
OS CRAVOS BRANCOS
Este é um dos mais belos poemas de Lívio Barreto. Consta de quatro partes escritas em diferentes épocas e é oferecido ao amigo de sempre Waldemiro Cavalcanti. Mostramos hoje a primeira parte.
DEDICATÓRIA
Aquela a quem meu ser, ajoelhado, rende
O culto mais profundo, o amor mais ideal,
Essa estrela que na alma a inspiração me acende
Como o sol faz florir as violetas do val,
Estes versos dedico, este sonho ofereço,
Onde canta a esperança o seu canto risonho...
Em seus olhos de criança eu o pesar esqueço!
Foi Ela quem me deu o meu primeiro verso,
O meu primeiro amor, o meu primeiro sonho.
I
OS CRAVOS BRANCOS
Cravos brancos, cravos brancos como o leite,
Que as noivas levam para a Igreja ao ir casar,
Cravos da cor das escumilhas do corpete,
Brancos de espumas atiradas pelo mar.
Cravos brancos invejados pelos goivos,
Cravos brancos que de brancos dão vertigens;
Cravos que são como hálitos de noivos,
Beijos de noivos embaciando mãos de virgens!
Cravos brancos, cravos brancos, lágrimas d’anjo,
Cravos de Maio cor de leito de noivado;
Cravos do luar que sorri como um arcanjo
A meditar no seu castelo enamorado.
Ó cravos brancos! Brancas flores misteriosas,
Seios ireis agasalhar com vossas neves,
Seios macios como pétalas de rosas,
De carne rija, sangue quente e curvas breves.
Flores dormentes de volúpia e de desejos,
Sempre a sonhar presas aos seios das donzelas,
Amarrotadas pelo fogo de seus beijos
E sempre brancas, sempre puras, sempre belas!
Flores que noivas levam presas na caçoula
Das mãos de arminho, cravos brancos, para o altar,
Para, ao voltar com as faces da papoula,
Dá-los às virgens para logo irem casar.
Cravos brancos como as mãos da minha amada,
Quando eu descer à terra fria, num caixão,
Desabrochai, brancos soluços d’alvorada,
Ó cravos brancos que plantei no coração!
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