Saturday, October 01, 2011

JUSTINO O HIPOCONDRÍACO

Justino era um senhor idoso, talvez de uns sessenta anos e um hipocondríaco de carteirinha. Todos na cidade sabiam que ele se preocupava com tudo que lhe poderia acontecer, principalmente doenças como reumatismo, gota, erisipela, câncer, defluxo e tudo mais. Ele vivia no consultório do Dr. Viegas a procura de ajuda, mas nunca se sentia satisfeito com as respostas, conselhos e remédios que o médico lhe prescrevia. Manias de tudo ele tinha muitas. Ele vivia imaginando o que aconteceria se isso ou aquilo lhe sucedesse. Se ficasse doente, se fosse à capital, se sua filha mocinha fosse reprovada no colégio, se a empregada colocasse muito sal na comida... Não se preocupava com o que poderia lhe acontecer hoje, agora, mas somente no futuro mais remoto.

Após chegar de uma viagem ao interior, tomando um banho frio, Justino pensava que em alguma dessas sortidas aconteceria algo e ele iria dessa pra melhor. Era sempre assim com ele. Certa manhã acordou e tomou um café simples, quase amargo, como era seu costume. Saiu de casa, sem falar com ninguém e nunca mais foi visto. Após três dias sua mulher foi até o Palácio dos Leões pedir ao Homem para encontrar seu marido. O Homem disse-lhe que faria isso e muito mais se ela prometesse dar-lhe alguma coisa. A pobre da mulher foi logo pensando mal do Homem, mas o que ele queria era simplesmente que ela e toda sua família votassem nele nas próximas eleições. A mulher falou que agora isso seria difícil, pois seu esposo havia desaparecido e ela não podia contar com seu voto. O Homem prometeu qualquer coisa, mas o tempo passou e nada aconteceu.

Justino desapareceu sem deixar notícia alguma. Para ele certamente os problemas do amanhã eram simples de resolver, difícil mesmo eram os de depois de amanhã.

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