Saturday, December 17, 2011

BELINHA DE GRANDEZA DO PRÍNCIPE



Dona Inácia já tinha pra mais de setenta anos e era casada desde quase menina com Seu Bené, lá da Pedra. Ele era um pouco mais novo do que sua mulher e era muito interessado nas meninas que rondavam sua casa e sua cozinha. Elas eram empregadas como cozinheiras, ou ajudavam Dona Inácia em outros diferentes serviços caseiros, como nas costuras e bordados. O velho, se a gente pode chamá-lo assim, trabalhava na roça de sol a sol e plantava arroz, feijão e alguma cana, esta vendida na safra para o Compadre Inaço da Passagem. Este compadre fazia a melhor cachaça de todo o Pé da Serra. Sempre que podia Seu Bené tirava um domingo para ir ter na Passagem para um dedo de prosa puxada por uma ou mais caninhas que não eram seu único vício, ele também gostava de um rapé bem pisado no couro. (...)



Nessas conversas os dois amigos falavam de tudo o que podiam na ausência das respectivas patroas que ficavam em casa que é onde mulher tem de ficar. Essas reuniões duravam até tarde da noite quando Seu Bené voltava caminhando por entre as carnaubeiras, falando com elas, até seu sítio para encontrar Dona Inácia ainda acordada esperando por ele. Sempre ela reclamava que ele chegava tarde e cheirando a cheiros diferentes além do budum da cachaça e do cheiro de rapé. O Chicão, um agregado da casa deles, ficava em casa tomando conta de Dona Inácia enquanto Seu Bené visitava o amigo. Era ele quem tomava conta das criações e fazia dezenas de outros serviços. E também pisava o fumo para Seu Bené.

Uma moreninha de seus dezoito anos em flor, a Belinha, morava com eles desde que sua mãe, que vivia em Grandeza do Príncipe, a deixara com Dona Inácia. Isso foi para ela “tomar jeito”, pois era muito namoradeira e estava aprontando muito não somente com os moços da vila e rapazes que vinham de fora pra trabalhar nas obras fictícias da PMGP, mas com gente mais perigosa, segundo ela. Sua mãe tinha medo que sua filha pegasse um bucho o que seria uma grande vergonha e um enorme transtorno. A menina tinha um problema que todo mundo na vila sabia, inclusive sua mãe, que era o de dar muita trela a marmanjos bem mais velhos que ela. Ela gostava de se encontrar nas esquinas que davam para a Praça da Matriz, debaixo de uns fícus, onde era bem escuro, com um camarada uns trinta anos mais velho que ela, casado, pai de cinco filhos, mas meio arranjado, pois era um desses funcionários da PMGP que mexiam com dinheiro. Quando seus pais souberam disso obrigaram a menina a deixar o vicio e a proibiram de sair à noite. Não deu certo, pois Belinha logo arranjou outro namorado e este, um dono de cartório do lado situacionista, bem mais idoso do que o outro a pressionava para ir viver com ele que lhe prometia uma casinha no bairro de São Benedito. Foi ao saber dessa história que seus pais resolveram levá-la para a casa de Dona Inácia e Seu Bené, lá na Pedra.
Logo que chegou à fazenda a Belinha fez amizade com as meninas que trabalhavam lá, principalmente com aquelas que ajudavam Dona Inácia nas costuras. Até parece que elas sabiam de tudo o que se passara com a menina em Grandeza do Príncipe e, o que é melhor, aprovavam seu comportamento. Isso foi um grande passo para alimentar a menina com informações sobre os “rapazes” da Pedra e redondezas. O que é certo é que em pouco tempo Belinha já tinha suas preferências quando ia passear no vilarejo e nas fazendas vizinhas. Dona Inácia ficava de olho na menina, mas viu que a situação não saia de controle e a garota, de um modo geral se comportava direitinho. Mas o fato é que ela não tendo namorado se permitia olhar para todos. Pouco a pouco seu interesse por rapazes mais velhos foi voltando sem que ninguém desse por isso. O primeiro namorado, digamos assim, foi o Seu Raimundinho o dono da loja de celulares da Pedra que, por dever de ofício, conhecia todo mundo principalmente as menininhas que viviam trepadas em seus celulares. Ele tinha pra mais de trinta anos. Parece mesmo que a Belinha gostava era de homens mais velhos e trocou o dono da lojinha de celulares pelo Diomedes o construtor que havia ficado rico levantando muros e os derrubando para passar calçamento em obras da PMGP. Tudo isso chegava aos ouvidos de Dona Inácia e Seu Bené que não deixavam que os pais da menina, lá em Grandeza soubessem de nada. Se isso acontecesse seria um verdadeiro desastre, uma quebra de confiança entre eles.

