavam professores para as escolas públicas e os dois hospitais da cidade funcionavam muito precariamente. Ninguém entendia como Talzinho, o senhor absoluto da cidade, rico de fazer inveja a Fords, Rockefellers e quejandos não se interessasse pelo bem estar da cidade. Mas era o que acontecia. A Ribeira tornou-se conhecida em toda a região como a cidade mais enfeitada por símbolos que refletiam as preferências religiosas de Talzinho. Ícones foram construídos em todas as entradas da cidade, e os passeios mostravam essa devoção. Por último Talzinho achou por bem dedicar a entidades de religiões animistas homenagens muitos conspícuas. Ele mandou instalar em diversas locais da cidade enormes bustos de entidades romanas como Narciso que eram adoradas quando de festivais preparados com muita dedicação. O culto a Narciso desenvolveu-se extraordinariamente e Talzinho chegou a ser confundido pelo povo a essa entidade. No último período eleitoral Talzinho não foi candidato, mas elegeu um grande amigo que o substituía adequadamente. Acontece que ele não se conformava e passou a interferir abertamente na administração desse amigo. Não havia atritos, mas o substituto muitas vezes se queixava a pessoas gradas da cidade, como o padre, o tabelião e mais alguns outros da interferência de Talzinho nos negócios municipais. Eram verdadeiros negócios e o amigo prefeito estava empregando os mesmos métodos que seu patrono. Talzinho planejava uma grande ação e desenvolveu todos seus esforços para nomear um de seus cunhados ao cargo de Conselheiro do Tribunal com atribuições que seriam de grande valia para os planos que ele ainda tinha para a cidade. Todo mundo na cidade estava começando a enjoar dessas atitudes de Talzinho. Foi aí que um grupo de intelectuais se reuniu e decidiu criar um jornal mural que deveria opor-se aos atos mais flagrantemente irregulares de Talzinho. Foi no dia da festa do padroeiro da cidade que o jornal foi lançado e a manchete principal, desenhada no “Studio A1”, – da vizinha cidade de Itacirica – e especializado em artes gráficas dizia: “DESENCARNA TALZINHO”. A repercussão desse lançamento não correspondeu em absoluto ao que os responsáveis pelo grupo almejavam. 

Foi assim que Talzinho continuou a reinar na cidade por mais muitos e muitos anos.

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