Wednesday, December 19, 2012

DEUSILANE GOSTA DE PIPOCAS – HISTORINHAS DAS QUARTAS

 

Deusilane era uma senhora de quase cinqüenta anos e se empregava como doméstica e mesmo babá. Ela fora casada com um moço bem jovem de Imbotirama, mas o deixou quando o viu namorando uma menininha de dezessete anos. (...)

  Deusilane era esperta, trabalhadora, e ainda tinha sonhos de encontrar um novo companheiro. Ia sempre a festas, baladas e forrós nos fins de semana com amigas que trabalhavam no mesmo prédio que ela, mas até agora não tinha conseguido laçar ninguém que servisse. Ela estava atualmente trabalhando na casa de um coroa já bem velho, solteiro e cheio da grana. Essa última parte a Deusilane desconfiava, pois ainda não tinha visto a conta bancária de Seu Zé. O coroa tinha trabalhado na Coelce e depois se transferiu para a Itaipu Binacional onde inflou sua conta e seus investimentos fazendo negócios com empreiteiros. Quando resolveu voltar para a terrinha comprou um apartamento no Cocó, à vista, e quando se mudou todo mundo, empregadas, porteiros e todo o pessoal que fazia serviços no prédio – o Barão de Terre Neuf – sabia de seu estado civil e de suas posses. Logo que ele anunciou para a gerente do condomínio que estava procurando uma empregada que dormisse no emprego apareceram pelo menos umas três. Havia uma, imensa de gorda, que morava lá pelos lados de Guaramiranga, sabia cozinhar muito bem, mas não deu certo com ele, pois exigia folga toda semana e começando às sextas-feiras. Ele experimentou outra, essa menos gorda, a Margarida que se fazia acompanhar da filhinha de cinco anos que lhe enchia o saco; passava os dias brincando de boneca, mas o problema é que ela interagia com as bonecas como se fossem outras crianças: diálogos, cantorias, gritos. A magrinha não deu certo também. A última tentativa foi a Deusilane que havia sido empregada no apartamento de uma dentista paulista que a mandou embora por motivos desconhecidos. O coroa admitiu a Deusilane sem que ela apresentasse referências, só pela simpatia da cinquentona. Ela era forte, bem feita de corpo e se cuidava, pois fazia caminhadas diárias, isso antes de por o jantar de Seu Zé. Cuidava da roupa do velho com carinho de uma esposa e fazia cada prato especial para ele que era de dar água na boca. Essa era a razão pela qual Seu Jorge sempre recebia amigos para jantares que eram muito elogiados. A Deusilane agradecia a parte que lhe tocava e os dois iam vivendo uma vidinha pacata. Não demorou muito e Seu Zé começou a notar que Deusilane lhe lançava olhares lânguidos e passou a fazer mais rapapés para ele. Infelizmente para ela o velho não apresentou nenhuma reação a essas investidas e a Deusilane dedicou-se, além das baladas e festas, às novelas e filmes da televisão aberta. Sempre que ele chegava notava que ela tinha acabado de desligar o aparelho. Foi numa noite quente que Seu Zé flagrou a Deusilane em seu pecado. Quando ele abriu a porta viu que ela estava sentada na sua poltrona preferida, usando um short curtíssimo que mais mostrava do que escondia, com os pés para cima apoiados na outra poltrona do conjunto e com um saco de pipocas no colo, já pela metade. Quando ele lhe dirigiu o olhar ela não se perturbou e lhe disse: - Meu amor você quer assistir o filme comigo? Tem pipocas também, daquelas que você gosta. Seu Zé ficou olhando para ela e disse: - Espera aí que eu vou trocar de roupa. A partir desse dia a Deusilane passou a usar o elevador social.

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