Nessa época Seu Bené vivia muito alegre e passou a demorar mais em casa, em alguns domingos ele até deixava de ir ter com seu amigo Inaço para a prosa normal e a cachacinha amiga. Mas logo no domingo seguinte ele ia. Dona Inácia começou a achar esquisito o comportamento do marido, mas como ele sempre voltava a fazer suas visitas ela não deu muita importância. O caso é que Seu Bené era impetuoso e passou a ficar inquieto em casa onde demorava mais do que o costume deixando a roça aos cuidados do Chicão. Este, que remexia e observava tudo começou a desconfiar de alguma coisa estava acontecendo na casa. Não falou nada pra Dona Inácia, pois isso eram assuntos de gente grande e ele não queria se meter. Mas o fato é que as empregadas e as meninas começaram a observar que Seu Bené soltava suspiros quando encontrava com Belinha e isso começou a alvoroçar todas elas. Certo dia ele diz para a mulher que tem de ir até a Grandeza falar com o Homem uns negócios importantes. Dona Inácia nada diz e concorda com a viagem do marido.

Chegando a Grandeza do Príncipe que todo mundo sabe é uma vila antiga e muito mal cuidada ele foi logo procurar o Homem. Este era o chefão de todos os chefões e dizia resolver todos os problemas de seus amigos e correligionários em troca de votos nas próximas eleições. Ele pretendia eleger seu filho, uma total nulidade em todos os pontos de vista desde línguas, até a administração passando por leitura e aritmética, para a Câmara. Conversa vai, conversa vem, Seu Bené conseguiu explicar o motivo de sua visita. Ele queria que o Homem conseguisse colocar sua amiguinha Belinha como professora na escola da Pedra. O Homem mandou chamar a Secretária da Educação e deu-lhe ordem para matricular a menina no rol das professoras recibadas. Ela receberia metade do salário e teria de começar a dar aulas imediatamente. Mesmo sem sabem ler nem escrever direito. Seu Bené agradeceu e prometeu que todos os votos de sua casa engrossariam a votação do filho do Homem. Resolvida essa parte de sua missão em Grandeza do Prínicipe ele se encaminhou para a Praça do Mercado em busca de uma loja de perfumes a fim de comprar uma loção bem cheirosa para Belinha. Logo encontro a loja “Butique do amor”, de Luciane, que vendia produtos de fama nacional e comprou, por sugestão dela, um frasco de extrato “Bouquet do amor”, um dos melhores que havia, segundo a moça. Custou uma nota, mas ele tinha levado dinheiro da venda de uma partida de cana e podia gastar em um presente que certamente agradaria a menina. Depois disso tudo ele ainda quis passar em frente à casa de Belinha para ver se via seu pai, o funcionário da PMGP. O que faria, nem ele mesmo sabia. Enfim, desistiu e tomou o rumo da Pedra já tarde, com o sol baixo.

Quando chegou em casa ele notou que alguma coisa havia acontecido, pois Dona Inácia nem lhe respondeu às boas noites que deu. E, como não havia trazido nada para ela e nem tinha o que contar sobre a visita tudo ficou por isso mesmo. Não se falaram por uns dois dias. Seu Bené, mais que antes, aproveitou as oportunidades de olhar para Belinha, chegando a trocar algumas palavras com ela, mesmo porque tinha de lhe dar noticia do emprego que ele havia conseguido com o Homem. Pela boquinha da noite Seu Bené conseguiu entregar, às escondidas, o frasco de perfume que tinha comprado para a menina. Ela não se conteve de contentamento e deu um gritinho ouvido na sala por Dona Inácia que, imediatamente, perguntou o que estava acontecendo e de que a menina estava se queixando. Ela já andava meio desconfiada de que seu marido estava aprontando alguma coisa e que Belinha estava no meio de tudo.

Quando foi no domingo Seu Bené foi até a Passagem retomar as visitas costumeiras regadas a uma cachacinha da boa. Nessa noite, ele, de tão apaixonado que estava bate com a língua nos dentes e conta para o Compadre Inaço o seu interesse e envolvimento com a Belinha. Este não diz nada, pois fica com inveja do Seu Bené. Inveja de ter coragem de enfrentar duas onças: Dona Inácia e a própria Belinha. Após muita conversa sobre esse assunto e umas muitas cachacinhas a mais Seu Bené resolve ir embora. Ele vai pelo caminho, saltitante e sempre gritando bem alto para tudo que é carnaubeira: - Carnaubeira querida tu sabe quem é a mais bela das belas? É a Belinha e eu vou me casar com ela... Ele já estava perto de casa e de um bom descanso na sua rede do alpendre quando ouve um barulho de galhos quebrados vindo dos matos. Ele estaca e puxa sua peixeira e fica aguardando. Logo aparece um camarada alto e forte com o chapéu de palha cobrindo os olhos e dá-lhe um trompaço que o derruba e faz com que solte a peixeira. O caboclo alto e forte o imobiliza, abre suas pernas e corta sua calça. Seu Bené aos gritos logo advinha o fim disso tudo. Pois é, o camarada pega de sua faca amolada e corta a estrovenga de Seu Bené e a põe em um saquinho de couro e sai correndo deixando o velho desamparado e se esvaindo em sangue. Não se sabe como ele chegou até em casa e foi logo atendido por Dona Inácia que mostrava uma cara de poucos amigos.

