O homem conhecia tudo sobre carros. Já naquela época
ele só gostava de carros importados; como os adquiria era segredo, não um
mistério que poucas pessoas soubessem. Quando o motor de seu carro começou a
ratear ele decidiu trocar o velho Ford 46 por um carrinho inglês novo, a
coqueluche dos ricaços de então. Hoje tudo é diferente, pois todo mundo agora
quer é uma Hylux ou uma Land Rover, tudo modelo especial. O homem, voltando a
ele e seu carro, conseguiu um financiamento camarada com o amigo da
concessionária e comprou um Morris Minor, inglês como o Príncipe Andrew e
passou a usá-lo sem dó nem piedade. Isto porque ele não se importava com
buracos ou crateras ou ruas de barro. O bichinho ultrapassava todos os
obstáculos. Conservação que é bom o mini carro não ganhava. Só raramente
recebia uma dosagem nova de óleo, além, é lógico da gasolina que o fazia
chispar pelas ruas da então pacata cidade. Certa vez um frentista de posto
sugeriu ao homem que mandasse lavar o carrinho, pois estava se tornando difícil
trocar o óleo dada a crosta de barro que se formara na parte inferior do
veículo. A muito custo, o homem concorda e dá autorização para a operação
lava-carro. Quando foi receber o automóvel e tentou pô-lo em funcionamento
verificou que o motor do carrinho, feito em oficinas de Sua Majestade
Britânica, não pegava. Puseram o carro no fosso e uma fila de mecânicos e
outros entendidos examinaram o bichinho. O diagnóstico final foi do próprio
proprietário. Ele chegou à conclusão que o barro que se acumulara durante meses
sob a carcaça do seu Minor protegia o motor e demais engrenagens e, quando foi
lavado, o carro passou a apresentar defeitos antes encobertos. Seguindo ordens os
mecânicos deram uma boa mão de barro desses de fazer panela e só foi deixar
secar para o carrinho voltar a funcionar. No seu ufanismo tupiniquim o
frentista disse:
- Esses ingleses não são de nada!
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