
Mostramos mais um poema de LÍVIO BARRETO o poeta dos “Dolentes”, seu único livro publicado postumamente.
INVERNO
A Lopes Filho
Chega o inverno ríspido;
O inverno chega, frio:
Já pelo ambiente gélido
A névoa fio a fio
Desce.
O rio, cavo,
Murmura, ameaça,
Cresce
Cresce, transborda e passa.
Aves com frio,
Ninhos molhados...
Do rio
As lavandeiras brados
Soltam com frio.
É o inverno: chega,
Das nuvens desce;
Ruge, estortega,
E o riso cresce,
E as aves choram...
De luto as pedras
Vestem-se, e oram.
As rolas fogem:
Quem sabe aonde
Elas irão?
Se a névoa esconde
Os horizontes
Prados e montes
Acharão?
Pelas campinas,
Pelos oiteiros,
Só nevoeiros,
Frio e neblinas.
Pela cidade
Tristeza só!
Vestem-se os muros
Pardos, escuros,
De limo e pó.
Do campanário
Na flecha esguia,
As andorinhas
À luz do dia
Não pousam mais.
E o grito terno
Delas no inverno
Não se ouve mais!
E eu? Olha, pensa
Ó meu amor!
Sem fé, sem crença,
Na noite imensa,
Fria, que horror!
Sei que não voltas
Ao coração...
Não voltas, não!
E as ondas frias
Do bravo mar
Da minha vida,
Com o teu olhar
Só tu podias
Fazer parar!
Noites, que noites!
Estas que passo
Chorando, a orar!
Sem um afago,
Pois na minh’ alma
É vago, vago
O teu lugar!
Dezembro – 93 -
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