Dona Inácia pede ajuda a Belinha e as duas põem Seu Bené na rede armada no alpendre. A esposa dá-lhe uma boa dose de cachaça, daquela mesma que ele estava acostumado a tomar e ainda fazia girar sua cabeça. Belinha apanha uns panos e as duas se preparam para estancar o sangue que jorra da ferida que indica um grave acidente. O que é certo é que Seu Bené dormiu nessa noite e daí uns dias com auxílio de ervas e das rezas de Dona Benedita o sangue estanca e ele começa a se curar, isto é, a ferida começa a sarar. No entremeio o Chicão havia chegado a casa com o saquinho de couro e o apresenta a Dona Inácia que agradece e o premia com alguns contos de reis. Não satisfeita ela diz para o caboclo que pendure o saquinho no armador da rede de Seu Bené e fique vigiando até o material secar bem. Ela também ordena que quando o material estiver bem sequinho Chicão faça um rapé especial com ele para Seu Bené. Este rapé deveria ter metade do material e metade de fumo da Bahia. E ninguém mais, além do velho, poderia sequer experimentar dele.

Com os cuidados das duas mulheres Seu Bené logo sara passando a andar sem que se notasse falta de coisa alguma entre suas pernas. Apesar do segredo guardado por todos os envolvidos logo todas as fazendas da Pedra, da Passagem e das redondezas, bem como em Grandeza do Príncipe sabia do que havia acontecido. Todos têm pena de Seu Bené, mas dizem que isso foi um castigo, pois ele era mesmo incorrigível, deixando sua mulher de longos anos para procurar menininhas para fazer não se sabe o quê. Certo dia o Chicão chegou e passou ao velho, agora inválido, o saquinho com o rapé especial feito seguindo as ordens de Dona Inácia. Seu Bené passou a usar o rapé como os antigos também preparados pelo Chicão: umas quatro vezes por ou sempre que tivesse vontade. Como ele não saia mais de casa teve que tomar suas cachacinhas no alpendre mesmo e sozinho. Um dia ou outro era o Compadre Inaço que vinha agora visitá-lo e, para sua satisfação, o Homem, o chefão de Grandeza do Príncipe às vezes aparecia para comer um capote que Dona Inácia e as meninas sabiam preparar muito. Belinha foi mandada de volta para a casa de seus pais e foi o Homem que a levou em um fim de tarde de um domingo demorado. Seu Bené só fez olhar para a menina e esta, nem se prestou para retribuir.

Passaram-se alguns meses depois do fato e uns dois que Seu Bené passou a usar o novo rapé quando ele começou a sentir umas coisas esquisitas. Ele começou a sentir umas vontades, principalmente quando uma das meninas mais novas chegava por perto para assuntar. Essas vontades foram se tornando fortes e acompanhadas de um crescimento de suas partes lá dele. Das partes cortadas pelo caboclo do chapéu grande naquela noite quando ele vinha da visita ao Compadre Inaço lá da Passagem. Seu Bené passou a perseguir as empregadas em casa, às escondidas de Dona Inácia. Ele guardou segredo daquele crescimento até que seu membro ficou bem maior do que era antes e ele passou a ter vontades há quase toda hora. Ele achou que era um milagre ou coisa que o valha, mas ficou calado para ver no que ia dar. O que é certo é que ele resolveu viajar até Grandeza do Príncipe para se aconselhar com o Homem. Todo mundo dizia que ele era muito entendido nessas histórias. Ele teve de mostrar seus novos apetrechos para o doutor que cuidava do Homem e esse ficou alarmado com o que viu. Ele disse ao Seu Bené que estava tudo normal com ele e parece mesmo que um milagre havia ocorrido. Até parecia que ele estava comendo ou tomando alguma coisa que fazia esse crescimento lá nele. Ele devia era aproveitar, mas também tomar cuidado para que ninguém lhe fizesse um novo serviço.



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