Friday, December 03, 2010

A VIDA AVENTUROSA DE TROFIM VASEC EM DIVERSOS CAPÍTULOS – 20


TALZINHO E O NAMORO DO ZÉ PRETO

Trofim Vasec andava muito desconfiado. Ele tinha quase certeza do namoro de seu amigo Zé Preto com uma das filhas, a mais bonita, do Senhor Cristóvão. Ele não tinha nada assim a ver com o namoro dos dois, mas como gostava muito do amigo ele se preocupava com o andar do caso. O eslavo gostaria de conversar com o amigo, pois como este era casado e tinha muitos filhos, ele ficava imaginando que Dona Candinha sofreria muito se o namoro fosse descoberto. Essa preocupação e essas razões eram o que aparecia para os amigos de Trofim que também desconfiavam. O Zé Preto não estava nem aí. Podia ser descoberto ou não, o fato é que ele estava apaixonado pela menina e, nada importava como sabemos para quem está apaixonado. (...)



O Zé Preto gostava de viver na corda bamba, pois ele sempre estava falando, discursando em solenidades e festas da Igreja e soltava indiretas ao afirmar que tinha um caráter apaixonado e gostava de apreciar o belo e por ai vai. Dona Candinha ouvia essas falas do marido e ficava desconfiada, mas nunca chegou a descobrir coisa alguma. Só o amigo Trofim e uns poucos mais da roda de cerveja e do bilhar do Seu Tiago é que faziam a ligação entre o Zé Preto e a filha mais bonita do Senhor Cristóvão. Mas, como tudo tem um fim o falatório começou e o Zé Preto ficou encalacrado. O pior de tudo é que, por mais que não se quisesse, interesses políticos foram envolvidos. O namorado e apaixonado Zé Preto tinha um ótimo emprego na Coletoria arranjado pelo Coronel Melo com o Governador do Estado. Era evidente que era um emprego político, pois a qualquer hora o Coronel poderia pedir ao Governador que demitisse seu indicado e, certamente, colocasse outro no lugar. Sendo assim o emprego do Zé dependia de seu comportamento segundo a observação de seu padrinho político.

Era sabido e notório que os apaixonados se encontravam na Igreja, por trás da imagem do Santo Padroeiro. Eles tinham dia certo para os encontros e Trofim era um dos que sabiam qual era dia; se quisesse encontrá-los juntos era ir, pelas nove horas da noite à Igreja e subir até o altar mor e procurar atrás do Santo – lá estariam os dois em colóquio amoroso. Foi lá no alto, bem aos pés do Santo que Trofim descobriu que Talzinho estava metido nesse negócio. Ele não sabe como, mas o danado do Talzinho, ou melhor, sua imagem ou o que estava restando dela, apareceu atrás da imagem do Santo Padroeiro; ficou logo evidente a Trofim que Talzinho estava confabulando com Zé Preto a respeito de algum assunto sério, pelo menos para os dois. Após ele ter descoberto que os dois estavam conversando Trofim resolveu descer e esperar pelo Zé embaixo a fim de esclarecerem os fatos.

Quando o Zé Preto desceu e encontrou-se com Trofim não foi muito difícil para o eslavo descobrir o que tinha levado Talzinho a conversar com o apaixonado. Disse-lhe Zé Preto que Talzinho o tinha ameaçado de contar toda a história de sua paixão a Dona Candinha se ele não deixasse seu emprego na Coletoria e o passasse para seu sobrinho Ramon, o mais novo representante de seu clã. Só restava saber se este jovem aceitaria a negociação, pois o que ele queria mesmo era ser Coronel da Guarda Nacional. Trofim não gostou muito dessa história contada por Talzinho, pois no íntimo ele queria é que o boneco de madeira encostasse as chuteiras e deixa-se de assombrar as moças da cidade, principalmente Lídia a filha encostada de Seu Lalo.


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