GRANDEZA DO PRÍNCIPE 1

A VOLTA DE SEU JOÃO A GRANDEZA DO PRÍNCIPE

Seu João tinha deixado sua cidade natal há muitos anos para se aventurar em São Paulo. Ele resolveu, já com mais de setenta anos, voltar a Grandeza do Príncipe onde seus pais tiveram negócios que nunca deram para sustentar os sete filhos. Em São Paulo ele estudou e tornou-se um mecânico de mão cheia. Ganhou algum dinheiro e constituiu família. Quando deu a doida resolveu visitar alguns parentes que haviam permanecido em Grandeza.

Esse Príncipe no nome da cidade veio do grande Príncipe Dom Pedro que, na ocasião da escolha do nome da cidade reinava no País. Grandeza do Príncipe, mais conhecida somente por Grandeza, é um pequeno município espremido entre o Mar e a Serra. Entre seus 50 mil habitantes há cerca de 20 mil que não sabem ler ou escrever, mas não estão nem aí, pois também os Senhores Prefeito e Vereadores não sabem. Se soubessem leriam o que se escreve sobre sua cidade nas páginas dos jornais da Capital ficariam envergonhados. Pode-se concluir que, o fato de ser analfabeto pode significar alguma coisa boa como não se envergonhar. Ou, mais corretamente, estar fora do mundo.

Ao passar em frente ao prédio da Prefeitura Municipal Seu João notou a pintura que indicava ser esse o local onde se decidiam os grandes assuntos da cidade e viu que estava em desacordo com o que ele sabia. As iniciais estavam pintadas, mas faltava o “P” de Príncipe, pois a cidade se chamava Grandeza do Príncipe e não só Grandeza como parecia estar indicado na parede branca como goma.

A Prefeitura Municipal de Grandeza tem muitos funcionários, aí por volta de dois mil. A maioria deles foi nomeada ao longo dos últimos trinta anos e presta serviços aos oligarcas que sempre dominaram o município. Boa parte desses servidores recebe, todo começo de mês, metade do estipulado em folha e repassa metade para um dos encarregados do caixa doméstico. Alguns felizardos, sempre fiéis acompanhantes dos mandantes da ocasião, recebem um bom ordenado alem de outras benesses, tais como mensalidades em colégios e faculdades para seus filhos; estes darão continuidade ao processo de degradação do município.

Grandeza foi criada nos tempos da Colônia e sua riqueza, pois era rica, derivou, a princípio, da criação de gado que era abatido e a carne exportada para centros consumidores do sul. Após o apogeu do comércio de carnes chegou-se à exploração da carnaubeira; a cera tirada de suas palhas e vendida para o sul do País e, principalmente, para o exterior, fez a riqueza de muitos dos agora reconhecidos coronéis.

Seu João percebeu, em seu passeio pela cidade que teria muito que contar a sua família ao voltar para São Paulo. Ele resolveu escrever notas sobre sua viagem para não se esquecer de nada.