
Este poema de Lívio Barreto, de acordo com Sânzio de Azevedo, é o que mais ressalta o seu Simbolismo.
POEMAS NOTURNOS
Vai tarde a noite. Todo o azul cintila
Como uma azul, nostálgica pupila.
Vão as estrelas como virgens louras
No terraço do céu passeando e rindo,
As amplidões profundas, sonhadoras,
As longas tranças d´oiro sacudindo.
E com a paz magnânima de um crente
Reza o Silêncio taciturnamente.
Para as bandas do sul as nuvens correm
Como blocos de gelo sobre o mar;
Brancas, tão tênues que de tênues morrem;
Cansa-se a vista para as alcançar.
Gemem do vento as quérulas surdinas
No órgão melancólico das ruínas.
Uma estrela destaca-se, brilhando
Mais do que as outras, luminosa e bela;
E eu fico ansioso e trêmulo cismando
Ó minha amada, se é a tua estrela.
Pálida, corta a Estrada de Santiago
O céu profundo, acinzentado e vago.
Tudo o que eu vejo em cima é triste e doce,
Misteriosamente concentrado,
Como se acaso tudo em cima fosse
Como o meu peito pela dor trancado.
Na imensa aquosa solidão dos mares,
Quantos nautas cismando nos seus lares!
Esses têm lares e eu não tenho, olha,
E também vou sobre este mar, querida,
E o malmequer que, pálida, desfolha
A tua mão é mais do que eu com vida!
Do azul longínquo vai a lua em meio,
Monja da noite de rosário ao seio.
Vai longe a noite; quem me dera o dia!
Estou cansado desta solidão...
Ó sol, acaba esta melancolia
Que a lua deixa no meu coração.
- Fevereiro 94 -
POEMAS NOTURNOS
Vai tarde a noite. Todo o azul cintila
Como uma azul, nostálgica pupila.
Vão as estrelas como virgens louras
No terraço do céu passeando e rindo,
As amplidões profundas, sonhadoras,
As longas tranças d´oiro sacudindo.
E com a paz magnânima de um crente
Reza o Silêncio taciturnamente.
Para as bandas do sul as nuvens correm
Como blocos de gelo sobre o mar;
Brancas, tão tênues que de tênues morrem;
Cansa-se a vista para as alcançar.
Gemem do vento as quérulas surdinas
No órgão melancólico das ruínas.
Uma estrela destaca-se, brilhando
Mais do que as outras, luminosa e bela;
E eu fico ansioso e trêmulo cismando
Ó minha amada, se é a tua estrela.
Pálida, corta a Estrada de Santiago
O céu profundo, acinzentado e vago.
Tudo o que eu vejo em cima é triste e doce,
Misteriosamente concentrado,
Como se acaso tudo em cima fosse
Como o meu peito pela dor trancado.
Na imensa aquosa solidão dos mares,
Quantos nautas cismando nos seus lares!
Esses têm lares e eu não tenho, olha,
E também vou sobre este mar, querida,
E o malmequer que, pálida, desfolha
A tua mão é mais do que eu com vida!
Do azul longínquo vai a lua em meio,
Monja da noite de rosário ao seio.
Vai longe a noite; quem me dera o dia!
Estou cansado desta solidão...
Ó sol, acaba esta melancolia
Que a lua deixa no meu coração.
- Fevereiro 94 -
A gravura é "A lua" de Mucha.
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