O RELÓGIO DA MATRIZ BATEU SEIS HORAS - HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 410

 

TODOS SE APRESSARAM PARA CHEGAR À VENIDA antes que as meninas aparecessem. Os três amigos começaram a voltear o passeio conversando, por cima do som da radiadora que tocava Luiz Gonzaga e outros. Eles conversavam  sobre os assuntos preferidos: a festa do próximo sábado, quem dançaria primeiro com sua preferida; o banho quase diário na barragem, as caçadas aos canários nas matas da Santana e da Santa Rosa, entre muitos outros assuntos interessantes, como por exemplo, quem já tinha visto as pernas das meninas até em cima. Eles caminhavam em linha e tinham de desviar-se dos outros grupos que vinham ao contrário, formados em sua quase totalidade de meninas de sua idade. Em resumo: os meninos giravam em uma direção e os brotinhos - assim eram chamadas - na outra. Quando se cruzavam era um trocar de olhadelas e sorrisos que saíam chispas. Eles logo identificaram as três inseparáveis amigas, mutuamente interessadas neles. Elas tinham subido a calçada da Venida pelo lado do Cine Orion, ainda vazio. Após a terceira volta cada um se aproxima da sua mais apreciada e começam as conversas que só eles poderiam contar uns para os outros. E contavam e isso era motivo para discussões e brigas. O Zé gostava da Assumpta, o Ricardinho gostava da Raimundinha e o mais frangote, mas muito enxerido, o Arthur, gostava mesmo era da mais taludinha, a Ritinha. Esta era um estouro, como diziam. Todos queriam namorá-la embora todos já tivessem as suas. Mas eles apostavam que  a tomariam, nem que fosse a força, dos braços do Arthur. Quando bateram às nove horas, parecia uma história de Cinderela, as meninas avisavam que teriam de voltar para casa. Todos voltavam em pares e paravam em frente às casas de suas respectivas, à espera que as mães as chamassem. O que eles faziam, cada casal no portão de casa não interessava a ninguém. Há que corrigir isso, pois tinha gente desocupada que ficava xeretando, de longe, o agarramento dos meninos. Um desses era o filho do Sargento  Hermínio que morava nas redondezas e gostava de fuxicar.