
LÍVIO BARRETO, o “Lucas Bizarro” da Padaria Espiritual, nasceu em 1870 e faleceu em 1895, tendo deixado uma única obra, “Dolentes” (póstuma). Aqui apresento seu poema A***, publicado nesse livro.
A***
I
Não te apavores tu, não te atormentes,
Ó minha doce e virginal senhora,
As rajadas coléricas, frementes,
Que me envolvem de dia e de hora em hora.
Como o mergulhador que sobe à tona
Sacudindo a ensopada cabeleira,
E as vagas corta procurando a beira,
E clamo, sobre as água se abandona:
Eu vou sereno contemplando o vulto
De um ideal que me sorri na mente...
Ódios? Não vejo, e rio-me do insulto,
Rio de todos, e amo a ti sòmente.
Sei que separa o vírus da calúnia
Muitas almas e muitos corações,
Mas a inveja banal desses vilões
O meu desprezo simplesmente pune-a.
II
Longe, no vasto mar, ermo, infinito,
A vela rasga-se ao bater do vento,
E o marinheiro audaz não solta um grito
Sobre as ondas do líquido elemento.
Pois se o navio voga e não deriva
Do rumo, e aproa aonde há de chegar
Não teme o mar, e aos ventos não se esquiva:
Que importa os ventos e que importa o mar?
Bem como o marinheiro, eu não descoro
Ao rugir da calúnia, bronco e fundo:
Que me importa esta gente, se eu te adoro?
Se tu me amas, que me importa o mundo?
- 1893 -
A***
I
Não te apavores tu, não te atormentes,
Ó minha doce e virginal senhora,
As rajadas coléricas, frementes,
Que me envolvem de dia e de hora em hora.
Como o mergulhador que sobe à tona
Sacudindo a ensopada cabeleira,
E as vagas corta procurando a beira,
E clamo, sobre as água se abandona:
Eu vou sereno contemplando o vulto
De um ideal que me sorri na mente...
Ódios? Não vejo, e rio-me do insulto,
Rio de todos, e amo a ti sòmente.
Sei que separa o vírus da calúnia
Muitas almas e muitos corações,
Mas a inveja banal desses vilões
O meu desprezo simplesmente pune-a.
II
Longe, no vasto mar, ermo, infinito,
A vela rasga-se ao bater do vento,
E o marinheiro audaz não solta um grito
Sobre as ondas do líquido elemento.
Pois se o navio voga e não deriva
Do rumo, e aproa aonde há de chegar
Não teme o mar, e aos ventos não se esquiva:
Que importa os ventos e que importa o mar?
Bem como o marinheiro, eu não descoro
Ao rugir da calúnia, bronco e fundo:
Que me importa esta gente, se eu te adoro?
Se tu me amas, que me importa o mundo?
- 1893 -
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