Sunday, September 11, 2011

GRANDEZA DO PRÍNCIPE 2

PRIMEIRO PASSEIO DE SEU JOÃO PELAS RUAS DE GRANDEZA DO PRÍNCIPE

Seu João tinha um conhecido na PMGP, - esta é a sigla da Prefeitura Municipal de Grandeza do Príncipe. Ele era filho de um amigo dos tempos de menino na cidade, mas tinham perdido contato. Raimundinho não tinha muito estudo, mas contrariando a regra não tinha uma boa posição na Prefeitura. Ele era um simples servente. Nessa posição ele se dava ao luxo de observar o que se passava em volta e guardar tudo para ele e sua mulher a Margarida, essa ainda aparentada de Seu João. Eles até ofereceram hospedagem ao amigo quando chegou à cidade, mas ele recusou delicadamente e hospedou-se na Casa Branca que é um bom hotel no centro comercial antigo.

Era o primeiro fim de semana de Seu João na cidade e Raimundinho convidou o amigo para passear sem rumo, a fim de trazer memórias antigas ao pensamento e às conversas.

– O que foi feito da casa do Padre Ronaldo?

– Depois de ser a morada do velho padre o casarão foi sede da PMGP.

– E agora é isso aí? Um baita de um shopping? Ninguém reclamou dessa transformação?

- Não, o povo daqui é aquietado...

Mais adiante eles encontraram uma enorme cratera onde antes existia uma tamarineira centenária, talvez plantada pelos primeiros habitantes portugueses do lugar. O buraco era um depósito de lixo que de tão profundo não permitia que os porcos que o rondavam se alimentassem dos restos – de tudo – que o povo jogava lá dentro. Seu João não se conteve e perguntou:

- Não era aqui aquela tamarineira? Dava sombra pro pessoal que esperava a abertura da loja do Seu Fernando, o banqueiro, já no meu tempo.

- Pois é! O Gerente, pois a PMGP tem um gerente que decide o que fazer de obras na cidade, ou o que não fazer, ele disse que tinham de comprar uma árvore igualzinha a que tinha e dessas só na Índia é que existia. Daí, depois de muitos anos, ainda estão esperando a chegada do pé de pau. Parece que custou uma grana preta.

A rua principal traz o nome de um herói local, de quem o povo da cidade desconhece os feitos, é longa e quase no seu fim fica um prédio velho já caindo aos pedaços. Parece que é um hospital que se pretendia fazer e que não deu certo. Talvez tenha faltado verba, ninguém sabe dizer nada. O Raimundinho diz que já perguntou até ao Padre da Matriz e ele não soube dizer nada de nada. Os dois amigos seguiram em frente e, numa pracinha até grande, eles se depararam com o esqueleto, quase a mostra, da estação do trem. Parece que lá paravam os trens que iam para a capital. Agora é uma morada para gente que nem Bolsa Família tem que dirá um teto, mesmo de taipa, para morar. As más-línguas dizem que o Patrimônio Histórico Nacional vai tombar o prédio. Só se for empurrar para um lado para ele cair e os sabidos construírem mais um prédio comercial. Seu João não acredita nessas maledicências que o Raimundinho vai contando para ele ao longo do caminho.

1 comment:

Granja Net Notícia said...

Parece c'uma cidadizinha do norte do Ceará!