
LÍVIO BARRETO, o “Lucas Bizarro” da Padaria Espiritual, nasceu em 1870 e faleceu em 1895. “Dolentes”, publicado póstumamente foi seu único livro. Aqui apresento seu poema “Sombra e luar” publicado nesse livro.
SOMBRA E LUAR
Ai, Santa! Quantos pesares!
Ai, anjo, quanta amargura!
(E a sombra baila nos ares,
E a lua cisma na altura.)
Se te amo?! Pergunta à lua,
Pergunta à noite que desce!
(E o luar no céu flutua,
E a somba desaparece.)
Se sofro?! Interroga o mar
D´água, que os olhos me ensombra!
(E a sombra cobre o luar,
E o luar chora na sombra.)
Vês? O vento arranca a flor,
Desfolha-a... A mágoa é o vento...
(E o luar é o resplendor
Do Deus Menino ao relento.)
Crês? Eu creio. À noite sonha
Minh´alma com o teu olhar...
(Já não há sombra que ponha
Prantos na face do luar.)
Minh´alma abraça-se à tua...
É a onda abraçando a espuma!
(Os anjos bailam na lua
E a sombra chora na bruma.)
Cismas? Camélia gelada,
Tua fronte empalidece...
(À lua – a hóstia sagrada –
Eleva a sombra uma prece.)
Amas? Vê: meu coração
Procura um seio.. tem pena!
(Semelha o luar na amplidão
O cálix de uma açucena...)
Mas, tu não falas, senhora!
Se tu amasses... talvez!
(Em minh´alma brilha a aurora
Nas chagas que a dor lhe fez!)
E o meu amor vive e chora
Por ti! Que importa? Não vês!
(Pelo frio azul afora
Vai o luar, que palidez!)
Sombra e luar vão-se embora
Só fica a tua mudez!
- Granja – Junho – 94
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